As demências são um
grupo de doenças que afetam a capacidade de um indivíduo viver de maneira
independente devido a alterações da memória, raciocínio e habilidades sociais.
Estas transformações podem acontecer em maior ou menor intensidade, a depender
do subtipo. Dentre as causas de demência, a Doença de Alzheimer (DA) é a mais
comum e representa cerca de 70% dos casos. Sua ocorrência aumenta
significativamente com a idade e prejudica, no início, principalmente, a
formação de memória para novos fatos e habilidades de localização.
O surgimento da
doença está associado a um depósito de proteínas em alguns grupos de neurônios
e ao "envelhecimento" precoce de células em certas regiões. Isso
leva, com o tempo, à redução progressiva do volume cerebral, principalmente em
áreas como os hipocampos, diretamente relacionados à formação de novas
lembranças.
Estima-se, segundo
estudos da OMS (Organização Mundial da Saúde), que mais de 50 milhões de
pessoas no mundo já sofrem com a patologia. De acordo com a instituição, tal
número deverá ser três vezes maior até 2050, o que significa que uma pessoa a
cada três segundos desenvolve a demência. Para propagar o conhecimento e a
conscientização sobre a patologia, tanto por sua importância populacional,
quanto pelo seu impacto sobre a qualidade de vida dos pacientes e,
sobremaneira, à dos familiares, a Associação Internacional do Alzheimer
instituiu o dia 21 de setembro como o Dia Mundial de Conscientização sobre a
Doença Alzheimer.
A despeito da
liberação recente de drogas específicas que poderiam, em fases iniciais,
retardar a evolução da DA, o seu tratamento farmacológico ainda é,
predominantemente, para manejo de sintomas. Entretanto, vale ressaltar que
apesar das limitações da terapia medicamentosa, há muito o que ser feito para
melhorar a qualidade de vida dos pacientes com síndromes demenciais.
Sintomas depressivos e
distúrbios do sono devem ser sempre avaliados nestes pacientes, assim como deve
ser estimulado um cuidado multiprofissional que envolva fonoaudiólogos (visando
evitar broncoaspiração e estimular as habilidades de comunicação do paciente),
fisioterapeutas (a fim de reduzir a perda de massa muscular, fragilidade e
quedas), terapeutas ocupacionais, nutrição, enfermagem e equipe de saúde
mental. Atividades que o paciente tinha prazer em realizar antes do diagnóstico
devem ser encorajadas, como as que envolvam música, dança e o uso de línguas
estrangeiras, a fim de se estimularem diversas áreas cerebrais.
Paralelamente, o
suporte aos familiares e cuidadores é essencial para esta equação. Isso porque
o paciente com demência exige cuidados constantes e grandes desafios físicos e
emocionais.
Estudos nacionais
chegaram a documentar uma frequência até 5 vezes maior de depressão e ansiedade
dentre cuidadores de pacientes com DA quando comparados ao restante da
população. Isso ilustra a necessidade de se estender o cuidado de saúde mental
para este grupo. Alguns dos principais fatores que aumentam a chance das
complicações são a ausência dos períodos de descanso. Sendo assim, dividir o
cuidado é essencial e garante não só a saúde de quem cuida, mas para a
qualidade da atenção de quem precisa.
Cabe ressaltar que,
passado o peso e a preocupação iniciais após o diagnóstico, é sempre importante
procurar usar o tempo para planejamento do cuidado e, principalmente, uma
formação de redes de apoio. Conversar com outras famílias que passam ou já
passaram pela mesma situação e ter um profissional capacitado e acessível são
importantes ferramentas para minimizar os obstáculos que venham a surgir,
reduzindo o peso sobre os ombros do cuidador, que deve se sentir parte de uma
equipe cujo objetivo é sempre o bem-estar mútuo.
Dr. Felipe Franco da Graça - Neurologista do Vera Cruz Hospital
Nenhum comentário:
Postar um comentário