O ponto inicial e mais importante de todos é a
forma como a parceria entre as empresas foi criada. Todo novo serviço de
pagamentos que é criado no Brasil depende da autorização do Banco Central, que
analisa a relação entre os responsáveis pelas transações: a bandeira do cartão
que será utilizada, a instituição que irá emitir o cartão, entre outros. Nessa
história toda, não ficou claro qual seria o papel do WhatsApp, nem seus
direitos e deveres.
Além disso, não há evidência de que o WhatsApp
tenha uma maneira de garantir o mínimo de segurança, no que tange a operações
financeiras, para os usuários. Já abordei em um outro artigo sobre
cybersegurança, a importância da autenticação de dois fatores e os cuidados ao
usar o aplicativo pela web. Tudo isso é importante, mas é o mínimo para
garantir trocas de mensagens, não movimentações bancárias.
Nesse contexto, assevere-se que existem vários
níveis de criptografia, sendo os mais altos de nível militar e a utilizada
pelos bancos. As instituições financeiras estão sempre investindo em protocolos
de segurança e ainda assim os golpes acontecem. Existe, por exemplo, um teste
de vulnerabilidade chamado Pentest, que simula ataques hackers em sistemas para
validar a eficácia de seus mecanismos de defesa, permitindo aos desenvolvedores
corrigir eventuais falhas. Porém, há de se pensar que os cybercriminosos estão
sempre um passo à frente, mesmo com todas as barreiras. Não há como antever o
elemento surpresa – afinal, ninguém sabe quando ou como será atacado.
Certamente, o Banco Central e o CADE agiram
corretamente ao proibir a operação. Durante a pandemia, com mais pessoas usando
a internet, o índice de cybercrimes tem crescido vertiginosamente. Lançar uma
ferramenta sem o mínimo de cautela poderia potencializar ainda mais essa onda,
expondo bancos e usuários a riscos desnecessariamente, haja vista que todas as
instituições financeiras disponibilizam a seus clientes acesso serviços
bancários via computadores e celulares com altíssimo grau de segurança.
O WhatsApp é um aplicativo que nós chamamos de OTT
(Over The Top). Isso significa que ele é uma ferramenta destinada a prestar
certos tipos de serviço ao usuário. Como um OTT, ele não está apto a oferecer
serviços mais críticos, que exigem uma complexidade maior. Hoje, todos os
bancos possuem aplicativos que permitem aos clientes realizar transações dentro
de um ambiente seguro. Mas por trás de uma interface intuitiva e agradável aos
olhos existe uma tecnologia pesada para garantir a operação. Na China, o
aplicativo WeChat já realiza essas operações.
É fato que precisamos discutir alternativas para o
dinheiro papel – e, agora, para o dinheiro plástico também, me referindo aos
cartões. Se o futuro já era digital, com a pandemia, essa mudança veio a
galope. A China, por exemplo, já começou a testar um yuan (moeda local) digital
em algumas regiões do país e há um projeto nacional de ampliar o uso da
criptomoeda. É uma tendência imparável. Mas toda essa rapidez do mundo moderno
não deve impedir que uma ferramenta será avaliada corretamente antes de ser
lançada, seguindo protocolos de segurança criados para proteger os usuários.
Assim, poderemos ter um mundo mais ágil, fácil e prudente.
Dane
Avanzi - advogado, empresário de telecomunicações e diretor do Grupo Avanzi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário