O comércio internacional é um forte motor do
crescimento econômico e da geração de empregos. Nações outrora economicamente
estagnadas, como China, Índia e alguns países do Leste Europeu, perceberam no
comércio exterior um mecanismo de aceleração econômica. Nos Estados Unidos,
cada US$ 1 bilhão de crescimento das exportações gera mais de 20 mil empregos.
Como apontou Tamer Cavusgil, graças ao comércio internacional “o rápido
crescimento econômico dos países emergentes está estimulando sólidas conquistas
nos padrões de vida. A crescente prosperidade acarreta melhorias nos índices de
alfabetização, nutrição e saúde.”
Por isso vale tanto à pena dedicar-se aos negócios
internacionais. Nessa área, cada país, possui vantagens competitivas na
produção de certos itens. Enquanto a China – graças a sua larga mão de obra –
se destaca na produção de manufaturados, o Brasil, por seu tamanho continental
e sua variedade climática, é bastante competitivo no campo: de soja a açúcar,
passando por proteínas animais. Assim, possuímos uma clara vantagem na
exportação de commodities, o que se percebe com facilidade ao olhar a balança
comercial.
A força do agronegócio brasileiro há muito tempo
assusta os europeus. O açúcar brasileiro sofre restrições quantitativas para
entrar na União Europeia, além da alíquota de cerca de 93 euros por tonelada.
Cotas são aplicadas também à carne bovina, ao etanol e a outros produtos,
visando proteger os pequenos agricultores. Automóveis fabricados no Mercosul –
obviamente não são commodities – mas pagam uma tarifa de cerca de 35% para entrar
naquele continente.
Esses fatores, em conjunto, travam a assinatura
final de um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, que
vem sendo negociado há quase 20 anos. Os europeus querem proteger seus pequenos
agricultores, obviamente ameaçados pela escala e eficiência produtiva
brasileira no setor agrícola. Os países membro do Mercosul, em especial o
Brasil, esperam manter a quebra de patente de medicamentos e conseguir vender
um número maior de produtos na Europa.
Todas essas divergências de posição levam em conta
os fatores internos de ambos os blocos, sendo absolutamente naturais. É dever
dos governos estimular seus setores produtivos, em especial aqueles mais
vantajosos e rentáveis. Ao mesmo tempo, os países tentam proteger, de alguma forma,
as áreas consideradas mais vulneráveis. Ainda assim, também é necessário
ampliar os mercados para os nossos produtos, o que ocorreria através do acordo.
Outro complicador notável são as incertezas
econômicas e políticas no Brasil e na Argentina. Os argentinos sofreram neste
ano uma intensa desvalorização de sua moeda e pediram recursos ao FMI. O Brasil
também viu o real se desvalorizar, e ainda que a economia tenha dado alguns
sinais de melhora, o nível de desemprego permanece alto e há muito o que fazer.
Somada à questão econômica de nosso país, a incerteza da corrida eleitoral
preocupa investidores externos e internos: a possibilidade da eleição de um
candidato ou candidata não comprometido com as reformas da previdência e do
setor tributário pode elevar o risco do país e afetar largamente as contas
públicas, travando ainda mais o crescimento.
Nesse cenário, o acordo comercial que poderia
facilitar a inserção dos produtos brasileiros no continente europeu, se arrasta
vagarosamente. Uma vez que a internacionalização de nossas empresas é
facilitada, a produção, o emprego e a industrialização aumenta.
Tradicionalmente, empresas que atuam nos mercados externos são menos
suscetíveis a crises econômicas, e por muitas vezes confrontarem-se com
mercados mais exigentes, aumentam a qualidade de seus produtos e serviços.
A internacionalização permite também maiores
economias de escala, acesso mais fácil a recursos e impacta diretamente na
balança comercial do país. No que tange ao acordo Mercosul-EU, o Brasil tem
sido mais cauteloso ao efetuar concessões do que a Argentina, Uruguai e o
Paraguai, o que reduz as esperanças de que o dito tratado seja concluído nesse
ano.
Seja como for, com ou sem tratado, há outra forma
de estimular as exportações: desburocratizando o comércio exterior, que sofre
hoje com mais de 3.600 normas diferentes, aumentando a eficiência aduaneira
para envio e recebimento de mercadorias; e buscando melhorar nossas relações
comerciais com a China e com os países da Aliança do Pacífico. Talvez seja esse
um dos papéis do próximo ou da próxima mandatária da nação: aumentar a inserção
dos produtos e das empresas brasileiras nos mercados mundiais. Se isso
acontecesse, certamente teríamos um país mais próspero.
João Alfredo Lopes
Nyegray doutorando em Estratégia, é
mestre em Internacionalização, advogado e bacharel em Relações Internacionais.
É professor dos cursos de Relações Internacionais, Comércio Exterior,
Administração e Economia da Universidade Positivo (UP).
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