Pesquisa aponta redução de 47,2% na cirurgia de
catarata e 39,4% no tratamento de glaucoma. 2021 sinaliza retomada.
A
catarata responde por 49% dos casos de perda da visão no Brasil. Pior: Pesquisa
do Instituto Penido Burnier, conduzida pelo oftalmologista Leoncio Queiroz
Neto, presidente do hospital, aponta redução no País de 47,2% nas cirurgias de
catarata no primeiro ano da pandemia.
O
levantamento tem como base os relatórios do SIA/SUS (Sistema de informações
Ambulatoriais do SUS) que revela 384,4 mil implantes de lente intraocular
dobrável para eliminar a catarata de janeiro a agosto de 2019 e 202,9 mil
cirurgias no mesmo período de 2020. Em 2021, entre janeiro e agosto ocorreu
recuperação de 55% no número de cirurgias comparado a 2020, mas ainda assim, os
314,6 mil procedimentos realizados pelo SUS de janeiro a agosto deste ano está
18% abaixo do realizado no mesmo período de 2019.
Para Queiroz Neto já era esperado que a pandemia tivesse impacto maior sobre a visão dos idosos uma vez que o envelhecimento aumenta os problemas de visão. Outra evidência disso é a queda de 35% nas consultas oftalmológicas realizadas pelo SUS durante a pandemia apontada pelo CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) do qual o médico faz parte. O CBO também revela que até julho deste ano foram realizadas 265 mil cirurgias de catarata. Significa que no mês seguinte foram realizadas 49,6 mil novas cirurgias.
O
oftalmologista afirma que muitos tem medo de operar por falta de informação e
esta é uma das causas do alto índice de cegueira por catarata. A cirurgia é o
único tratamento para a doença. “O procedimento é rápido, dura 15 minutos, a
anestesia é local com aplicação de colírio no olho, mais sedação para o
paciente relaxar”, afirma. Consiste no implante de uma lente que substitui o
cristalino, lente interna do olho que se torna opaca como um vidro embaçado. A
maior causa da catarata, explica, é o envelhecimento.” Mas a doença também pode
surgir em jovens quando há casos na família, resultar de um trauma no olho,
falta de proteção contra a radiação ultravioleta do sol ou do uso contínuo de
corticoide”, salienta.
Quando operar
Os
primeiros sinais da catarata são: visão embaçada, troca frequente de óculos e
dificuldade para dirigir à noite. O médico ressalta que quanto menos
brasileiros operam maior o custo social. Isso porque, para cada real gasto no
procedimento são economizados 4 reais. Por exemplo, comenta, uma estimativa do
Ministério da Saúde aponta que 3 em cada 10 brasileiros com mais de 60 anos
sofrem, pelo menos, uma queda anualmente. A visão embaçada pela catarata é, sem
dúvida, uma importante causa de ferimentos nos olhos, fraturas e acidentes no
trânsito porque diminui a visão de contraste e de profundidade, pontua. No
consultório, comenta, é comum atender idosos que não conseguiram renovar a CNH.
A dica do especialista é sempre passar por um exame oftalmológico antes da
prova para garantir a renovação. “Quando a visão atrapalha as atividades é hora
de operar” afirma.
Diagnóstico de glaucoma também encolhe
Queiroz
Neto afirma que a pesquisa junto ao SIA/SUS também mostra em 2019, até o mês de
agosto, comparado ao mesmo período de 2020, a tonometria, exame que mede a
pressão intraocular para diagnosticar o glaucoma, encolheu 39,4%, caindo de 3,88 milhões para 2,35 milhões. O
oftalmologista explica que a doença é apontada pela OMS (Organização Mundial da
Saúde) como a maior causa global de cegueira irreversível. Não dói, nem
apresenta sintomas no início. Geralmente aparece em quem já passou dos 40 anos,
sofreu trauma ocular, é afrodescendente ou oriental, tem doenças que alteram a
vascularização do olho como miopia ou diabetes, e em pessoas com alterações na
anatomia dos olhos que dificultam a circulação do humor aquoso, gel que
preenche o globo ocular.
O
oftalmologista destaca que na pesquisa também comparou o número de tonometrias
entre 2020 e 2021 até o mês de agosto. A quantidade de exames realizados
aumentou de 2,35
milhões para 3,47 milhões respectivamente, evidenciando, portanto, um aumento
de 47% nos exames que ficaram 10% abaixo de 2020 quando a pandemia chegou ao
Brasil. Outra revelação do levantamento é que as consultas no SUS com bateria
completa de exames para detectar o glaucoma que inclui além da tonometria, a
campimetria ou medição do campo visual que vai sendo perdido na doença e a
fundoscopia para checar alterações no nervo óptico, representa menos de 10% das
consultas que incluem apenas a tonometria.
Segundo
o oftalmologista, o maior risco do glaucoma é a falta de sintomas que faz
metade dos brasileiros diagnosticar a doença em estágio avançado.
A estimativa do CBO é de que a doença hoje atinge 2,5 milhões
de brasileiros e o envelhecimento da população deve aumentar este número.
Queiroz Neto explica que 90% dos casos são do tipo primário de ângulo aberto,
caracterizado pelo aumento da pressão interna do olho e requer uso contínuo de
colírio. Os outros 10% restantes são do
tipo primário de ângulo fechado mais frequente em orientais. Provoca o súbito e
aumento da pressão intraocular causado pelo fechamento da câmara anterior do
olho devido ao espessamento do cristalino ou da borda da íris, bloqueio pupilar
relacionado a medicamentos, ou a combinação dessas alterações. O médico afirma
que o fechamento do ângulo requer atendimento oftalmológico imediato. Os sinais
de alerta são: enxergar halos, dor de cabeça, visão turva, náusea e vômito.
Cirurgia de catarata pode reduzir a pressão
intraocular
Queiroz
Neto ressalta que muitas pessoas têm a falsa crença de que pacientes com
glaucoma não podem passar pela cirurgia de catarata. Não é bem assim. Ele conta
que muitos passam a controlar melhor o glaucoma após a cirurgia de catarata,
inclusive com diminuição do número de colírios usados. Isso porque, a
substituição do cristalino por uma lente intraocular maleável facilita a
circulação do humor aquoso.
Menos
colírio
A boa notícia é que um estudo publicado no The
Lancet revela que a cirurgia de catarata pode ser adotada como tratamento de
primeira linha do glaucoma primário de ângulo fechado. Realizado com 419
portadores de glaucoma, o estudo submeteu 208 participantes à cirurgia de
catarata. Três anos depois os pacientes operados permaneceram usando menos
colírio, a pressão intraocular se manteve 1 mmHg menor que os não operados, a
função visual e a refração também apresentaram melhora. Entre os 211
participantes que passaram pela iridotomia a laser, técnica cirurgia utilizada
em pacientes com glaucoma na qual é feito um furinho na íris para facilitar o
escoamento do humor aquoso, o uso de colírios caiu muito pouco, três
participantes ficaram permanentemente cegos contra 1 do grupo que operou catarata,
a função visual e a refração permaneceram inalteradas.
Queiroz
Neto afirma que os casos de glaucoma muito avançados inviabilizam o controle do
glaucoma apenas com a cirurgia de catarata. Outra variável elencadas pelo
médico é já ter passado por iridotomia.
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