Em reunião na ACSP, o empresário do Grupo Guararapes falou sobre o futuro das grandes varejistas de fast fashion, as inovações tecnológicas voltadas ao setor e relembrou de suas origens no comércio
Em meio a um novo movimento - o real
time fashion – o empresário Flávio Rocha, principal executivo do Grupo
Guararapes, dono da Riachuelo, lembra de quando optou por seguir o fast
fashion, o modelo da espanhola Inditex (dona da Zara), e que explodiu
na primeira metade dos anos 2000.
Foi a partir de um estudo de caso sobre
a Zara que ficou famoso em Harvard que Rocha implantou o fast fashion na
Riachuelo, em 2006, e assim transformou a antiga fábrica da Guararapes
Confecções, no Rio Grande do Norte, na marca mais valiosa do vestuário
brasileiro em 2013.
Desde então, o empresário diz ser
obcecado por mudanças. Um de seus maiores desafios nessa jornada foi organizar
a chamada cadeia integrada na companhia e unir três setores que funcionavam
separadamente: a confecção, a logística e as finanças.
Depois de 40 anos trabalhando cada área
de forma isolada, era fundamental que os setores ganhassem velocidade para ter
um ritmo que garantisse maior volume de produção e o abastecimento diário de
milhões de peças.
Na época, a inexistência de softwares
para gerenciar estoques foi uma das dificuldades. A saída foi adaptar programas
de grandes redes de livrarias para que registrassem as informações dos códigos
de barras das lojas e assim soubesse para onde enviar cada peça.
Na última terça-feira (21), Rocha
compartilhou sua trajetória com os integrantes do Fórum de Jovens
Empreendedores (FJE) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). O encontro
foi acompanhado por Alfredo Cotait, presidente da ACSP, Wilson Victorio
Rodrigues, coordenador do FJE, Roberto Macedo, diretor acadêmico da FAC-SP, e
Roberto Mateus Ordine, vice-presidente da ACSP.
Flávio relembrou inovações no varejo
brasileiros implementadas por seu pai, Nevaldo Rocha, fundador do grupo e
falecido em 2020. Uma delas foi a decisão de retirar os balcões das lojas,
rompendo a tradição da época. Depois de ter visitado uma loja nos Estados
Unidos, a National Shirt Shop, Nevaldo voltou ao Brasil convencido de que
aquele era um modelo inovador.
“Tirar os balcões de nossas lojas foi
uma inovação enorme porque rompeu barreiras entre a loja e o consumidor, que
tinha o balcão como um obstáculo que o impedia de tocar e sentir o que
quisesse”, disse.
Aos 14 anos, Flávio já ajudava na
distribuição de camisetas da empresa do pai – a rede de lojas Super G, que mais
tarde passaria a se chamar Grupo Guararapes, e que operava num modelo diferente
da concorrência distribuindo peças para lojistas de todo o Brasil. “Sem que soubéssemos,
a Super G foi uma das primeiras franquias do país.”
O empresário recordou que, naquela
época, a cadeia tradicional produzia grandes quantidades de roupas do mesmo
modelo e as enviavam às lojas. Os caminhões saíam lotados com dezenas de
unidades de uma mesma peça e aquele lote servia para uma estação inteira, mesmo
sem sucesso nas vendas.
Além dos encalhes que eram enormes,
segundo Rocha, as lojas de confecção precisavam se instalar em verdadeiros
galpões para ter um depósito - tudo muito diferente do momento atual, em que
caminhões chegam às lojas com apenas quatro unidades por item e sendo uma de
cada tamanho (P, M, G e GG).
Nesse sentido, atualmente Rocha
trabalha para que a companhia deixe o fast fashion para trás e
seja cada vez mais vista como uma marca de real time fashion -
modelo de vendas baseado em um ciclo muito curto entre a produção e a fase de
varejo.
Hoje, a Riachuelo tem um ciclo completo
de produção de dez dias – e é uma das poucas fast fashion do
mundo que tem controle sobre toda a cadeia produtiva, pois produz até o fio, a
partir de algodão cru cultivado em um polo têxtil no Rio Grande do Norte.
A ERA DIGITAL
Rocha disse que todo o avanço rumo ao
digital representou uma oportunidade de escalar o negócio exponencialmente. E
citou também a revolução causada pelos aplicativos. O investimento nesse tipo
de tecnologia por parte das grandes varejistas de moda se intensificou nos
últimos anos, e 55% das transações on-line já são feitas via celular, segundo
relatório da E-bit/Nielsen.
O objetivo, segundo o empresário, é
conquistar espaço no smartphone do consumidor, que só terá lugar para um ou
dois aplicativos - “ganha o que tiver mais recorrência e mais relevância”,
disse o empresário.
No caso da Riachuelo, seu aplicativo
inclui não só vestuário, mas também beleza, cama, mesa e banho, decoração,
eletrônicos, itens para pets, entre outros. Um mix que, na visão de Rocha, está
totalmente alinhado para ser o negócio do futuro em um super app de moda.
“Comprar moda num marketplace
generalista é tão desestimulante quanto ir à farmácia. Estamos preparando um
ambiente digital que vai muito além da moda em termos de volume e conteúdo – e
isso se chama lifestyle”.
Como conselheiro do Grupo Guararapes,
que inclui, além das Lojas Riachuelo, a financeira Midway e o Midway Shopping
Center, Rocha lembrou que a oferta de serviços financeiros no portfólio do
grupo contribui para o amadurecimento do negócio.
Se antes os vendedores das lojas
físicas ofereciam o “cartão Riachuelo”, agora os clientes podem ter uma conta
digital pela instituição financeira do grupo. E é nessa interação que Rocha diz
também estar o futuro do varejo, especialmente no que diz respeito à
fidelização do cliente.
Confiante em um futuro do varejo de
moda baseado na integração entre as lojas e as novas tecnologias, Rocha
mencionou a realidade virtual como uma tendência promissora para esse
movimento.
O uso de óculos inteligentes, como o
Apple Glass, permite ao cliente navegar numa loja física, sentir a textura de
um tecido, experimentar peças no provador e ir muito além do espaço limitante
da loja física, que confina mais de três mil produtos em apenas 700 metros
quadrados, como é o caso da Casa Riachuelo.
Imerso no mundo digital, o empresário
também falou sobre seu empenho para combater a sonegação de impostos no país
ante o aumento das vendas on-line.
De acordo com Rocha, o atual momento
tem impulsionado lojas digitais a seguirem o mesmo caminho dos camelôs das
ruas, aumentando os focos de informalidade do varejo brasileiro. “São grandes
camelódromos digitais que tiram proveito do nosso sistema tributário arcaico”.
A estimativa é de que o Brasil tenha
deixado de arrecadar até R$ 600 bilhões em tributos em 2020, dos quais R$ 100
bilhões foram sonegados pelo varejo.
https://dcomercio.com.br/publicacao/s/o-novo-momento-do-varejo-de-moda-segundo-flavio-rocha
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