No começo, dona Chica evitava sair de casa e se
preparava para se aborrecer a qualquer momento. Um dia, Jucélia veio à sua
porta e lhe ofereceu um bolo de fubá.
— É receita de minha avó – disse Jucélia, bem
vestida com uma roupa rendada que lhe valorizava as formas.
Dona Chica não teve como recusar o bolo que, por
sinal, estava delicioso.
Aos poucos, com o passar do tempo, dona Chica foi
se aproximando dos vizinhos e descobriu que não só eram trabalhadores sérios,
como também pessoas amáveis e solícitas, amigos verdadeiros, amáveis e prontos
para ajudar em qualquer situação. Pronto. Acabou o preconceito. Não se fala mal
de nordestinos em frente de dona Chica ou ela vira um bicho.
Preconceito? Onde?
Há diversos tipos de preconceitos. Contra raças,
contra preferências sexuais, contra religiões, contra tudo. Pessoas brigam no
Facebook e desfazem amizades se alguém tiver uma preferência política,
religiosa ou sexual contrária à delas.
Mas o preconceito é uma ignorância.
O que nos define não é nossa religião. Não é nossa
tendência sexual. Não é nosso partido político. Não é nossa cor ou raça. Não é
nosso sexo. Aqui, podemos ser brancos, mas nos Estados Unidos somos latinos.
Podemos exercer nosso preconceito contra os negros ou asiáticos, mas quando
viajamos para outro país, sofremos na pele o preconceito também.
O preconceito, repito, é uma ignorância.
Achar-se superior ao outro é egocentrismo. Crianças
são egocêntricas. Adultos deveriam ter ultrapassado a fase pré-operatória de
Piaget e agir como seres inteligentes e lógicos.
Alguém realmente acha que a cor da pele ou a
preferência sexual interfere em nossas funções primordiais, como a cognição, a
personalidade, a capacidade de julgamento, a inteligência ou o caráter?
Algumas raças têm predisposição para determinados
distúrbios. Isto é fato. Mas somos muito mais do que incapacidades físicas.
Somos capazes de tomar decisão, de controlar nossos impulsos, de julgar situações,
de resolver problemas, de analisar fatos. Nossa capacidade mental independe de
raça, credo ou sexo.
Crianças malnutridas, brancas, negras ou amarelas,
correm o risco de ter algumas funções cognitivas alteradas. A genética, em
católicos, protestantes, espíritas ou budistas pode ser igualmente benéfica ou
maléfica. No final das contas, quem realmente decide é a sociedade com suas
injustiças e seus padrões diferenciados.
Crianças que tiram notas ruins em provas são
vítimas de preconceitos. São burras, dizem. No entanto, podem ser ótimas
dançarinas, músicas, artistas, escritoras, enxadristas. No entanto, basta ir
mal em uma prova de matemática que ficam estigmatizadas pelo resto da vida como
burras.
Nordestinos sofrem preconceitos diários, principalmente
na metrópole de São Paulo. Negros são vistos como malfeitores. Asiáticos roubam
suas vagas na faculdade. Não importa o quanto estudem ou se esforcem. É a raça.
Homossexuais são, até hoje, vítimas de maus tratos e violências.
Podemos ser diferentes?
Todos nós queremos nos destacar, ser diferentes.
Mas podemos, realmente, ser diferentes?
O adolescente precisa pertencer a um grupo. Precisa
ser aceito. Então, viramos adultos e nada muda. Queremos ser diferentes, mas
abominamos o diferente.
Mulher bêbada é um horror. Homem que chora é
afeminado. As mensagens são claras. Não se destaque. Não seja diferente. Siga a
boiada. Seja igual a todo mundo. Ninguém quer pagar o preço de se destacar. E
há, sim, um preço muito alto a se pagar.
Cecília gosta de beber. Gosta de cantar. Gosta de
se divertir. Em uma festa, prefere ficar com os homens falando de futebol do
que com as mulheres falando sobre filhos e trabalhos de casa. Cecília é mal
vista. Uma mulher não deveria se comportar assim. Mulher não deveria beber.
Mulher não deveria se misturar aos homens. Mulher tem que ser mãe e
esposa.
Rafael é delicado e amoroso. Não tem namorada e
gosta de se relacionar com mulheres. Rafael foi taxado de homossexual e passou
a ser evitado por seus colegas.
Enrico é um médico cubano. De cara foi tabelado
como incompetente e oportunista e sofreu tratamentos horríveis em um país
conhecido por ser hospitaleiro.
Se quisermos escapar às críticas, basta ficarmos na
sombra e não nos destacarmos em absolutamente nada. Quanto mais você se
levanta, maior a chance de se tornar um alvo. Ninguém chuta um cachorro morto.
Lutando contra o preconceito
Qual é o caminho, então, para acabar com o
preconceito? Acabar com a ignorância. Conheça. Conheça o seu vizinho. Conheça o
seu colega de trabalho. Converse, saia de seu casulo. Conheça, evite a
ignorância.Julgar é fácil. Olhar as aparências é fácil. Olhe além. Observe com
profundidade. Conheça, conheça, conheça.
Ninguém é melhor do que ninguém. Os diferentes
também são iguais. E os iguais também são diferentes. Não tenha medo.
Aprofunde-se. Não se conforte em crenças construídas há muito tempo e que não
são suas. Seja melhor. Conheça.Todos nós somos maravilhosamente iguais e
diferentes. Aceitemos as diferenças, pois são elas que nos fazem crescer. E, no
fundo, somos todos iguais. Carentes de amor, de saúde, de afeto e de aceitação.
Preconceito é ignorância.
Em 2013, a autora lançou seu primeiro livro “Você
Me Conhece?” e dois anos depois o livro “E Viveram Felizes Para Sempre”, ambos
com um enfoque em relacionamentos humanos e psicologia.Três anos após a especialização
em Neuropsicologia, Lucia lançou os três primeiros livros: “Por Todo Infinito”,
“Só por Cima do Meu Cadáver” e “Uma Dose Fatal”, da coleção DeZequilíbrios.
Composta por dez livros independentes entre si, a coleção explora a mente
humana e os relacionamentos pessoais. Cada volume conta um drama diferente,
envolvendo um distúrbio psiquiátrico, tendo como elo o entrelaçamento da vida
da personagem principal.Agora em 2018, a psicóloga lança mais três livros: “A
Mulher do Vestido Azul”, “Não Me Toque” e “Um Copo de Veneno”, totalizando seis
livros da coleção.
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