sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Outubro Rosa: a mente da paciente com câncer de mama


 No mês de combate ao câncer de mama vamos abordar como lidar positivamente com o diagnóstico e manter a autoestima


Foi na década de 90 que a Campanha Outubro Rosa teve início, o movimento tem como foco alertar as mulheres para a prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama, pois as chances de cura são maiores quando a doença é descoberta no início. No Brasil, esse tipo de câncer é o segundo que mais atinge as mulheres, perdendo apenas para o câncer de pele não melanoma.

Por isso, todos os anos essa campanha ganha mais voz para que as mulheres façam o auto exame e também mamografias frequentemente. No Brasil, 28,1% dos casos de câncer (em mulheres) são os de mama, um percentual mais elevado do que a média mundial que chega a 25%.

Alguns nódulos encontrados ou alterações não se configuram como câncer, é fato, mas apenas um médico pode dizer com certeza e indicar o melhor caminho a seguir. Mas e quando o resultado é positivo? Essa confirmação é o maior medo de grande parte das mulheres, afinal, apesar dos avanços da medicina a doença ainda não tem uma cura e o tratamento é extremamente sofrido e sem garantias de sucesso. A luta contra o câncer é uma batalha muito pesada e a mente precisa estar saudável para não padecer, além disso, é preciso controle para manter a autoestima e a vontade de lutar pela vida.

Para Freud a forma como nos relacionamos com nosso corpo tem uma história, que a própria história da nossa formação. Muitas vezes pudores adquiridos na família ou na escola em relação aos seios ou à condição de ser mulher são extremados no período da doença. Ás vezes por educação religiosa ou às vezes por falta de informação ou pudor, muitas mulheres estigmatizam determinadas áreas do corpo como sendo proibidas ou restritas a determinadas utilidades, isso dificulta o autoexame (já que muitas não se tocam com atenção) e torna o tratamento mais doloroso do que ele seria por si só.

Muitas mulheres com câncer de mama encontram na doença um descanso para suas vidas sexuais insatisfatórias. Hoje em dia sexo é uma prática obrigatória, signo de saúde mental e bem-estar, e muitas mulheres se veem socialmente obrigadas a cumprirem papéis (desinibida, sexy, ativa) nos quais não se sentem à vontade. Reconhecer esses ou outros traços de ambivalência na doença é o papel da clínica psicanalítica.

“Na clínica, a mulher é convidada a refletir sobre o lugar da sua feminilidade: para além de seios, cabelos e cílios longos, o que é ser mulher? Essa resposta, sempre individual e única levará essa mulher a possibilidade de se reconhecer e se amar, na saúde e na doença”, explica a psicanalista Debora Damasceno, coordenadora da Escola de Psicanálise de São Paulo.

Muitas vezes, após o tratamento e até mesmo durante, as mulheres sentem muita vergonha do corpo, não se olham no espelho e não deixam seus parceiros olharem. Algumas tentam recuperar a autoestima e a feminilidade de outras formas, chamando a atenção na maquiagem, nos colares, nos lenços e perucas, assim, fazendo com que a atenção não fique voltada aos seios.

“A Psicanálise é uma disciplina que nos convida a viver a vida tal qual ela se apresenta e não a partir do que ela deveria ser no ideal. Entender que a doença não é fruto de nenhum mal pensamento e de nenhuma má ação, mas uma contingência que vai acometer um certo número de pessoas, se responsabilizar pelo próprio tratamento e se comprometer com o cuidado de si são, por assim dizer, as competências que queremos desenvolver durante o processo de tratamento. E também depois, no período da cura” reflete Débora.

“Depois do tratamento vem a vida e suas angústias. É um mecanismo normal da nossa mente construir como medos futuros situações dolorosas do passado. O papel da Psicanálise nesse momento é reestabelecer a percepção temporal junto com o reconhecimento da própria capacidade de suporte e superação tanto da doença quanto de condições insatisfatórias de vida cotidiana”, conclui Débora Damasceno.



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