segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Pandemia da Covid-19 levou à redução no número de doações de órgãos

De março a junho houve queda de 43% em relação ao mesmo período de 2019

 

O Dia Nacional de Doação de Órgãos e Tecidos, celebrado em 27 de setembro, nos leva a uma reflexão sobre o impacto no número de doações durante a pandemia do novo coronavírus, como destaca a assistente social do Seconci-SP (Serviço Social da Construção), Flávia Augusto Lopes Sampaio. 

Em março, assim que começou o período de quarentena, o Ministério da Saúde emitiu uma Nota Técnica com os critérios para triagem clínica do novo coronavírus (SARS, MERS e SARS-CoV-2) nos candidatos à doação de órgãos e tecidos e para manejo do paciente em lista de espera e do transplantado. No documento, recomendava-se a suspensão dos procedimentos eletivos de doadores vivos no período da transmissão comunitária, que envolve transplante de medula óssea, rim e parte do fígado. 

“Mas outros fatores levaram à redução dos transplantes, também nos casos de doadores falecidos, a começar pela ocupação dos leitos de UTI nos hospitais que diminuiu para que eles pudessem atender os casos de Covid-19 e foram adotados critérios ainda mais rígidos para evitar contaminação no transplante. Um exemplo é que doadores com histórico de síndrome respiratória foram considerados não elegíveis”, explica Flávia. 

Ela acrescenta que, com a situação de calamidade pública pela transmissão comunitária do coronavírus, tudo ficou mais comprometido. A redução dos voos em todo o país dificultou o transporte dos órgãos. A abordagem aos familiares também ficou prejudicada para obter a autorização da doação, e a demora do resultado do teste de Covid-19 realizado nos possíveis doadores, conforme recomenda o Ministério da Saúde, e apoiada pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), contribuíram para deixar as famílias mais resistentes a autorizar a doação, pois muitas não querem esperar mais um tempo para dar seguimento ao velório e o funeral dos seus entes. 

Houve ainda redução no número de potenciais doadores, provocada pelo isolamento social. Em virtude do isolamento, diminuíram os acidentes por morte encefálica por trauma, uma das principais causas de óbito dos doadores. 

“O resultado é que de março a junho, o Sistema Nacional de Transplantes registrou queda de 43% no número de doações de órgãos, comparado ao mesmo período de 2019”. 

Desde então, segundo Flávia, tem havido uma retomada no número de doações, embora ainda tímida. “O Brasil é referência mundial na área de transplantes. Em números absolutos ficamos atrás apenas dos Estados Unidos e com uma característica importante, pois as cirurgias são feitas pelo Sistema Único de Saúde, garantindo assim acesso à toda população”.

O Brasil adota protocolos rígidos e os critérios para o andamento da fila de pacientes elegíveis para receber transplante são eminentemente técnicos, como gravidade do caso, condição clínica e compatibilidade sanguínea e genética. A assistente social ressalta que o Decreto nº 9.175, de 2017 atualizou o Sistema Nacional de Transplantes, colocando a família no centro da decisão. “Mesmo que o paciente tenha manifestado em vida a vontade de doar os órgãos, após o falecimento, a autorização cabe à família (pais, filhos, irmãos, cônjuges e companheiros). Na ausência destes, o hospital pode recorrer também aos parentes de segundo grau, mas nesse caso é preciso apresentar justificativa”, relata Flávia.

O mesmo rigor é seguido para constatar a morte encefálica, cujos protocolos e procedimentos são determinados pelo Conselho Federal de Medicina.

 

Estatística

Informações do Registro Brasileiro de Transplantes e Estatísticas de Transplantes indicaram que, no primeiro trimestre de 2019, mais 7.974 pacientes entraram para a lista e 806 faleceram enquanto aguardavam a cirurgia.

“Precisamos muito da conscientização das pessoas, centenas ainda morrem na lista de espera aguardando um órgão. Portanto, ser um doador é um ato de amor, de empatia e é de suma importância que os familiares saibam desse desejo”, alerta a assistente social.

“Devemos reforçar também a importância da doação de sangue. Os hemocentros de todo o país sofreram as consequências negativas da pandemia da Covid-19. Porém eles estão seguindo medidas de segurança, que permitem que as pessoas doem sangue sem se expor a riscos, praticando este ato de responsabilidade social que salva vidas”, enfatiza Flávia.  

 

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