A pandemia da Covid-19
nos levou a pensar sobre a importância do respirar, esse ato involuntário e tão
necessário para todos. Com o ar cada vez mais poluído, as mudanças climáticas e
o aumento da incidência de doenças respiratórias, nunca foi tão importante
debater sobre a nossa respiração. No dia 25 de setembro, Dia Mundial do Pulmão,
a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e o Fórum Internacional de
Sociedades Respiratórias, promoveram a conscientização sobre a prevenção das
doenças que afetam os pulmões. Aproveitamos esse momento para refletir sobre a
importância deste órgão e sobre o impacto do agravamento de algumas doenças
respiratórias, como a Asma, uma doença comum, mas que pode se apresentar em uma
forma extremamente grave.
Segundo a Organização
Mundial da Saúde, em 2021, 300 milhões de pessoas no mundo vivem com Asma,
sendo que de 3% a 10% desses pacientes têm Asma do tipo Grave²,3.
No total, mais de 46
mil óbitos foram relacionados à doença globalmente³,⁴. No Brasil, cerca de 20
milhões de pessoas convivem com diferentes formas desta doença respiratória,
inflamatória e de origem alérgica³. A Asma é a terceira ou quarta causa de
hospitalizações pelo SUS, conforme o grupo etário, tendo em média 350.000
internações anualmente⁴. Uma das principais medidas para o controle da Asma é o
tratamento adequado, de acordo com a gravidade da doença, e a adesão do
paciente ao tratamento4.
A Asma Grave não tem
cura. No entanto, ela pode ser totalmente controlada. Existem diferentes tipos
de Asma e tratamentos5,6. O diagnóstico de Asma Grave leva em consideração a
quantidade de medicação que deve ser administrada diariamente para se manter o
asmático bem. Entretanto, corticoides em dosagens elevadas podem ter como
consequência o agravamento ou desenvolvimento de comorbidades, como diabetes e
obesidade3-5.
No entanto, existe um
grande preconceito cultural que cria uma forte resistência ao diagnóstico de
asma e da asma grave. Tanto no consultório, quanto em Saúde Pública, devemos
levar muito a sério a Asma já que se trata de uma doença muito comum, que
atinge até 15% da população de algumas cidades no Brasil.
Pais preferem chamar
de bronquite as crises recorrentes de tosse, chiado no peito, dificuldade
respiratória, ao invés de asma, como se este rótulo implicasse em uma culpa de
hereditariedade, estigma de incapacidade e risco de morte, ou de selar um
destino de doença crônica e incurável para seus filhos.
Vivenciamos, nas
últimas décadas, um crescente avanço no entendimento de como se dão os
processos inflamatórios da asma. De tal forma, os médicos dispõem atualmente de
uma lista extensa de opções para controlar totalmente esta enfermidade. Ainda
não se tem tratamento curativo para a asma, mas certamente é possível oferecer
um controle total à maioria dos portadores da doença. Aqueles que, apesar de
aderirem ao tratamento, se afastarem dos gatilhos que provocam as crises
(fumaça de cigarro, poeira, mofo, pólen, odores fortes, pelos de animais),
controlam as comorbidades (como o refluxo gastresofágico, a rinite, entre
outras) se mantém com sintomas frequentes e intensos, são considerados como
asmáticos do tipo Grave.
Melhorar as condições
de moradia, reduzir a poluição ambiental pelo tabagismo passivo e ativo,
infestação por baratas, poluição atmosférica e mofo pelo excesso de umidade,
têm impacto em reduzir as crises desencadeadas por fatores ambientais.
Para a escolha de um
tratamento eficaz para cada caso, é primordial que se amplie o acesso dos
pacientes à um diagnóstico apropriado, que leve à classificação correta da
gravidade da doença. Iniciativas como oferecer na rede pública medicamentos
gratuitos para controle da asma tem melhorado o controle das crises, reduzido
as visitas em pronto-socorro o que reduz o custo com medicamentos e as
complicações da doença a longo prazo, bem como seu impacto, que vai desde a
perda de dias de escola e/ou trabalho, até o uso excessivo de medicamentos para
controle, como é o caso dos corticoides sistêmicos.
A Organização Mundial
da Saúde, ao reconhecer o problema mundial que é a asma, criou um organismo
internacional chamado GINA, com cientistas do mundo inteiro, sendo vários
brasileiros, que têm contribuído em como investigar, tratar e educar sobre a
asma.
A iniciativa GINA
classifica a asma em estágios, conforme a frequência e a intensidade dos
sintomas, do uso de medicamentos que o asmático usa. Pacientes que se encontram
no 5º estágio são considerados asmáticos graves5.
Estes, são pacientes
de qualquer idade que permanecem com sintomas ou exacerbações apesar do
tratamento adequado e boa aderência ao esquema terapêutico do esquema 4 (corticoides
inalatórios, broncodilatadores de ação longa, antileucotrienos). Nestas
condições, o especialista deve avaliar o que pode ser acrescentado ao
tratamento, a partir da fenotipagem da asma.
É importante que os
asmáticos graves mantenham consultas frequentes para reavaliar todo o seu
tratamento, recebendo sempre o melhor entendimento sobre a sua doença para
estar capacitado e saber como agir em situações de crise.
Dessa forma,
tratamentos ineficazes são evitados, os pacientes e suas famílias se fortalecem
e são capazes de reivindicar ações políticas que garantam melhor acesso ao
diagnóstico e tratamento, quer na rede pública, quer na saúde complementar.
Isso é respirar liberdade.
Dr. Ciro Kirchenchtejn
- mestre em Pneumologia pela EPM-UNIFESP, foi membro do grupo docente da
disciplina de Pneumologia e Medicina Preventiva da UNIFESP e membro do fórum de
tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT)
Referências:
• MISTÉRIO DA SAÚDE.
Datas da Saúde. Disponível em: Datas da Saúde | Biblioteca Virtual em Saúde MS
(saude.gov.br). Acesso em: 09 Setembro 2021
• Jornal O Estado de
São Paulo. Disponível em: https://emais.estadao.com.br/noticias/bem-estar,diagnostico-de-asma-grave-demora-em-media-4-anos-indica-pesquisa,70003301764.
Acesso em: 08 Outubro 2021.
• Word Health
Organization. Global Initiative For Asthma (GINA). Pocket Guide For Asthma
Management and Prevention. Disponível em: < https://ginasthma.org/wp-content/uploads/2020/04/Main-pocket-guide_2020_04_03-final-wms.pdf>.
Acesso em: 08 Outubro 2021.
• SOCIEDADE BRASILEIRA
DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA. Asma. Disponível em: . Acesso em: 08 de outubro de
2021.
• AMERICAN LUNG
ASSOCIATION. Disponível em: < https://www.lung.org/lung-health-diseases/lung-disease-lookup/asthma/learn-about-asthma/severe-asthma>.
Acesso em: 08 Outubro 2021.
• GINA. Interim
Guidance About COVID-19 & Asthma. Disponível em: https://ginasthma.org/. Acesso em 08 Outubro
2021.
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