quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Déficit nutricional pode comprometer a visão no médio prazo


Oftalmologista revela o que as pessoas devem comer para enxergar melhor


Pesquisadores da Universidade de Bristol, no Reino Unido, se depararam com um caso raro na Medicina: um rapaz de 17 anos com perda de visão sem causa aparente. Depois de muita investigação, chegaram à conclusão de que, embora o jovem tivesse peso e altura compatíveis com sua faixa etária, o excesso de alimentação com baixo ou nenhum valor nutricional – o que inclui frituras, salgadinhos industrializados, biscoitos e fast-food – foi responsável pela neuropatia óptica desenvolvida ao longo de vários anos.

A neuropatia óptica nutricional é uma disfunção do nervo óptico que pode ser revertida se diagnosticada e tratada precocemente, incluindo uma mudança radical nos hábitos alimentares do paciente.  Quando não tratada, pode levar a danos estruturais permanentes no nervo óptico e cegueira. No Reino Unido, assim como nos demais países desenvolvidos, as causas mais comuns desse tipo de comprometimento da visão são graves problemas intestinais ou medicamentos que interferem na absorção de vários nutrientes importantes. Os testes mostraram que o paciente apresentava deficiência de vitamina B12, baixos níveis de cobre e selênio, alto nível de zinco e baixíssimo nível de vitamina D. 

Na opinião da coordenadora do estudo, a médica oftalmologista Denize Atan, este caso demonstra que avaliar apenas a quantidade calórica ingerida pelo paciente ou ainda seu IMC não é suficiente para conhecer o status nutricional de uma pessoa. “Nossa visão exerce um papel tão importante na qualidade de vida, educação, emprego, vida social e saúde mental, que precisamos cuidar bem dela”. Quem compartilha esse posicionamento é o oftalmologista brasileiro Renato Neves, diretor-presidente do Eye Care Hospital de Olhos, em São Paulo. “Ter hábitos saudáveis, como comer e dormir bem, além de não fumar e se hidratar sempre, é meio caminho andado para ter boa saúde ocular”.

De acordo com o médico, a dieta mediterrânea é um modelo nutricional ao qual os brasileiros com ascendência italiana ou grega estão razoavelmente familiarizados e que faz muito bem à visão. “Os alimentos tradicionalmente mais consumidos incluem cereais, frutas, legumes, azeite, peixes e nozes. Carne e derivados de leite são consumidos em pouca quantidade. Já o vinho e o suco de uva integral são altamente recomendados, mas em doses moderadas. Existem variantes dessa dieta que são contribuições de outros países banhados pelo Mediterrâneo, como França, Espanha, Portugal, Marrocos, Turquia etc. Tudo vai depender da produção agrícola e de fatores culturais e religiosos”.

Estudo realizado em Coimbra (Portugal) revelou que esse tipo de alimentação pode efetivamente reduzir o risco de degeneração macular relacionada à idade (DMRI).  Neves afirma que somente essa doença ocular acomete quase 30% dos pacientes acima dos 75 anos. “É importante se comprometer com a diminuição da ingestão de carboidratos, alimentos gordurosos, carne vermelha, embutidos, açúcar e sal. Também é fundamental acrescentar mais peixes às refeições, principalmente salmão, atum, sardinha e bacalhau – que são ricos em Omega-3. Aumentar a ingestão de vitaminas, minerais, proteínas saudáveis e luteína traz vários benefícios para a saúde ocular e para a saúde em geral.  Alimentos antioxidantes combatem o envelhecimento precoce e ainda doenças como degeneração macular, catarata e olho seco. Sendo assim, vale a pena ingerir mais frutas de várias cores e verduras de tonalidade verde-escuro (espinafre, couve e brócolis), já que contêm antioxidantes que protegem os olhos, reduzindo os danos provocados pelos radicais livres”.

O oftalmologista aproveita para “viralizar” uma receita. “A salada para enxergar bem deve acompanhar um salmão ou atum grelhado durante as refeições e leva um maço de espinafre cortado, seis folhas frescas de alface, duas cenouras raladas, uma berinjela pequena levemente cozida e cortada em cubos, um maço de brócolis, cubinhos de pimentão sem pele (amarelo, verde e vermelho), seis unidades de couve-de-bruxelas, sementes de linhaça dourada e castanhas-do-pará trituradas. Esses ingredientes são ricos em nutrientes importantes para a visão e a salada pode ser temperada com um molho igualmente especial, que leva óleo de canola, suco de limão, vinagre de maçã, mostarda de Dijon, um filé de anchova ralado, uma gema de ovo e queijo parmesão. Trata-se de uma refeição excelente não só para os dias quentes, mas para o ano inteiro”. 






Prof. Dr. Renato Neves - cirurgião-oftalmologista, diretor-presidente do Eye Care Hospital de Olhos (SP) www.eyecare.com.br


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