A frase de Kakay, advogado dos corruptos endinheirados, que
desfila de bermudas no STF, é testemunho eloquente de um tipo de personalidade
que coloniza a atual oposição brasileira. Segundo
nota publicada na coluna Radar, da Veja, Kakay escreveu o seguinte sobre
Damares Alves para um grupo de juristas no WhatsApp: "Foi uma pena os pais
desta idiota não terem feito o que ela prega. Se não tivessem trepado,
estaríamos livres dela". Não satisfeito com a repercussão da grosseria chula,
o advogado ocupou espaço no Estadão digital com um artigo em que tenta, de modo
patético e inútil, bater palmas para si mesmo. Não teve boa parceria pelo que
vê nos comentários ao texto.
Parcela significativa da oposição
brasileira, no entanto, ainda não entendeu o resultado da eleição de 2018.
Instituíram para seu uso pessoal, como nécessaire,
conceitos empacotados segundo os quais o país foi tomado por alguns homens e
mulheres intrinsecamente perversos, com ideias conservadoras e liberais. É como
se dissessem: "Querem recompor tudo que lutamos para desconstruir -
família, ordem, religião, virtudes, amor à pátria. Acreditam que direitos e
deveres andam juntos e que liberdade impõe um vínculo sólido com
responsabilidade". E deduzem:
"Essa gente não presta!". Kakay talvez complementasse esse
despautério com elegância lacradora: "Melhor seria se os pais dos
conservadores não tivessem trepado e eles não tivessem nascido".
No entanto, a "idiota" assim
qualificada por ele é, logo após Sérgio Moro (aguenta Kakay) o segundo nome
mais prestigiado junto à opinião pública no conjunto dos ministros e
representa, em muitos aspectos, o discurso vencedor das eleições de 2018.
Bolsonaro foi eleito, principalmente, porque segurou a bandeira do discurso
conservador, que ressoou na alma de milhões de eleitores de muitos bons
professores, de muitos pais conscientes do efeito tóxico da permissividade
transformada em sinônimo geneticamente defeituoso de liberdade.
A Dra. Damares, que lança hoje, às 16
horas, junto com o ministro da Saúde a Campanha de Prevenção à Gravidez na
Adolescência, tem maior conhecimento e experiência nos temas em que atua do que
o inteiro colegiado de seus críticos. A má vontade deles espelha a maldade de
seu querer, que torna opaco o que é cristalino. E como é cristalino o que ela
tem dito sobre o tema da gravidez precoce! Qual mãe, qual pai ficará aborrecido
se seus filhos, em adição ao que ouvem em casa, forem levados a refletir sobre
as consequências e responsabilidades inerentes à atividade sexual? Qual mãe,
qual pai ficará tranquilo ao saber que a filha de 12 ou 13 anos, sob pressão
psicológica própria ou externa, está deitando com um adolescente imberbe? Que
embaraço matemático existe em compreender a relação de causa e efeito entre
menos "trepadas" precoces e menos gravidezes?
Isso nada tem a ver com cultura
medieval, com colocar Rapunzel na torre da bruxa, nem com cinto de castidade. E
tem tudo a ver com zelo, prudência, responsabilidade e saúde pública.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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