segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

A partir de agora, o mercado de Saúde será outro

A pandemia do coronavírus e a crise econômica continuarão exigindo capacidade de gestão e planejamento das empresas no mercado da saúde. É importante a reflexão das pessoas e empresas sobre as mudanças já ocorridas em 2020 e conscientização para as mudanças que teremos em 2021. Para o setor da saúde, esse cenário deverá favorecer e fortalecer ainda mais as operadoras mais eficientes na gestão de seus ativos, colaboradores e serviços.

Entre as mudanças mais significativas para o mercado da saúde no ano de 2020 está a grande mobilização para garantir o seguimento dos pacientes à distância, com desenvolvimento de telemedicina e ferramentas de monitorização remota. Durante uma das maiores crises sanitárias da história, as instituições também compreenderam melhor a necessidade de manter planos de contingência para atendimentos a catástrofes ou aumento inesperado da demanda.


Crise econômica

O mercado sofreu com a crise no mundo inteiro. A saúde recebeu influências positivas e negativas dessa crise. Enquanto por um lado a Saúde esteve no foco e houve grandes avanços em linhas de pesquisa de medicamentos para suporte e tratamento dos doentes, e um salto no desenvolvimento de vacinas, por outro lado tanto pacientes como profissionais sofreram e ainda enfrentarão consequências da pandemia.

Pacientes portadores de condições crônicas tiveram maior dificuldade para manter seu seguimento (mesmo com emprego de telemedicina), e ainda não conseguimos medir o impacto disso na saúde da população. Também houve uma sobrecarga emocional e conseguimos ver um aumento significativo de condições de saúde mental devido ao isolamento, estresse, perda de emprego entre outros fatores nocivos.

No lado dos profissionais de saúde, desde o início a carga emocional foi intensa: lidar com uma nova doença que não tínhamos ideia de como tratar, com aumento da demanda em todos serviços (pronto atendimentos, consultórios, internações em enfermarias e UTIs), e a necessidade de estar sempre disponível, cobrindo colegas que adoeciam, consumiu esses profissionais e levou muitos a adoecerem. Estes fatores de saúde com certeza terão um impacto no sistema em 2021, mas ainda não conseguimos saber a dimensão disso.

Entre os planos de saúde houve uma queda em beneficiários com a perda de empregos, porém os custos com tratamentos eletivos também reduziram. Se isso por um lado gerou caixa, por outro pode ter represado condições que precisarão ser tratadas no ano de 2021.


O valor do autocuidado

A crise pandêmica alterou costumes das populações no mundo inteiro, como a busca por uma vida mais saudável, os cuidados com higiene básica e a tomada de precauções em ambientes públicos.

Com isso, as pessoas deram mais valor para a saúde este ano. Infelizmente o motivo foi uma pandemia, mas podemos tirar lições importantes. Realizar acompanhamento médico de rotina e realizar exames periodicamente é necessário para identificar precocemente condições de doença e tratá-las, prevenindo maiores agravos. Acredito que as pessoas devem cuidar melhor dessas necessidades.

Além disso, espero que essas mudanças tragam uma conscientização não só na busca da medicina preventiva, mas também na promoção da saúde, que vai muito além do cuidado médico, e compreende também alimentação saudável, atividade física, um ambiente de trabalho saudável, redução de violência e outros determinantes sociais, econômicos e culturais.


Previsões para 2021

O mercado de saúde deve prosseguir na tendência de soluções digitais e automação como ocorreu em 2020 (agendamento e comunicação com profissionais, automação de sistemas de comunicação, teleconsultas, telemonitoramento etc).

A telemedicina deve permanecer. Agora mais compreendida por profissionais de saúde e pacientes como uma ferramenta de cuidado (não uma modalidade de tratamento) sempre aliada às intervenções presenciais quando necessário. Aguardamos regulamentação do Conselho Federal de Medicina para trazer mais segurança na utilização das soluções à distância.

Além disso, ainda temos um trabalho gigantesco de logística e acompanhamento da vacinação em toda população Brasil (e mundial), o que demanda investimentos em transporte e controle de cadeia fria para as vacinas, insumos e profissionais para aplicação, e sistema para seguimento dos vacinados.

Algumas tendências do setor suplementar que continuaremos a ver são a consolidação de grandes carteiras através de fusões e aquisições, e a verticalização das redes. Ainda nas operadoras de planos de saúde, a valorização e expansão de programas de atenção primária deve continuar, agora ainda mais integrados a soluções digitais.

Vamos ouvir falar mais sobre genômica em 2021 e suas aplicações práticas na prevenção de doenças (tanto oncológicas como cardíacas, reumatológicas, neurológicas e etc). Também vemos avanços na individualização dos tratamentos conforme a avaliação genética da resposta de cada indivíduo a medicamentos específicos.

Soluções de automação vêm sendo desenvolvidas nos últimos anos, mas em 2020 pela necessidade elas foram aplicadas como nunca antes. Os benefícios que estas soluções trouxeram para profissionais, instituições de saúde (tanto no âmbito público quanto privado) e pacientes são inegáveis. As vantagens que estas tecnologias agregaram na saúde, e ao sistema devem impulsionar ainda em 2021 a expansão de sua aplicação, a evolução das ferramentas atuais e o surgimento de novas soluções.

 


Felipe Folco - diretor-médico da Cia. da Consulta. Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, especialista em Endocrinologia Pediátrica e mestre em Gestão em Saúde, pela FIA.


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