Dor crônica é um fator de risco para depressão e ansiedade; transtornos mentais são 50% mais comuns em mulheres que nos homens
Uma
em cada dez mulheres fazem parte de um grupo que sofre ao longo de toda a vida
com cólicas intensas, dores durante a relação sexual e diversos outros
desconfortos característicos da endometriose.
Quando
não é bem gerenciada, a doença tem uma série de consequência para a saúde
sexual e reprodutiva dessas pacientes, mas a Sociedade Brasileira de
Endometriose (SBE) está alerta também para os riscos para a saúde mental das
mulheres.
A
presidente da SBE, a médica Helizabet Salomão Abdalla Ayroza Ribeiro, explica
que existe uma
relação já bem documentada na literatura científica entre as dores crônicas e a
ocorrência de problemas como depressão, ansiedade e abuso de substâncias, como
álcool, analgésicos e drogas ilícitas.
“Diversas
pesquisas relacionam a ocorrência de dor crônica e distúrbios de saúde mental.
Existem evidências de que ambos podem contribuir e exacerbar o outro. Pessoas
que convivem com a depressão, por exemplo, podem ser mais sensíveis à dor. E,
por outro lado, a presença constante das dores pode afetar o sono, aumentar os
níveis de estresse e deteriorar a saúde mental”, explica.
Dados
da Organização Mundial de Saúde mostram que, em todo o mundo, as mulheres têm
maior incidência de doenças psiquiátricas na comparação com os homens. No caso
dos transtornos depressivos e de ansiedade, eles são 50% mais comuns entre as
mulheres do que nos homens ao longo da vida.
Existe
inúmeros fatores que contribuem para essa diferença, e estão relacionados a
questões biológicas, sociais, culturais e de falta de equidade entre os
gêneros.
Dra.
Helizabet afirma que a endometriose pode se somar a esses fatores, tornando a
vida da paciente ainda mais difícil. “O que vemos no dia a dia são mulheres que
levam quase uma década até recebem o diagnóstico correto. Nesse meio tempo,
suas dores não são levadas à sério, sua capacidade de exercer funções
cotidianas fica reduzida, há prejuízo no ambiente de trabalho e nas relações
pessoais”, conta.
“Além
disso, mesmo após o diagnóstico e início do tratamento, vemos pacientes
fragilizadas, com dúvidas sobre a própria saúde e se sentindo pressionadas em
relação à sua fertilidade, já que a doença pode dificultar os planos de ter
filhos em alguns casos”, reforça.
Por
isso, é importante que as pessoas que sentem dores e outros desconfortos
procurem ajuda médica e não desistam até receber um diagnóstico e tratamento. A
endometriose não tem cura, mas quando tratada, é possível gerenciar as dores e
conviver com essa condição sem maiores prejuízos à qualidade de vida.
O
acompanhamento com profissionais de saúde mental, como psicólogo e psiquiatra,
também pode fazer toda a diferença para que a paciente consiga lidar melhor com
as questões que a doença levanta e, se for o caso, identificar o surgimento de
algum problema mais grave para a saúde mental.
Dra. Helizabet Salomão Abdalla Ayroza Ribeiro - Médica ginecologista com 30 anos de experiência em Ginecologia, Dra. Helizabet assumiu a presidência da SBE para a gestão que vai de 2023 até 2025. Possui mestrado e doutorado pela Santa Casa de São Paulo, é professora, membro da comissão científica e médica atuante na Santa Casa de São Paulo. Também coordena projetos direcionados para o diagnóstico e o tratamento da endometriose, além do ensino sobre a doença para profissionais de saúde.
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