A medicina vem se transformando constantemente e aprimorando suas formas de tratamento, graças ao desenvolvimento de novas tecnologias que possibilitaram o surgimento de métodos inovadores. A cannabis medicinal, por exemplo, vem ganhando cada vez mais espaço na rotina de pacientes com as mais distintas patologias. Mas como isso afeta a medicina tradicional?
Hoje, apesar de não ter uma regulamentação ampla
para o uso da planta no tratamento de diversas doenças, o Brasil é um dos
países que mais produz artigos científicos e materiais de estudo sobre as
propriedades da cannabis. Além disso, a evolução da indústria farmacêutica e
científica permitiu unir tratamentos alopáticos e homeopáticos de acordo com a
necessidade do paciente, a fim de oferecer alternativas eficazes e que auxiliem
na qualidade de vida, o que é avaliado caso a caso.
A partir do grande fluxo de informações
disponíveis, podemos observar uma menor resistência da classe médica em
prescrever medicamentos à base dos ativos da planta, que pode ser usada por
pessoas de qualquer idade e estágio da doença. Os profissionais, cada vez mais
buscam capacitações que possibilitem proporcionar bem-estar como, por exemplo,
em doenças como Parkinson e Alzheimer, que são neurodegenerativas e sem
cura.
No caso das doenças citadas acima, considerando a
falta de alternativas terapêuticas, a cannabis pode ser uma forte aliada,
afinal, age diretamente no sistema endocanabinoide, responsável por regular
processos fisiológicos, como inflamações, controle muscular, metabolismo,
resposta a estresse e memória. Possui poucos efeitos colaterais, possibilitando
a retirada de medicamentos alopáticos que, ao contrário, possuem muitos efeitos
colaterais.
Podemos afirmar que essa constante evolução do
setor farmacêutico tende a ter um crescimento exponencial nos próximos anos,
permitindo o desenvolvimento de novos métodos de tratamento e aprimorando os
que já existem. Por isso, prevejo para o futuro um cenário em que o uso de
medicamentos à base de cannabis seja cada vez mais eficaz. Além disso, entendo
como um processo de educação social, que pode contribuir para mudanças
concretas na legislação, favorecendo a produção e comercialização dos
medicamentos de maneira acessível.
Muitas vezes, embora o paciente tenha interesse em
adquirir o medicamento, por ser proibido produzir o insumo no país, geralmente
possui um custo elevado. Além de ser uma tecnologia e matéria-prima escassa no
mundo, ela somente pode ser produzida em alguns poucos países autorizados. Toda
essa produção internacional acaba tendo um valor elevado e, apesar disso, hoje
existem algumas alternativas, como a solicitação por meio do Sistema Único de
Saúde (SUS) e das associações de pacientes, mas que ainda não contemplam todos
que poderiam ser beneficiados.
Por essa razão, mesmo com a comprovação dos
benefícios para a saúde, e consequentemente para a economia, ainda há um longo
caminho a percorrer na implementação da cannabis medicinal. O setor está
avançando, mas ainda não é acessível para todos. Em dez anos, visualizo um
mercado mais consolidado e com maior aderência, afinal, é um produto que teve
sua eficácia afirmada muitas vezes e, cada vez mais, torna-se uma alternativa
viável para milhares de pacientes.
Fabrizio
Postiglione - fundador e CEO da Remederi,
farmacêutica brasileira que promove o acesso a produtos, serviços e educação
sobre a cannabis medicinal. O executivo estuda a planta há mais de 10 anos e ao
longo de sua trajetória profissional, atuou em todo o processo para produção e
comercialização de medicamentos à base de cannabis.
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