“A criança precisa sentir que não está só, que sua dor é compreendida”, explica Ivone Ferreira Santos
Perder quem se ama é sempre doloroso e
difícil. Lidar com a ausência, as emoções e com a saudade abala todo e qualquer
ser humano, inclusive as crianças. Nos últimos dois anos, muitas famílias
tiveram que lidar com a perda precoce de seus entes, muitos filhos tiveram que
dizer adeus a seus pais e avós e lidar com o luto. A situação que já não é
simples para nós, adultos, precisa de um olhar ainda mais tento quando falamos
desses pequenos seres em formação. Entender como e o que falar para eles é
essencial.
Conversamos com Ivone Ferreira dos Santos,
Psicopedagoga do Colégio Novo Tempo, localizando
em Santos, litoral de São Paulo, para entender melhor o
luto infantil.
Pandemia
e Pós Pandemia no retorno às aulas
“De fato, muitas crianças chegaram na escola
relatando perdas familiares. Foi um período de muita dor, especialmente porque
algumas famílias estavam isoladas e sequer puderam compartilhar a dor e receber
o amparo de amigos e familiares, e o conforto necessário para abrandar o
sofrimento natural nesse período de luto”, relata Ivone que uma das maiores
dúvidas dos pais e familiares que a abordaram na escola foi sobre como e o que
falar para a criança na hora de um falecimento.
“A minha opinião é que a verdade deve
prevalecer, sempre levando em conta a maturidade da criança, usando uma
linguagem apropriada relatando os fatos de forma menos impactante possível,
ressaltando a importância das lembranças e das experiências compartilhadas”,
diz a profissional que explica que a mentira pode causar perda de confiança,
principalmente nos adolescentes:
“Já conversei com alguns jovens que
demonstraram conflitos existenciais e relataram que sentiram-se enganados por
omissão de informações em relação à morte de pessoas importantes. Muitas vezes,
no intuito de evitar o sofrimento da perda, camufla-se a verdade o que pode
suscitar outros danos futuros irreparáveis como perda de confiança,
insegurança, fobias, ansiedade”.
O
que fazer se o meu filho me ver chorando?
“É importante falar de suas emoções de forma
verdadeira e clara. Seu filho compreenderá que adultos ficam tristes, choram,
sentem saudade e podem expressar esses sentimentos através do choro que tem a
função de represar toda a dor e trazer um alívio para o sofrimento emocional”,
relata Ivone que expõe a importância da criança entender os sentimentos dos
mais velhos e que assim, ela não se sentirá mal quando também sentir dor: “De
alguma forma, seu filho assimilará que também pode chorar e se sentirá muito
melhor quando necessitar extravasar sua dor”.
O luto está muito ligado a fé e a religião de
cada um. Cada família tem suas crenças e seu entendimento da morte, mas a
criança, muitas vezes, ainda não atingiu a maturidade necessária para lidar com
o luto, por isso o acolhimento é essencial, assim como ter pessoas de confiança
na hora da notícia.
“É importante que a notícia seja dada por
alguém que seja próximo da criança, que tenha bom vínculo e afinidade, para que
se sinta à vontade para expressar suas emoções e receba o acolhimento
necessário para esse momento”, avalia a psicopedagoga que declara que os
adultos têm muito mais dificuldade em lidar com o luto da criança do que com o
dele, afinal, ele também está em sofrimento. Nessa hora é importante o máximo
de contato e acolhimento mútuo.
“O luto é necessário, precisa ser acolhido,
um abraço funciona bem. A criança precisa sentir que não está só, que sua dor é
compreendida, que receberá o cuidado necessário, que terá o amparo e a presença
de outras pessoas, que é amada, que essa dor será transformada em saudade e que
com o tempo amenizará”, detalha Ivone que dá algumas dicas para familiares
lidarem com o luto dos pequenos:
· A
notícia deve ser dada por alguém próximo e de confiança da criança;
· Acolher
o choro, sem tentativa de interromper. É necessário extravasar a tristeza da
perda;
· Respeitar
a vontade da criança de acompanhar o velório para última despedida. Ela deve
decidir se consegue participar ou não;
· Oferecer
escuta e mantê-la na companhia de pessoas queridas;
· Alertar
a escola sobre o luto e solicitar acolhimento;
· Caso o luto se
estenda por muito tempo e seja difícil de superar, buscar apoio psicológico.
Ivone Ferreira Santos -Psicóloga, Pedagoga, Pós-graduada em
Psicopedagogia Clínica e Institucional, com especialização em Psicodrama:, atua
na Educação há 22 anos, Psicóloga do Colégio Novo Tempo a partir de 2018 e,
atualmente, acompanha os alunos e familiares da Educação Infantil, Ensino
Fundamental e Médio.
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