No mês de combate
ao câncer de mama vamos abordar como lidar positivamente com o diagnóstico e
manter a autoestima
Foi na década de 90 que a Campanha Outubro Rosa
teve início, o movimento tem como foco alertar as mulheres para a prevenção e
diagnóstico precoce do câncer de mama, pois as chances de cura são maiores
quando a doença é descoberta no início. No Brasil, esse tipo de câncer é o
segundo que mais atinge as mulheres, perdendo apenas para o câncer de pele não
melanoma.
Por isso, todos os anos essa campanha ganha mais
voz para que as mulheres façam o auto exame e também mamografias
frequentemente. No Brasil, 28,1% dos casos de câncer (em mulheres) são os de
mama, um percentual mais elevado do que a média mundial que chega a 25%.
Alguns nódulos encontrados ou alterações não se
configuram como câncer, é fato, mas apenas um médico pode dizer com certeza e
indicar o melhor caminho a seguir. Mas e quando o resultado é positivo? Essa
confirmação é o maior medo de grande parte das mulheres, afinal, apesar dos
avanços da medicina a doença ainda não tem uma cura e o tratamento é extremamente
sofrido e sem garantias de sucesso. A luta contra o câncer é uma batalha muito
pesada e a mente precisa estar saudável para não padecer, além disso, é preciso
controle para manter a autoestima e a vontade de lutar pela vida.
Para Freud a forma como nos relacionamos com nosso
corpo tem uma história, que a própria história da nossa formação. Muitas vezes
pudores adquiridos na família ou na escola em relação aos seios ou à condição
de ser mulher são extremados no período da doença. Ás vezes por educação religiosa
ou às vezes por falta de informação ou pudor, muitas mulheres estigmatizam
determinadas áreas do corpo como sendo proibidas ou restritas a determinadas
utilidades, isso dificulta o autoexame (já que muitas não se tocam com atenção)
e torna o tratamento mais doloroso do que ele seria por si só.
Muitas mulheres com câncer de mama encontram na
doença um descanso para suas vidas sexuais insatisfatórias. Hoje em dia sexo é
uma prática obrigatória, signo de saúde mental e bem-estar, e muitas mulheres
se veem socialmente obrigadas a cumprirem papéis (desinibida, sexy, ativa) nos
quais não se sentem à vontade. Reconhecer esses ou outros traços de
ambivalência na doença é o papel da clínica psicanalítica.
“Na clínica, a mulher é convidada a refletir sobre
o lugar da sua feminilidade: para além de seios, cabelos e cílios longos, o que
é ser mulher? Essa resposta, sempre individual e única levará essa mulher a
possibilidade de se reconhecer e se amar, na saúde e na doença”, explica a
psicanalista Debora Damasceno, coordenadora da Escola de Psicanálise de São
Paulo.
Muitas vezes, após o tratamento e até mesmo
durante, as mulheres sentem muita vergonha do corpo, não se olham no espelho e
não deixam seus parceiros olharem. Algumas tentam recuperar a autoestima e a feminilidade
de outras formas, chamando a atenção na maquiagem, nos colares, nos lenços e
perucas, assim, fazendo com que a atenção não fique voltada aos seios.
“A Psicanálise é uma disciplina que nos convida a
viver a vida tal qual ela se apresenta e não a partir do que ela deveria ser no
ideal. Entender que a doença não é fruto de nenhum mal pensamento e de nenhuma
má ação, mas uma contingência que vai acometer um certo número de pessoas, se
responsabilizar pelo próprio tratamento e se comprometer com o cuidado de si
são, por assim dizer, as competências que queremos desenvolver durante o
processo de tratamento. E também depois, no período da cura” reflete Débora.
“Depois do tratamento vem a vida e suas angústias.
É um mecanismo normal da nossa mente construir como medos futuros situações
dolorosas do passado. O papel da Psicanálise nesse momento é reestabelecer a
percepção temporal junto com o reconhecimento da própria capacidade de suporte
e superação tanto da doença quanto de condições insatisfatórias de vida
cotidiana”, conclui Débora Damasceno.
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