Somos seres sociais e justamente por isso não
podemos falar de saúde mental sem pensar nas pessoas que estão ao nosso redor e
nas nossas redes de apoio: trabalho, comunidade, família, amigos. Esses
círculos sociais têm que estar em harmonia e equilíbrio para que seja possível
manter o bem-estar mental na vida pessoal e profissional - e muitas empresas já
têm entendido isso.
Hoje, quando o assunto são temas de interesse
coletivo (saúde, educação, assistência social), a tendência é que os
trabalhadores esperem mais ações concretas das organizações. Pensando nisso, as
empresas podem atuar tanto interna quanto externamente na saúde mental de seus
funcionários e das pessoas com que eles se relacionam.
A preocupação com o bem-estar dos funcionários
deve ser pensada em um nível individual e coletivo, dessa maneira ela se torna
mais estratégica. Algumas formas de se fazer isso são acompanhando o
engajamento, motivos de turnover e o indicador de e-NPS, que mede o nível de
satisfação com a empresa.
A iniciativa mais utilizada normalmente - e de
menor custo para as companhias - são as campanhas de conscientização. Alertar
para os sintomas dos transtornos de ansiedade e de depressão, falar sobre burnout
(estado de estresse crônico que leva à exaustão física e emocional), elaborar
cartilhas de orientação e divulgar canais de ajuda são ações que podem fazer
uma diferença enorme, especialmente entre os profissionais da geração X.
Outras possíveis medidas são a promoção de
convênios com psicólogos e psiquiatras e o investimento em ações de educação
para a saúde mental. É cada vez mais comum vermos redes paralelas de
profissionais da área se formando para atender à crescente demanda dentro das
empresas. Além disso, existem professores de psicologia que trabalham com
técnicas de psicoeducação e são especializados em ensinar as pessoas a
identificarem seus principais pontos de conforto e sofrimento, e assim
conseguirem perceber quando há algum desequilíbrio em suas emoções e
pensamentos, aprender a manejar melhor seus sintomas e procurar ajuda quando
necessário.
Mas é preciso ressaltar que certas insatisfações
não estão relacionadas a benefícios, mas sim a estrutura de trabalho, como as
jornadas, o local, a rotina e, é claro, a qualidade das relações no ambiente de
trabalho. Adotar práticas como home office e incorporar flexibilidade de
horário exige relações de confiança e diálogo entre as equipes e lideranças,
que, além de lidar com casos de pessoas que passam por algum tipo de sofrimento
ou transtorno mental, têm um papel importante em ouvir e criar relações
saudáveis com seu time, tornando o ambiente de trabalho mais saudável.
É essencial que o líder transmita confiança para
os seus funcionários. Quando uma pessoa está insegura e desconfiada, ela entra
em constante estado de alerta e de estresse e, por isso, fica ansiosa.
Nesse contexto, o líder deve ser exemplo de
acolhimento e de combate à psicofobia (discriminação contra pessoas com algum
tipo de transtorno mental), demonstrando apoio às pessoas que estejam lidando
com transtornos mentais, em especial nos momentos iniciais de diagnóstico,
quando o indivíduo está sensibilizado e, muitas vezes, com dificuldades em
aceitar a própria condição.
A partir do exemplo dado pela liderança, um
ambiente de trabalho saudável entre o time é construído a partir de duas
atitudes: empatia e diálogo. É importante incentivar as pessoas a abrir espaço
para as outras exporem suas inseguranças e desconfortos e lembrar que a
competitividade interna pode ser saudável quando existe clareza de que os rivais
de verdade estão fora da organização, e não dentro.
Um bom método para garantir que os funcionários
estejam confortáveis em seu ambiente de trabalho é garantir que eles de fato
tenham fit cultural com a organização, ou seja, os valores pessoais e os
organizacionais precisam ser compatíveis para que a saúde mental se mantenha.
Trabalhar em uma empresa onde os valores não combinam com os seus cria um
fenômeno chamado dissonância cognitiva, que nada mais é quando as suas ações no
trabalho, inclusive tomada de decisões, não estão de acordo com aquilo que você
de fato acredita. Isso cria um conflito interno que pode ter diversos efeitos a
longo prazo, especialmente na autoestima.
Durante a permanência do funcionário na
organização existem outras ações que podem ser tomadas para garantir o
empoderamento psicológico. A tolerância ao erro e à falha é fundamental para
aliviar a pressão de ser 100% produtivo. Não existe 100% de produtividade. É
natural, é físico, todo processo envolve perda de energia e o trabalho não é
diferente.
Faz sentido reforçar aos funcionários que está
tudo bem haver esse redirecionamento de energia - vale mais ainda fornecer
ferramentas para lidar com esse redirecionamento de forma eficaz: incentivar
hobbies, trabalhos voluntários e descanso, oferecer day off para que possam ter
tempo para cuidar de sua saúde, se dedicar à família e a si mesmo, entre
outras.
A Inteligência Artificial também pode ser uma
importante aliada para identificar problemas de saúde mental no ambiente de
trabalho. O que está mais próximo de nos fornecer essa visão é o indicador de
engajamento e clima organizacional. De maneira geral, podemos dizer que é um
indicador coletivo da companhia. Uma empresa com alto engajamento é uma empresa
onde as pessoas vêem valor, propósito e equilíbrio em suas vidas profissionais,
e esses são três pilares fundamentais para o bem-estar mental. É um sistema
retroalimentado: um funcionário, apesar de por vezes enfrentar dificuldades em
sua vida privada, deve ter o sentimento que pode contar com o apoio da rede
profissional para conseguir ter tempo para cuidar de seus conflitos pessoais.
Por fim, mas não menos importante, é preciso ter
um olhar atento sobre a diversidade dentro do ambiente de trabalho. Abrir as
portas para a diversidade significa, principalmente, abrir espaço para o
sentimento de pertencimento. Sentir-se parte do ambiente onde se encontra e
perceber-se como pessoa respeitada em suas individualidades, pensamentos e
preferências é fundamental para que as tendências naturais do ser humano possam
ser seguidas com fluidez. Neste pilar, a empatia, o diálogo, o fit cultural, os
benefícios, a tecnologia e o relacionamento saudável com a liderança - temas
abordados neste artigo - também são fundamentais para que se construa uma organização
orientada à promoção da saúde mental.
Thaylan Toth - CEO e fundador da Mindsight,
empresa especializada em tecnologia e ciência de dados.
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