segunda-feira, 28 de março de 2022

Home office: vilão ou mocinho na qualidade de vida das mulheres?

 Trabalhar de casa ou se dividir entre o lar e o escritório- no chamado modelo híbrido- causa polêmica, pois há os que defendem o modelo e os que são contrários; mentora em Carreira & Liderança Feminina lista prós e contras


Com a pandemia da Covid-19, grande parte das empresas tiveram que adotar o home office e, mesmo com a diminuição de medidas restritivas, o trabalho remoto ou o modelo híbrido- que intercala atividade presencial com trabalho à distância- continua em alta e, ao que parece, veio para ficar.  

Mas, afinal, essa rotina de trabalho mais flexível é boa ou ruim para as mulheres? De acordo com a 18ª edição do índice de Confiança Robert Half, divulgada recentemente, 66% das pessoas entrevistadas disseram que sofrem desgaste com deslocamentos de casa até o local de trabalho, e 55% indicaram que teriam dificuldade para se readequar a uma nova rotina profissional 100% presencial.  

De acordo com a mesma pesquisa, entre as mulheres, quatro em cada dez informaram que cogitam até mesmo trocar de emprego para que possam continuar trabalhando de casa ou no modelo híbrido. No entanto, nem tudo “são flores” em relação a esses modelos de trabalho.Há os que defendem que são mais produtivos e conseguem ter melhor qualidade de vida trabalhando de casa, enquanto outros se queixam que a jornada de trabalho aumentou após o início da pandemia”, comenta Gisele Miranda, Mentora em Carreira & Liderança Feminina. 

Para a especialista, não é possível afirmar se o home office é “bom” ou “ruim” para as mulheres. “Isso depende muito das características e do momento profissional e pessoal de cada mulher. Não existe fórmula ou receita de sucesso”, avalia. Além disso, para Gisele, ainda hoje grande parte das organizações têm um perfil mais conservador, e poucas estão preparadas para adotar o home office de forma efetiva.  

Pensando nisso, Gisele listou vantagens e desvantagens do home office:

 

Prós 

Proximidade com a família

Uma vantagem importante é a possibilidade de estar mais próxima da família. É possível, por exemplo, tomar o café da manhã com mais calma, almoçar com as pessoas que moram com você ou até mesmo levar os filhos na escola, por exemplo. 

“Estar mais perto da família, economizar tempo e dinheiro e ter mais liberdade com os horários são, sem dúvida, ótimas vantagens proporcionadas pelo trabalho remoto”, opina Gisele. 

No entanto, é preciso “pesar na balança” se isso é um fator de fato importante para a profissional em questão. “Tem mulheres que acham que estar mais em casa faz com que percam o foco no trabalho, e preferem reservar o final de semana para esses momentos de refeições ao lado da família, por exemplo. O que funciona para uma pode não ser o ideal para outra”, diz a especialista.

 

Flexibilidade de horários

Não precisar “bater cartão” na empresa, em um determinado horário, também é um ponto a se considerar na hora de pensar se o home office é a melhor opção. Isso porque não é preciso calcular o tempo que será gasto para se deslocar até o escritório, para chegar ao local no horário e sem atrasos. “No home office, basta ligar o notebook alguns minutos antes e a profissional já estará pronta para iniciar seu dia, sem precisar planejar sua rota, se ficará presa no trânsito ou outros imprevistos. Nesse sentido, o home office traz mais praticidade e comodidade, diz. 

Além disso, o home office possibilita alguns curtos intervalos de tempo para resolver pendências, o que pode trazer mais qualidade de vida. “O tempo que se economiza com deslocamentos pode ser usado para ir rapidamente ao banco ou farmácia no horário de almoço, por exemplo. Isso pode ser algo de grande valia para algumas”.

 

Redução de custos

A economia é, sem dúvida, outra grande vantagem de trabalhar de casa. Isso porque no home office, não existem custos com transporte público, gasolina, estacionamento, e até mesmo com a alimentação, já que é possível preparar o próprio almoço. 

“Certamente esse é um ponto relevante, pois uma mulher que trabalha do conforto de seu lar pode degustar uma refeição caprichada que ela mesma preparar rapidamente, ou saborear um café durante a tarde que ela mesma fez, sem precisar pagar preços abusivos”, avalia Gisele.

 

Contras 

Maior carga de trabalho

Estudo publicado no ano passado pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e pela Fundação Instituto de Administração (FIA) apontou que, para 81% dos entrevistados, a produtividade trabalhando em casa é maior ou igual à da atividade presencial.  

No entanto, grande parte das pessoas relataram trabalhar mais horas em casa do que se estivessem no escritório. Desses, 23% afirmaram que trabalham entre 49 e 70 horas por semana, enquanto 6% falaram em volume maior do que 70 horas semanais. 

“Esse é um ponto que merece atenção, pois de fato, é mais fácil estender a jornada estando em casa do que na empresa. Isso porque o fato de estar em sua própria casa pode fazer com que a mulher não se dê conta de que já prolongou demais seu dia de trabalho, pois está concentrada em uma determinada entrega”, alerta Gisele.

Para as mulheres, fazer da “hora extra” uma rotina é ainda mais arriscado, pois na grande maioria dos casos, a mulher já cumpre dupla ou tripla jornada, pois além do papel profissional, cuida dos afazeres domésticos, administração do lar e cuidados com os filhos. “Ou seja, o risco da sobrecarga feminina torna-se ainda maior”, pondera Gisele.

 

Menos interação e troca de ideias

Outro aspecto negativo do home office é a diminuição da troca profissional entre os colegas, ainda que existam as reuniões online e grupos de Whatsapp. “Geralmente a empresa adota iniciativas para tentar contornar de alguma forma essa falta de interação do time, promovendo por exemplo bate-papos virtuais. No entanto, a interação online nunca é a mesma coisa que a conversa olho no olho”, avalia ela.  

Por isso, segundo Gisele, é importante sempre buscar manter o contato com os colegas de trabalho. “Marcar um almoço ou um happy hour com a equipe, qualquer tipo de ação que ajude a diminuir o gap físico entre os colaboradores e colaboradoras é bastante válido”, sugere.

 

Perda da privacidade

Outra questão a se pensar é o quanto ter a família por perto é vantajoso, ou se pode prejudicar a rotina de trabalho. Afinal, ser chamada toda hora para assuntos que não têm a ver com o trabalho, no meio do expediente, atrapalha o rendimento. 

“Para as mulheres que são mães, trabalhar sem interrupções é ainda mais complicado. Ou seja, antes de ‘abraçar’ a ideia do home office, é preciso ser realista: terei alguém para ficar com meu filho enquanto me dedico ao trabalho, no caso das crianças pequenas? Se meu filho ou filha já têm idade para ficar sem supervisão 100% do tempo, ele irá compreender que, mesmo estando em casa, eu estarei trabalhando e não estou disponível para atendê-lo?”, exemplifica Gisele.

 

Modelo híbrido é o equilíbrio?

Uma alternativa para manter a qualidade de vida do home office sem se prejudicar com as desvantagens que o trabalho remoto pode trazer é optar pelo modelo híbrido, em que a pessoa alterna dias em casa e no escritório. Isso pode ajudar a manter a economia financeira e uma certa flexibilidade de horários, e até a proximidade com a família, mas com equilíbrio. 

“Acredito que a mescla do trabalho remoto e presencial pode ser, sim, um bom caminho, e inclusive tem sido a opção número 1 da grande maioria das empresas. Nesse modo de atuação, a mulher pode usufruir, mesmo que parcialmente, das vantagens do home office sem abrir mão do trabalho presencial”, avalia Gisele. 

No entanto, ela ressalta que o futuro ainda é incerto. “São configurações bastante novas e ainda em discussão, sobre as quais ainda não se chegou a um consenso. Serão necessários alguns anos testando e avaliando os modelos atuais, para que sejam feitos os ajustes necessários e, quem sabe, se chegue perto de algum tipo de modelo ideal, que certamente não será um só para todas”, finaliza a especialista.

 

 Gisele Miranda - Mentora de Carreira & Liderança, autora e palestrante, Gisele Miranda atua há 25 anos auxiliando mulheres a despertarem 100% de seu potencial na carreira e na vida pessoal, tornando-se protagonistas de sua própria história. Com formação em Psicologia Positiva, Neurolinguística e Neurociências, tem como principal missão fomentar e empoderar as lideranças femininas nas organizações, guiando mulheres e empresas rumo ao sucesso. É autora do recém-lançado livro "A Coragem de se apaixonar por você" (Editora Gente).


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