Presidente do
Conselho de Administração da Abramed responde principais questionamentos sobre
os exames capazes de identificar quem está ou não infectado
Em dezembro de 2019 a China disparou um primeiro
alerta sobre uma pneumonia desconhecida e, desde então, todos os sistemas de
saúde no mundo vêm enfrentando inúmeros desafios. Reconhecendo que o
diagnóstico é parte fundamental da estratégia de combate à pandemia do novo
coronavírus, os investimentos em novos testes são globais. Porém, a corrida
contra o tempo - e contra a COVID-19 - desperta muitas dúvidas.
Para auxiliar nessa compreensão, a Associação
Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) conta com a expertise de Wilson
Shcolnik, médico patolosgista e presidente do Conselho de Administração da
entidade, para sanar os principais questionamentos sobre os exames capazes de
identificar quem está ou não infectado.
O Brasil se atrasou para
iniciar o diagnóstico?
Wilson Shcolnik – Não. Precisamos lembrar que essa é uma doença que não existia até o
final de 2019. Portanto, quando o novo coronavírus surgiu, nenhum país no mundo
estava preparado para enfrentá-lo. Logo que o surto chegou ao Brasil, alguns
poucos laboratórios públicos e laboratórios privados iniciaram uma movimentação
para desenvolvimento in house dos primeiros exames moleculares para diagnóstico
da COVID-19. Na sequência, a indústria fornecedora dos insumos, tanto nacional
quanto internacional, também otimizou sua produção para suprir a demanda mundial.
Agora, o mundo está trabalhando na validação de testes sorológicos para
identificação de anticorpos e o Brasil segue acompanhando essa movimentação.
Por que o Brasil não testa toda a população sendo
que essa é a recomendação da OMS?
Wilson Shcolnik – Quando a Organização Mundial da
Saúde (OMS) recomendou que os países testassem todo mundo, ela partiu de um
cenário que seria o ideal. Porém, a própria Organização destacou a importância
dessa recomendação ser contextualizada, reconhecendo que todos os países deviam
compreender suas realidades para aplicar a melhor estratégia.
No Brasil temos uma população de quase 210 milhões
de pessoas, o que nos difere, por exemplo, da Coreia do Sul, com
aproximadamente 50 milhões de habitantes. Quando a curva de contaminação
começou a subir, aumentando a demanda pelos testes, prontamente o Ministério da
Saúde mudou sua abordagem direcionando os exames exclusivamente aos hospitais
para pacientes sintomáticos graves. Essa atitude contribui para o melhor
atendimento à população.
Agora que os testes sorológicos estão sendo
fabricados e disponibilizados, o Brasil mais uma vez está traçando uma rápida
estratégia para que esses testes sejam aplicados de forma segura e eficiente
para o combate à pandemia de COVID-19, lembrando que mais uma vez esses exames
devem ser priorizados a profissionais de saúde que precisam reassumir seus
postos de trabalho e garantir o atendimento às pessoas infectadas.
Secundariamente, servirão para inquéritos epidemiológicos que fornecerão
informações para a liberação do distanciamento social.
Qual a diferença entre os
testes?
Wilson Shcolnik – A principal diferença entre o teste molecular e o teste sorológico é o
que é detectado. O RT-PCR é um teste molecular de alta complexidade capaz de
identificar o RNA do vírus em uma amostra colhida com um cotonete
prioritariamente nas mucosas respiratórias do paciente. É o teste apontado como
padrão-ouro pela OMS por ter um resultado altamente seguro e conseguir
identificar a doença no início da infecção.
Já o teste sorológico, categoria na qual estão
inseridos os testes rápidos, detecta os anticorpos em amostras de sangue. Isso
significa que sua eficiência depende tanto da qualidade do kit de diagnóstico
quanto da realização seguindo as melhores práticas laboratoriais e respeitando
a janela imunológica que varia de indivíduo para indivíduo e cuja média é de 8
dias do aparecimento dos sintomas.
Posso comprar um teste na
farmácia e fazer em casa?
Wilson Shcolnik – Não. Não existe autoteste para diagnóstico de COVID-19. Tanto o RT-PCR
quanto o teste sorológico, inclusive o teste rápido, devem ser realizados
seguindo as melhores práticas laboratoriais, sempre com a supervisão de um
profissional de saúde habilitado. Recentemente, a Anvisa autorizou a realização
dos testes rápidos em farmácias e drogarias, o que significa que o cidadão
comum poderá fazer o teste nesses ambientes, porém reforçamos que é fundamental
que assim como feito nos laboratórios, os testes nas farmácias sigam as
recomendações da Anvisa e das sociedades médicas para garantir resultados
confiáveis e a segurança da população.
Todos os testes são
confiáveis?
Wilson Shcolnik – Os kits de diagnóstico são produzidos por fabricantes nacionais e
internacionais e precisam de registro na Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) e validação. Os testes utilizados no sistema público são
validados pelo Ministério da Saúde por meio do Instituto Nacional de Controle e
Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz). Já os testes utilizados na saúde
suplementar poderão ser validados por uma força-tarefa realizada pela
Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), Sociedade Brasileira
de Análises Clínicas (SBAC) e Sociedade Brasileira de Patologia Clínica /
Medicina Laboratorial (SBPC/ML) em parceria com a Câmara Brasileira de
Diagnóstico Laboratorial (CBDL). Nesse caso, a expertise de laboratórios
privados está sendo aplicada para a checagem de eficiência e segurança desses
exames e a lista com os resultados será disponibilizada em breve ao público.
Posso ir a um laboratório e
pedir para fazer o teste?
Wilson Shcolnik – A recomendação é que os exames de diagnóstico de COVID-19 sejam
solicitados pelos médicos, profissionais com a competência necessária para
avaliar cada caso e definir a necessidade ou não de diagnóstico laboratorial.
Se você tiver tosse e febre, por exemplo, a recomendação é que permaneça em
casa, em repouso, se alimentando bem e, principalmente, em isolamento. Caso
apresente falta de ar, deve procurar uma unidade de saúde.
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