quinta-feira, 29 de julho de 2021

ESG no governo e na gestão pública

Essa é uma jornada coletiva por um mundo melhor, o futuro é nessa direção


A agenda ESG, sigla usada para se referir às melhores práticas ambientais, sociais e de governança, tem ganhado relevância nas discussões do setor privado, principalmente na pauta de investimentos. Nesse sentido, transformou-se em critério decisório para os players do mercado. A emergência climática, combinada com a pandemia, acelerou preocupações com esses critérios, que gradualmente passam a balizar a tomada de decisão sobre onde investir. Consequentemente, multiplicam-se as empresas que têm assumido compromissos com a descarbonização, com a diversidade do seu quadro de funcionários e com melhores práticas internas. Por um lado, temos a grande movimentação do setor privado. Por outro, o governo, sobretudo no Brasil, tem estado ausente das discussões. É preciso mudar isso.

Na reunião do Fórum Econômico Mundial de 2021 ficou claro que entramos na era do capitalismo de stakeholders. Os investidores agora se preocupam com todas as partes interessadas afetadas por seus negócios. Já não basta que as empresas gerem riqueza apenas para si próprias, é necessário que agreguem valor para seus funcionários, para a comunidade em que estão inseridas e para o mundo. Como resultado, investimentos levando em conta esses critérios ESG tornam suas marcas mais valiosas, ao mesmo tempo que beneficiam a sociedade e o planeta.

Contudo ESG não é um assunto da iniciativa privada. O setor público, por sua própria natureza, trabalha todos os dias com temas ESG por meio de suas ações. O que se espera dos governos é a criação das condições e regulações necessárias para incentivar investimentos e a adoção de boas práticas pelas empresas. Não só: os governos logo serão cobrados a incorporar os princípios ESG na forma de gerir o Estado. Em 2015 a ONU estabeleceu a Agenda 2030, com um conjunto de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que se desdobram em mais de uma centena de metas para que um país seja considerado sustentável, justo e próspero. Num exemplo de ação, a União Europeia vem de ditar o ritmo global sobre descarbonização. Em pouco tempo veremos outro grande passo, com a adesão maciça dos países a um dos grandes programas da COP-26, o Race to Zero.

São Paulo e o Brasil precisam não só se integrar a essas discussões, como engajar o setor privado para que tenhamos clareza acerca dos custos e sobre quais ferramentas deveremos adotar para nos moldarmos à economia do futuro. Nossa missão hoje é integrar o setor privado, e líderes e especialistas, na agenda ESG para que sejamos parte dessa negociação global.

Na InvestSP já iniciamos esse trabalho. A agência, que atua na atração de investimentos e melhoria da competitividade do Estado de São Paulo, há anos, demonstrando resultados positivos, agora se volta para a pauta ESG, garantindo os melhores investimentos e as melhores práticas no Estado. O grande desafio será lançar nos próximos meses um plano de implementação e monitoramento ESG para o Estado de São Paulo, como um grande indutor dessa agenda. Com base internacional, já em andamento, serão estabelecidas metas estratégicas e um guia com as condições necessárias para a adoção de boas práticas que orientarão não só o setor privado, mas o próprio governo, que precisa incorporar, em sua totalidade, o ESG no dia a dia da administração pública.

Esse é o caminho para multiplicar o impacto da agenda ESG no Brasil e com isso atrair investimentos que reforcem positivamente essa agenda, tornando-nos mais competitivos em escala global. Vale lembrar que, em 2020, pela primeira vez os investimentos em energias renováveis (eólica, solar, biomassa e outras) superaram o volume de investimentos em energias fósseis, como óleo e gás (US$ 87,2 bilhões ante US$ 45,2 bilhões, segundo o fDi Report 2021) no mundo.

Certamente São Paulo não parte do zero, pois o Estado já tem uma série de iniciativas aderentes à pauta ESG. Desde o início do governo Doria, houve grande preocupação em implementar iniciativas na agenda ambiental, social e de governança. Não são poucos os exemplos: hoje atingimos o status de Estado com desmatamento zero; temos o maior programa de restauração ecológica do mundo, o Agro Legal, que restaurará mais de 800 mil hectares de vegetação nativa; trouxemos um sistema de transparência para a gestão pública, o SP Sem Papel; criamos o maior programa social da História de São Paulo, por meio do Bolsa do Povo; fizemos a licitação da rodovia Piracicaba-Panorama, a primeira carbono zero do País.

Como se diz, o ESG é uma jornada coletiva em favor de um mundo melhor. O futuro é nessa direção. Para se manterem competitivos e capazes de atrair investimentos que ajudem a construir esse novo mundo, é fundamental que os governos não fiquem de fora do debate a respeito do ESG. Assim, aos poucos, conjugando os esforços do setor público e do setor privado, será possível construir um futuro mais sustentável, diverso e justo.


Gustavo Diniz Junqueira e Henrique Meirelles, O Estado de S.Paulo - RESPECTIVAMENTE, PRESIDENTE DA INVESTSP E EX-SECRETÁRIO DE AGRICULTURA DO ESTADO DE SÃO PAULO; E SECRETÁRIO DA FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO

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