Um efeito curioso das redes sociais é sua capacidade de expor as
pessoas, suas intimidades ao máximo, e trazer uma preocupação para muitas
delas: que imagem transmito no universo virtual? Será que meu corpo, minha
face, minhas expressões causam boas impressões, geram likes? Será que
sou aceito tal como sou?
Esse efeito causado pela superexposição nas redes sociais e a
pressão cada vez maior para buscarmos a perfeição revelam dados curiosos, no
Brasil e no mundo todo.
O número de pessoas que passam por cirurgias ou procedimentos
estéticos, como realizar extensão de cílios, uso de lentes, mudanças nos
cabelos e outras possibilidades, tem aumentado muito, especialmente entre
jovens.
Paralelamente, temos o uso excessivo de filtros disponibilizados
nas redes sociais que quase transformam uma imagem real em uma totalmente
imaginária, a ponto de não reconhecermos os reais traços de uma pessoa quando a
encontramos pessoalmente. São filtros que afinam o rosto, removem os poros,
deixam os lábios e olhos mais evidentes, ocultam qualquer imperfeição, que
naturalmente todos possuem.
Quando a pessoa começa, intensamente, a buscar se parecer com essa
imagem “ideal”, isso nos remete a um quadro denominado, no campo da saúde
mental, Transtorno Dismórfico Corporal. É diagnosticado quando há um sofrimento
psíquico intenso nessa correção de "defeitos" e imperfeições, mesmo
que mínimas em seus corpos, e com isso, o indivíduo está a todo custo se
submetendo a modificações que, muitas vezes, quando feitas de forma inadequada,
por profissionais não capacitados ou com técnicas não comprovadas, podem levar
a quadros de reações graves, e até mesmo à morte.
Além disso, observam-se casos de comportamentos compulsivos,
sentimentos de baixa autoestima e, por vezes, isolamento social, todos advindos
dessa relação conflituosa com o próprio corpo. Estudos revelam que quem passa
por essa realidade, traz consigo um grande sofrimento emocional, e desenvolve
até mesmo processos depressivos ou de ataque à própria vida.
As propagandas em redes sociais e mídias televisivas, na maioria
das vezes, utilizam a imagem corporal perfeita, sem sinalizar que há uma
manipulação tecnológica intensa para parecer que existe um nariz perfeito, um
rosto harmonizado, curvas corporais precisas. Com isso, a psique humana
vai absorvendo que há um modelo de beleza a ser seguido e alcançado, o que gera
frustrações e angústias naqueles que estão fora desses padrões. Sobretudo em
indivíduos mais jovens, que buscam a validação externa, isso pode estar
relacionado ao grande crescimento de transtornos que envolvem alterações da
imagem corporal.
As mulheres sofrem mais essa pressão estética, mas também há uma
camada significativa de homens em busca de tais procedimentos, que fazem uso de
anabolizantes, suplementos alimentares e dietas restritivas, sem a devida
prescrição do médico ou nutricionista, além de exercícios físicos que podem
colocá-los em risco.
Quando não se consegue ver qualidades em seus corpos, vem à tona o
sentimento de vergonha, não aceitação, e preferência pelo isolamento, que tem
levado milhares de pessoas, em sua maioria mulheres, a ter um comportamento
desproporcional com seus corpos, impedindo-as de ter uma vida social e afetiva
adequada. Acham imperfeição em sua pele, nos seus olhos, seios, no quadril
(chegando até a remover costelas para um corpo simétrico) ou exageram em
procedimentos chamados de “harmonização facial”, ficando irreconhecíveis, e até
deformadas em suas características próprias, em nome de uma ditadura da beleza.
E como identificar se vivo essa realidade? Se sua preocupação com
os aspectos que citei tomam boa parte do seu dia; se existe uma angústia
associada à apresentação do seu corpo, se é uma pessoa que vive cercada,
excessivamente, de cuidados corporais, é hora de buscar ajuda psicológica para
que possa superar essas dificuldades, trabalhar a auto aceitação e,
especialmente, viver melhor, com uma compreensão mais ampla dessas questões em
sua vida.
Elaine Ribeiro - psicóloga clínica e organizacional da Fundação João Paulo II / Canção Nova.
Instagram: @elaineribeiro_psicologa
elaineribeiropsicologia.com.br
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