De uma forma ou outra, os Jogos Olímpicos sempre deixam algum tipo
de legado. Desde os primeiros, na Antiguidade, eles eram capazes de promover
uma trégua nas guerras tão comuns à época. Por sua vez, as Olímpiadas modernas
também têm a sua trajetória, confundindo-se em muitos momentos com a própria
história universal. Tendo a sua primeira edição de 1896, em Atenas, por
iniciativa do Barão de Pierre de Coubertin, o maior espetáculo esportivo do
planeta pode ser discutido sob diversos aspectos.
Contrariando o objetivo do congraçamento e união entre os povos, os XI Jogos
Olímpicos, em 1936, na cidade de Berlim, ficou marcada pelo seu uso político,
quando Hitler tentou fazer dele uma propaganda da superioridade racial e da
estética nazista. Coube ao atleta negro norte-americano, Jesse Owens, com suas
vitórias, silenciar o Führer. Ainda na Alemanha, em Munique, em 1972, as
questões políticas também tomaram o primeiro plano da XX edição dos Jogos
Olímpicos. Conhecido como o Massacre de Munique, a Vila Olímpica foi alvo de
uma ação terrorista do grupo palestino Setembro Negro, em que 11 membros da
delegação israelense foram mortos, entre atletas e comissão técnica.
Já os Jogos da XXII e XXIII Olimpíadas, Moscou e Los Angeles, respectivamente,
ficaram marcados pelos boicotes liderados pelos EUA e URSS e seus aliados. Mais
uma vez as diferenças políticas marcaram os jogos que deveriam ser uma
referência de confraternização mundial. Quanto aos Jogos Olímpicos de Tóquio,
realizados neste ano de 2021, certamente farão parte da antologia esportiva.
Adiado por um ano, por conta da pandemia do
coronavírus, ele será disputado sob o receio da contaminação, a opinião pública
e de especialistas divididos e tendo o comitê organizador e sua capacidade de
garantir a segurança dos participantes sob suspeita. Será uma edição dos Jogos
Olímpicos sem o tradicional desfile das delegações, a presença do público
durante os eventos e a agitação de turistas das edições anteriores. Contudo,
pode ser essa a edição dos Jogos Olímpicos de Verão em que a resiliência, a
esperança e a superação fiquem como sua maior marca, a despeito de todas as
críticas e considerações possíveis. Em outras ocasiões, os inimigos estavam no
mesmo palco ou boicotando-se mutuamente. Os adversários eram políticos e humanos.
Desta vez, o inimigo a ser combatido é outro e, provavelmente, estes Jogos
Olímpicos possam e, talvez devam, entrar para a História como o momento em que
a humanidade se reuniu por uma causa comum.
Sérgio Ribeiro - professor de História
da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
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