sexta-feira, 29 de maio de 2020

Gestantes transmitem o coronavírus para seus bebês?


Mães podem amamentar? Obstetra atualiza informações sobre como fica a situação das gestantes diante da Covid-19, quais são as orientações para a hora do parto e outras medidas que podem ser tomadas na retomada de atividades

 Dra.  Mariana Rosário
Dra. Mariana Rosario, ginecologista, obstetra e mastologista, diz que a amamentação é uma escolha que deve ser bem avaliada entre a mãe, o obstetra e o pediatra, com alternativas que não impedem inclusive a mãe com a Covid-19 de amamentar. Em relação à retomada de atividades, um alerta: gestantes que podem, devem continuar em casa


Gradualmente, os municípios paulistas entrarão nas fases do Plano São Paulo, que determina a retomada das atividades econômicas conforme a pandemia se dissipa ou se agrava. Por enquanto, a capital paulista está classificada na Fase 2 – Laranja, que é de alerta, tendo o comércio, incluindo os shoppings, com abertura com restrições programada para iniciar-se na segunda-feira, dia 1º de junho.

Muitas pessoas terão medo de se exporem a uma possível contaminação por coronavírus e continuarão praticando o isolamento social. A Dra. Mariana Rosario, ginecologista, obstetra e mastologista, tem um recado importante para as gestantes, para quem acabou de dar à luz e, também, para quem pretende engravidar: “É preciso continuar com o isolamento social, pelo maior tempo que for possível”, diz ela.

A médica explica que as grávidas são naturalmente imunodeprimidas, pela própria condição da gravidez. “O corpo humano baixa a imunidade da mulher para que ela não crie anticorpos que rejeitem o feto, um ‘corpo estranho’ que está em desenvolvimento. Por isso, ela tem baixa imunidade. Trata-se de um período em que o organismo fica propenso a adquirir doenças virais e bacteriológicas com mais facilidade e também não consegue combatê-las adequadamente. Como as gestantes não podem ser tratadas com medicamentos comuns, porque a maioria deles não foi testada nesta população, é difícil tratar algumas doenças sem causar mal ao bebê. Imagine num caso como o do coronavírus, que não tem nem sequer medicamento próprio ainda! Então, o melhor conselho é evitar a contaminação”, alerta a obstetra, que é membro do corpo clínico do hospital Albert Einstein e pesquisadora da Faculdade de Medicina do ABC.

Como algumas mulheres obrigatoriamente devem voltar ao trabalho, a médica aconselha a adoção de medidas preventivas. “O uso de máscara é obrigatório. Deve-se trocá-la a cada quatro horas, em ambiente fechado, e sempre que se sair à rua ou usar transporte coletivo. Outros protocolos, como lavar as mãos constantemente e fazer o uso do álcool em gel devem ser seguidos com rigor, para que se evite a contaminação”, informa.

Para ela, é arriscado ir a locais de grande circulação de pessoas, como aos shoppings e comércio de rua. “O contato com outras pessoas pode oferecer riscos. É preciso evitá-lo, ainda é cedo para se expor, se não houver extrema necessidade”, aconselha.


Pré-natal, parto e amamentação

Apesar de o conselho ser o de ficar em casa, o pré-natal e os exames das gestantes não podem ser interrompidos. Por isso, a Dra. Mariana segue um protocolo, em seu consultório, que permite que elas sejam atendidas:

 - As consultas são realizadas com intervalo de 1h00 a 1h30, o suficiente para que haja toda a higienização do ambiente.

 - Apenas a médica e uma assistente recebem a gestante, que é aconselhada a ir sem acompanhantes – ou com apenas uma pessoa.

 - A Dra. Mariana atende usando máscara, face shield e paramento médico (aventais especiais), já que circula por hospital, na realização de partos, e essa medida serve para evitar a contaminação das pacientes.

- No próprio consultório, a médica já realiza o ultrasson, de maneira a minimizar a ida a laboratórios.

 - Se for preciso colher exames laboratoriais, ela aconselha as gestantes a marcarem horários em laboratórios que sejam mais vazios e informarem da gestação.

“A ideia é que as gestantes não precisem procurar hospitais. Por isso, meu consultório e celular ficam à disposição, caso elas precisem de algum atendimento emergencial”, diz a especialista.

Em relação à hora do parto, Dra. Mariana Rosario diz que existem hospitais que são de atendimento exclusivo para gestantes, ou seja, são 100% maternidades. Nesse caso, a possibilidade de haver pacientes portadores de coronavírus sendo tratado ali é menor – mas, não é inexistente, já que as próprias gestantes podem estar com a Covid-19 e passar pelo trabalho de parto. Por isso, mesmo nesses estabelecimentos, é preciso ter todo o cuidado e obedecer ao protocolos do Ministério da Saúde (MS) e do próprio hospital. “O que tem sido feito, na maioria dos hospitais, é a limitação de pessoas na sala de parto. No começo da pandemia, cheguei a realizar partos com a sala vazia: éramos eu, a paciente e o (a) acompanhante dela. Sem doula, sem enfermeira, sem ninguém. Agora, alguns hospitais começam a permitir a entrada da doula e de enfermeira – varia conforme o protocolo do hospital”.

Nos hospitais que têm atendimento misto, com hospital geral e maternidade, as alas costumam ser bastante separadas, então, o protocolo é o mesmo, porque muitas mulheres têm o vírus e precisam dar à luz. Quando a mulher está com a Covid-19 e vai dar à luz, ela passa todo o parto de máscara – e todos os profissionais, também. Quando ela não tem o vírus, todos os profissionais usam máscara, mas ela não precisa.

Assim que o bebê nasce, ele é colocado sobre a mãe, para que se reconheçam. E, então, o bebê mama. Mas, como isso acontece, em plena pandemia?

A boa notícia é que não foi encontrada a presença do coronavírus em amostras do leite materno. E, como esse alimento é o mais completo do mundo, cheio de anticorpos, é imprescindível que ele seja ofertado ao recém-nascido, como exclusividade, até os seis meses de vida. A gestante pode optar em amamentar seu bebê usando máscara e depois de toda a assepsia corporal ou, ainda, de fazer a ordenha e pedir a alguém que amamente o bebê com uma mamadeira.

E, voltando ao momento do parto, se a mãe não tiver o coronavírus, ela recebe seu bebê normalmente, assim que ele nasce. E, se ela tiver a Covid-19, o médico decidirá como agir. “No meu caso, se ela estiver de máscara, com segurança, eu acredito que ela possa segurar seus filhos nos braços”, informa a médica.


Afinal, a gestante passa o coronavírus para seu bebê?

Não existe nenhum caso comprovado de transmissão vertical de coronavírus, ou seja, de nenhuma gestante que tenha transmitido o vírus para o feto. Na cidade chinesa de Wuhan, onde surgiram os primeiros casos de Covid-19, foram detectados quatro casos de recém-nascidos com coronavírus. Todos os bebês passaram por partos cesariana e a conclusão dos médicos é que foram infectados no parto – e não durante a gestação. Deles, três foram separados das mães ao nascer – apenas um ficou sob os cuidados da mãe.

Todos os bebezinhos tiveram sintomas leves, nenhum precisou de internação ou ventilador. Segundo os pesquisadores, a transmissão intrauterina ainda não pode ser descartada, mas nenhum caso foi confirmado.

Dra. Mariana Rosario finaliza dizendo que é importante alertar que a gestação pode se complicar na presença da Covid-19. Existem relatos de casos em que foram necessários realizar partos emergenciais, prematuros, para que as mães pudessem ser sedadas e entubadas. Por isso, é necessário que as mães tenham todo o cuidado, ficando em casa o máximo de tempo possível, ainda que haja flexibilização na quarentena.




Dra. Mariana Rosario – Ginecologista, Obstetra e Mastologista. CRM- SP: 127087. RQE Masto: 42874. RQE GO: 71979.

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