Em comemoração ao Dia da Estrada de Rodagem, o engenheiro
Elci Pessoa Júnior destaca a importância da conservação das rodovias
O
Brasil é o país que tem a maior concentração rodoviária de transporte de cargas
e passageiros entre as principais economias mundiais. Mais de 70% da produção
do País é escoada pelas nossas rodovias.
Tamanha importância ganha um significado ainda maior no dia 13 de maio,
quando se comemora o "dia do automóvel e da estrada de rodagem". A
data foi criada em 1934 pelo então presidente da República, Getúlio Vargas, por
meio do Decreto nº 24.224.
Atualmente, a malha rodoviária
brasileira já totaliza 1,563 milhões de quilômetros, dos quais 213 mil são
pavimentados. Nesse cenário, a malha rodoviária federal corresponde a 75,8 mil
km, dos quais 65,4 mil km são de rodovias pavimentadas e 10,4 mil km não
pavimentadas. O investimento público federal em obras de manutenção,
duplicação, adequação e construção de rodovias totalizou R$ 7,65 bilhões em
2018. Tais investimentos visam ampliar a capacidade de tráfego, ordenar o
trânsito das rodovias nos perímetros urbanos e garantir condições permanentes
de segurança e conforto na circulação de veículos e usuários. Deste total
investido, R$ 4,3 bilhões referem-se à manutenção da malha federal administrada
pelo Dnit.
De acordo com pesquisa realizada em
2019 pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), 51% da malha rodoviária
federal pavimentada de todo o País apresenta algum tipo de problema, sendo
considerados regular, ruim ou péssimo – e esse número é ainda pior nas rodovias
estaduais, chegando a 71,7%.
Para o engenheiro da New Roads e consultor internacional,
Elci Pessoa Júnior, as rodovias têm um papel importante na economia do País.
“Elas são responsáveis por significativas componentes nos custos dos produtos,
decisivas na competitividade do Brasil no mercado internacional e, portanto,
lastros para o desenvolvimento da sociedade como um todo”, afirma.
As primeiras rodovias
A história do rodoviarismo nacional conta com capítulos de
grande relevância, como em 1861, quando foi inaugurada a primeira estrada
pavimentada do Brasil, a Estrada União e Indústria, que ligava Petrópolis a
Juiz de Fora.
A estrada foi inaugurada em 23 de junho
de 1861 pelo imperador dom Pedro II, sendo naquele tempo considerada a maior
obra de engenharia da América Latina. Construída com a mão de obra de colonos
alemães, a rodovia foi pavimentada pelo método Macadame e possuía 144 km de
extensão, sendo 96 km no estado do Rio de Janeiro e 48 km em Minas Gerais.
Um
grande marco na engenharia brasileira, a construção da estrada ficou a cargo de
Mariano Procópio Ferreira Lage, engenheiro formado na Alemanha, a quem fora
dada concessão para a sua exploração. A “União e Indústria” veio então a garantir
o escoamento da produção cafeeira da região, sendo, portanto, um importante
vetor de desenvolvimento para o País.
A
estrada demandou forte avanço da técnica de engenharia no Brasil à época, tendo
em vista os inúmeros desafios geográficos que exigiam grandes esforços de
engenheiros e operários. A “União e Indústria” integrou e uniu os estados do
Rio de Janeiro e Minas Gerais, alicerçando o avanço econômico da região.
Outra rodovia que merece referência histórica é a estrada da
serra Dona Francisca, no norte catarinense (atual SC-418),
construída em 1858 por imigrantes, visando o comércio entre o planalto norte e
litoral – principalmente de erva-mate e madeira.
Fato importante no Brasil Império, a construção da rodovia
exigiu técnica, habilidade e disposição para vencer as dificuldades, como mão
de obra, materiais, recursos financeiros, obstáculos da natureza, que incluíam
neve, chuvas torrenciais, rochas, além de doenças transmitidas por
mosquitos, como a febre amarela, e ataques de silvícolas e de cobras, etc. A
construção da estrada da serra Dona Francisca, assim denominada em
homenagem à princesa Francisca Carolina, foi liderada pelo
engenheiro alemão Carl August Wunderwaldt.
Tais empreendimentos contribuíram para
o avanço da engenharia rodoviária e para a criação e o fortalecimento do setor.
Em 1927, foi fundada a Comissão de Estradas de Rodagem Federais. Já na década
de 1940, através da reestruturação do Departamento Nacional de Estrada de
Rodagem (DNER), foi criado o Fundo Rodoviário Nacional, o que levou a uma
expansão considerável da malha rodoviária. Na década de 1970, com a adoção do Plano Nacional de Desenvolvimento e
vultosos investimentos em infraestrutura, importantes rodovias foram
construídas, entre elas a Transamazônica e a
Belém-Brasília. Com isso, o País passou de 423
km de estradas pavimentadas em 1937 para 47 mil km de rodovias federais na
década de 1980.
Ao longo de todo esse período, grandes mudanças
puderam ser observadas. O Brasil que antes buscava preencher os vazios
territoriais e demográficos por meio do Programa de Integração Nacional (PIN),
criado no período militar, cujo lema era “integrar para não entregar”, passou a
planejar uma infraestrutura moderna voltada para atender novas demandas, como
os maiores fluxos e cargas, privilegiando questões cruciais como a
durabilidade, a segurança e o conforto dos usuários.
Elci Pessoa Júnior - engenheiro civil e consultor
Internacional da NIRAS-IP Consult GmbH, da Alemanha, para supervisão de Obras
Rodoviárias. É também engenheiro consultor do TCE/SC para Auditoria em Obras
Rodoviárias e Pavimentação Urbana e autor do livro “Manual de Obras Rodoviárias
e Pavimentação Urbana”, da Editora Oficina de Textos.
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