Distanciamento
social, home office e EaD… Após um ano e meio da Covid-19, fica mais evidente
como as adaptações do novo normal estão afetando crianças, jovens e adultos,
aponta psicóloga, profissional que celebra data em 27 de agosto e ganha cada
vez mais relevância na sociedade
O Dia do Psicólogo é celebrado em 27 de agosto. Profissão foi bastante requisitada durante a pandemia e segue com alta demanda
Divulgação
A Organização Pan-Americana da Saúde informou na
última quarta-feira (18) que 60% da população sofre de ansiedade ou depressão
nas Américas, alertando para uma "crise de saúde mental" na região
devido à pandemia. O dado vem ao encontro a uma pesquisa do instituto Ipsos,
divulgada em abril, encomendada pelo Fórum Econômico Mundial e cedida à BBC
News Brasil. Ela aponta que 53% dos brasileiros declararam que seu bem-estar
mental piorou um pouco ou muito no último ano. Essa porcentagem só é maior em
quatro países: Itália (54%), Hungria (56%), Chile (56%) e Turquia (61%).
Por isso, o Dia do Psicólogo, celebrado em 27 de
agosto, se torna ainda mais importante nesse momento que o mundo atravessa. “A
psicologia é uma ciência que estuda o comportamento humano e busca não só
amenizar o sofrimento que o adoecimento emocional e cognitivo causam ao
paciente, como ajudá-lo a criar alternativas de vida frente às adversidades”,
explica sobre a profissão, a psicóloga Adriane Garcia de Paula (CRP 09/6836),
que atende no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia.
“Nessa pandemia, alguns psicólogos precisaram dar
suporte tanto às equipes que lutaram na linha de frente para o enfrentamento da
Covid-19 quanto aos pacientes em recuperação ou os parentes que perderam seus
entes queridos. Outros tiveram que acolher pessoas em crise depressiva, de
pânico, surto psicótico, agravamento dos transtornos de aprendizagem, estresse
pós- traumático, transtorno obsessivo compulsivo, entre outros. E há ainda os
profissionais que estão no pós Covid fazendo reabilitação cognitiva e
emocional”, detalha ela sobre os diversos tipos de atendimentos que esses
profissionais realizaram e seguem fazendo ao longo da pandemia.
Durante esse um ano e meio de pandemia no Brasil
a demanda para os psicólogos e demais profissionais que auxiliam com a saúde
mental das pessoas aumentou e segue em alta. “Muitas pessoas ainda estão em
isolamento, outras estão com dificuldades em retornar às atividades. Ainda
existe medo, ansiedade e angústia. É um cenário de readaptação e ao mesmo tempo
aterrorizante, não definido e sem expectativas que nos leva a uma esperança
breve. Então é um processo que segue afetando a saúde mental das pessoas”,
ressalta Adriane Garcia.
Mundo virtual
Com o isolamento social, o mundo precisou de
adaptar a vida virtual, seja no trabalho, nos estudos e até para interação
social. Porém, isso foi recebido de diferentes formas, de acordo com cada área.
“Muitas pessoas ainda continuam optando pelo atendimento virtual por diversos
motivos: medo, desconfiança perante o cenário, comodidade, boa adaptação. Há os
que alternam entre o presencial e o online. Essa flexibilidade possibilita aos
pacientes serem atendidos em qualquer lugar. Aqui no consultório boa parte se
manteve online”, conta a psicóloga sobre os atendimentos na área da
saúde.
No entanto, ela ressalta que em muitas áreas o
home office causou problemas. “Muitos pacientes que trabalham para empresas reclamam
que a jornada de trabalho em casa é mais desgastante, a empresa exige mais.
Ainda há muitos processos de desconfiança de que o trabalhador não esteja dando
seu melhor e isso tem prejudicado muito essas pessoas. O sono, o humor, a
alimentação, a disposição para se exercitar ficam ruins e comprometem
mentalmente esse indivíduo. Já quem consegue trabalhar freelancer e controla
melhor seu próprio horário, conta que a qualidade de vida melhorou”, revela
Adriane.
Já na área da educação ela percebeu maiores
problemas emocionais. “Para estudantes com comprometimento na aprendizagem, o
ensino EaD foi desastroso. Recebi vários adolescentes e crianças com TDAH
(Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) e transtornos de
aprendizagem, pois não conseguiram acompanhar as aulas e estão tendo que
repetir o ano, ou que estão na faculdade e trancaram a matrícula. Para aqueles
que conseguiram acompanhar, muitos reclamaram do desgaste, do desânimo de ter
que assistir aula online, da falta de interesse. Raros foram os relatos de quem
se adaptou”, afirma.
A psicóloga detalha ainda outra questão que
afetou a saúde mental das crianças e adolescentes. “A falta de convivência com
os colegas foi um dos fatores que levou os estudantes a buscarem mais amizades
virtuais, seja através de jogos, redes sociais ou salas de bate-papo. E mesmo
assim, ainda não foi suficiente para suprir a carga emocional que a presença
nos traz. E com certeza isso também é um dos fatores relevantes para o aumento
da depressão entre estudantes”, salienta Adriane Garcia de Paula.
Emocional da pandemia
Pela sua vivência no dia a dia, a especialista
ressalta que ao longo desse um ano e meio de pandemia várias razões levaram as
pessoas a buscarem ajuda de psicólogos. “Há uma pluralidade de motivos, pois a
pandemia além de ser um cenário de incertezas que traz todo tipo de sentimento
negativo, ainda trouxe graves consequências financeiras, aumento da violência
doméstica, do divórcio. A convivência parece ter se tornado difícil. O processo
de enfrentamento da crise também dá sinais de que internamente estamos
exaustos, amedrontados, fadigados, indignados. E assim, não é difícil adoecer”,
destaca Adriane.
A psicóloga dá dicas do que as pessoas devem
observar em si e naqueles que estão próximos como sinais de que a saúde mental
precisa de cuidados. “Quando a mente adoece o corpo começa a dar sinais, tais
como palpitação, diarréias, sudorese excessiva, pensamentos negativos, fadiga,
cansaço excessivo. Mudanças bruscas no comportamento também são sinais de
adoecimento: irritabilidade excessiva, excesso ou privação de sono e
alimentação. Ao perceber mudanças assim que estão trazendo prejuízo para a
pessoa e para os que a rodeia se faz necessário a ajuda profissional”, alerta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário