“O que se leva da vida é a vida que se leva.” A frase do pensador Antoine de Saint-Exupéry, autor do clássico “O Pequeno Príncipe”, parece ter ganhado relevância maior no cenário atual. No mundo corporativo, empresas e profissionais procuram, cada vez mais, deixar uma marca diferenciada, construir um legado e poder fazer algo além das suas atividades rotineiras, que possa contribuir para um mundo melhor. E, neste ano, em função da pandemia da Covid-19, ficou mais que visível, fora e dentro das organizações, o quanto o espírito colaborativo e de ajuda ao próximo é essencial. Nesse aspecto, a solidariedade ganha destaque, especialmente porque as pessoas vivem em sociedade e dependem sempre umas das outras.
Sendo assim, é importante observar, em primeiro
lugar, que estamos falando de um valor humano universal, presente em todas as
culturas. Inclusive, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu, na
Assembleia Geral de 2005, o Dia Internacional da Solidariedade Humana,
comemorado dezembro. A celebração tem como objetivo destacar a importância da
ação coletiva para superar os problemas globais e alcançar as metas mundiais de
desenvolvimento, de forma a construir um mundo melhor e mais seguro para todos.
Boa parte das empresas já tem aprimorado essa
percepção e incorporado o tema à cultura organizacional. Afinal, se discutimos
tanto sobre legado, ser solidário é também pensar nesse viés, uma vez que é
importante se sensibilizar com a dor do outro e estender a mão para ajudá-lo de
alguma maneira. Ou seja, é ser empático e ter escuta ativa, duas competências e
habilidades (soft skills) cada vez mais exigidas, do estagiário ao
presidente, dentro das corporações, assim como o espírito colaborativo e
cocriativo. Além disso, praticando a solidariedade, todos os envolvidos se
apropriam de situações positivas. Quer dizer que quem recebe o apoio é
beneficiado, da mesma forma que quem oferece também tem muito a ganhar ao
promover o bem-estar do próximo.
Com esse entendimento e após todos os graves
impactos provocados pela pandemia à população desde os primeiros meses de 2020,
o Terceiro Setor está em ascensão. As companhias perceberam as muitas
necessidades da sociedade a partir daquele momento e a importância da
colaboração de todos: poder público, iniciativa privada e pessoas físicas para
superar a crise. Em todas as esferas, uma nova consciência surgiu. E as pessoas
se engajaram em todo tipo de doações, não apenas pela causa, que é de todas as
camadas sociais, mas também para ter a consciência tranquila de participar da
construção de algo positivo para a sociedade.
Além disso, é importante lembrar que, em termos de
carreira, atuar no Terceiro Setor agrega credibilidade ao currículo do
profissional, que se mostra socialmente responsável. Quando a solidariedade
está presente no dia a dia do indivíduo, a forma como ele enxerga a vida
costuma ser diferente. Isso porque entende que tudo e todos estão conectados e
cada qual tem uma missão e um propósito no mundo. Ninguém avança sozinho. Ao
contrário, sempre precisamos uns dos outros mutuamente.
Dessa forma, independentemente do nível hierárquico
ocupado na empresa, o colaborador pode promover ações solidárias genuínas, seja
destinando seu tempo livre para apoiar pessoas, seja fornecendo suporte
financeiro ou mesmo empreendendo seus conhecimentos técnicos para auxiliar
organizações não governamentais (ONGs), por exemplo. De qualquer modo, uma
coisa é certa: as empresas estão em constante busca por profissionais
sustentáveis, o que vai muito além de tratar apenas do meio ambiente.
Por sua vez, as companhias têm a grande
oportunidade de transformar essa corrente de generosidade inédita em algo
permanente. Aquelas que não avançarem ainda mais na sustentabilidade – o que
significa respeitar os aspectos socioambientais, a diversidade e agora também
se mostrarem adeptas da solidariedade – serão cobradas e, dificilmente
sobreviverão. Vale lembrar que os resultados de uma instituição não estão mais
focados somente nos indicadores financeiros. Buscar a evolução da organização,
das pessoas e da sociedade é uma das principais características da liderança
sustentável.
David
Braga - CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent, empresa de busca e
seleção de executivos de média e alta gestão, que atua em todos os setores da
economia na América Latina, com escritórios em São Paulo e Belo Horizonte. É
também autor do livro “Contratado ou Demitido – só depende de você” e professor
convidado da Fundação Dom Cabral (FDC) para matérias de gestão de pessoas. Ele
atua, ainda, como
embaixador do ChildFund, eleita pelo 4º ano consecutivo entre as 100 melhores
ONGs do Brasil, que apoia crianças e adolescentes em extrema vulnerabilidade.
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