Duas das principais entidades médicas
americanas reivindicam impostos mais altos para os refrigerantes e a proibição
de publicidade da bebida, na esperança de desencorajar as crianças a
consumi-los.
Em um comunicado conjunto, a Academia Americana de
Pediatria e a Associação Americana de Cardiologia endossaram uma série de
recomendações que, segundo as entidades médicas, poderão ajudar a reduzir as
taxas de diabetes tipo 2 e de doenças cardiovasculares, bem como a crescente
epidemia de obesidade.
Segundo os autores do comunicado, “os
profissionais de saúde vêm tentando e fracassando no intento de restringir a
ingestão de refrigerantes, apenas por meio da educação e das escolhas
individuais. Assim como as mudanças nas políticas públicas foram
necessárias e eficazes na redução do consumo de tabaco e álcool, precisamos de
mudanças nas políticas públicas que ajudem a reduzir o consumo de refrigerantes
entre crianças e adolescentes”.
A taxa de obesidade infantil triplicou
desde a década de 1970, afetando uma em cada cinco crianças nos EUA, de acordo
com os Centros para Controle e Prevenção de Doenças. A obesidade infantil é
hoje a principal preocupação de saúde entre os pais, nos EUA, superando o abuso
de drogas e o tabagismo. E após a infância, a obesidade continua a atormentar
mais de um terço dos adultos norte-americanos. Os especialistas alertam que
essa proporção só crescerá entre as gerações mais jovens, pois muitos fatores
contribuem para isso: pouca atividade física e aumento no consumo de junk food e de
refrigerantes.
“O consumo de muito açúcar tem sido
associado a vários problemas de saúde como asma, cáries, aumento dos níveis de
colesterol ruim (LDL) e aumento do risco de pressão alta e doenças cardíacas”,
explica o pediatra e homeopata, Moises Chencinski.
Nos EUA, as crianças consomem uma
média de 30 litros de refrigerantes por ano, o equivalente a cerca de meia
banheira cheia de açúcar. Embora o consumo de refrigerante tenha diminuído no
país, crianças e adolescentes ainda somam às suas dietas cerca de 143 calorias
por dia, provenientes dos refrigerantes.
A Associação Americana de Cardiologia
recomenda que as crianças não consumam mais do que seis colheres de chá de
açúcar ou 100 calorias por dia. “Para as crianças, a maior fonte de açúcar
adicionado frequentemente não é o que comem, é o que bebem. Como pediatra, sei
bem que os refrigerantes representem riscos reais e evitáveis à
saúde das crianças, incluindo cárie dentária, diabetes, obesidade e doenças cardíacas”, diz o pediatra.
É por isso que, entre muitas
recomendações, as duas entidades médicas americanas pedem que os legisladores
aumentem o preço dos refrigerantes em nível local, estadual e federal, via
cobrança de impostos.
Em março de 2015, Berkeley, na
Califórnia, tornou-se a primeira cidade do país a impor um imposto de 1% sobre
os refrigerantes. Um ano após a introdução do imposto, as vendas caíram 9,6%,
enquanto as vendas nas áreas vizinhas aumentaram 6,9%, segundo um estudo de 2017. As vendas de água aumentaram
15,6%, após o aumento dos impostos e as vendas de outras bebidas não
tributadas, como chás sem açúcar, leite e sucos de frutas também aumentaram.
Desde então, várias cidades dos EUA
estão seguindo esse exemplo, incluindo São Francisco, Oakland e Albany, na
Califórnia; Filadélfia, Pensilvânia; Boulder, Colorado; Condado de Cook,
Illinois; Portland, Oregon; e Seattle, Washington. Segundos os autores do
estudo, o aumento de impostos é uma ótima medida, pois ele realmente diminui o
consumo de refrigerantes.
A indústria dos refrigerantes
A indústria de refrigerantes gastou
bilhões de dólares fazendo campanha contra os impostos e tentando influenciar a
pesquisa a ser mais favorável aos refrigerantes. “Apoiamos pais que querem
menos açúcar nas dietas de seus filhos, produzindo mais bebidas com menos ou
nenhum açúcar. Hoje, 50% de todas as bebidas vendidas contêm zero açúcar.
Buscamos, ainda, reduzir as calorias em 20% até 2025", diz o comunicado da
Associação Americana de Bebidas.
Restrições e proibições
Mas as entidades médicas querem muito
mais. No comunicado conjunto, elas também incluíram a exigência de que a
quantidade de açúcar adicionada aos refrigerantes seja exibida nos rótulos
nutricionais e cardápios dos restaurantes, e que o leite e a água sejam as
opções padrão de bebidas nos cardápios infantis. Também estão pedindo
regulamentações federais que reduzam a quantidade de publicidade de junk food na TV, on-line e
em outdoors.
Vários estudos mostram que crianças
negras e hispânicas veem uma parcela desproporcional de anúncios de
refrigerantes em comparação com seus pares brancos. Enquanto isso, 26% dos
jovens hispânicos e 22% dos jovens negros são obesos, em comparação com 14% dos
jovens brancos.
Alguns profissionais de saúde
reivindicam proibições generalizadas semelhantes à forma como os anúncios de
cigarro foram banidos do rádio e da televisão, em 1971, enquanto outros
propuseram legislação para acabar com a dedução fiscal federal do refrigerante
para crianças.
A declaração conjunta vem na esteira
de um estudo divulgado pela Escola de Saúde
Pública de Harvard, que descobriu que o consumo de refrigerantes e bebidas
esportivas estava associado a um risco 30% maior de morte prematura entre
adultos dos EUA.
“Beber água no lugar de refrigerante é
uma escolha saudável que pode contribuir para a longevidade. O refrigerante diet pode ser usado para
ajudar os consumidores frequentes de bebidas açucaradas e os diabéticos a
reduzirem seu consumo, mas a água é a melhor e mais saudável escolha”, orienta
Moises Chencinski.
Moises Chencinski
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