quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Atum deve ser congelado antes de ser consumido cru


Pesquisa do IB mostrou pela primeira vez no Brasil contaminação do peixe pela bactéria Campylobacter jejuni


Frequentar restaurante japonês e comer peixe cru já são hábitos de parte da população, especialmente os paulistanos. A visita a esses estabelecimentos e o consumo de peixes sem cozimento requer, porém, alguns cuidados para evitar contaminação e problemas intestinais. Pesquisa desenvolvida na Pós-Graduação em Sanidade, Segurança Alimentar e Ambiental no Agronegócio do Instituto Biológico (IB-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, em 2012, avaliou 85 amostras de atuns frescos, pescados no litoral de Santa Catarina e vendidos no comércio atacadista em São Paulo. A pesquisa de mestrado mostrou que 11,7% das amostras estavam contaminadas com a bactéria Campylobacter jejuni. Esta é a primeira vez que a bactéria é encontrada em atum fresco no Brasil. O consumo da carne contaminada com esse patógeno pode causar diarreia, vômitos, e até mesmo a síndrome de Guillain-Barré, dependendo da cepa.

O estudo mostrou também que 13% das amostras estavam contaminadas com a bactéria Aeromonas hydrophila, mais comum de ser encontrada em pescado e que pode causar diarreia e outras complicações, como septicemia – uma infecção grave no sangue.

"Para evitar a contaminação, a população e os restaurantes devem congelar o atum, assim como é feito com o salmão. No congelamento, o desenvolvimento dessas bactérias é praticamente inviabilizado. Não elimina 100% das chances de contaminação, mas diminui bastante o risco", afirma a pesquisadora do IB, Eliana Scarcelli Pinheiro, que foi orientadora de mestrado de Andréa Moura Costa, autora da dissertação "Detecção de Aeromonas hydrophila e Campylobacter jejuni em atum (Thunnus spp.) fresco comercializado em São Paulo, Brasil".

A pesquisadora explica que a população não deve se alarmar e deixar de consumir o atum cru, mas precisa tomar alguns cuidados para evitar a contaminação. Além do congelamento, Eliana afirma que os restaurantes e consumidores em geral devem comprar o peixe apenas de fontes seguras e manipular os alimentos em local de muita higiene.

"Não é possível identificar a olho nu os peixes contaminados com Campylobacter jejuni. A Aeromonas hydrophila pode causar lesão na pele do animal e ele é normalmente descartado, porém, ela pode colonizar o intestino dos peixes, não sendo possível sua detecção. Por isso, é muito importante que a faca e tábua sejam bem higienizadas, para evitar a contaminação cruzada com outros alimentos ingeridos crus", explica a pesquisadora do Instituto Biológico.

A pesquisa publicada na revista Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, da Universidade de São Paulo (USP), fez parte de um grande projeto da PG-IB relacionado à detecção de perigos biológicos em alimentos de origem animal e vegetal.


Grandes animais

Segundo Eliana, a bactéria Campylobacter jejuni é considerada uma zoonose, ou seja, doença que pode ser transmitida dos animais para os seres humanos, tanto por animais de companhia, como gatos e cães, quanto por animais de produção, como bovinos, por meio do consumo de leite cru e pela carne contaminada de aves e suínos. "Essa bactéria nos animais causa, principalmente, problemas intestinais e relacionados à reprodução, como o abortamento", afirma.




Fernanda Domiciano




APTA
A Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, tem a missão de coordenar e gerenciar as atividades de ciência e tecnologia voltadas para o agronegócio. Sua estrutura compreende o Instituto Agronômico (IAC), Instituto Biológico (IB), Instituto de Economia Agrícola (IEA), Instituto de Pesca (IP), Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL) e Instituto de Zootecnia (IZ), além dos 11 Polos Regionais distribuídos estrategicamente no Estado de São Paulo.Balanço Social realizado pela Agência no biênio 2016/2017 mostrou que a cada real investido, a APTA retornou R$ 12,20 para a sociedade. As 48 tecnologias analisadas e adotas pelo setor produtivo tiveram R$ 10,9 bilhões de impacto econômico no período. Isso significa mais produtividade no campo, sustentabilidade da produção, renda para o produtor rural e alimentos de qualidade para a população

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