quarta-feira, 27 de junho de 2018

As relações humanas salvam


Há filmes que são absolutamente surpreendentes pela mudança de tom que apresentam no seu desenrolar. É o caso da obra sul-coreana ‘Eu consigo falar’, de Kim Hyun Seok. O que parece ser apenas uma comédia sobre uma senhora que decide aprender a falar inglês com um jovem funcionário público se torna uma incisiva denúncia humanitária.

O tema central, ao contrário do que parece inicialmente, não é o domínio de uma nova língua, no caso, o inglês; mas sim o fato de o Japão não reconhecer publicamente a existência das chamadas ‘Mulheres do conforto’, escrevas sexuais sul-coreanas exploradas pelos soldados japoneses durante a Segunda Guerra Mundial.

Enquanto a protagonista consegue aprender inglês para se pronunciar em Washington, EUA, sua melhor amiga, que a salvara de cometer suicídio quando eram abusadas sexualmente no Japão, deixa seu relato por escrito quando, vítima de Alzheimer, começa a perceber que está perdendo a memória.

O relacionamento entre o funcionário público, que cuida do irmão mais novo após perder os pais, e a sua idosa aluna é repleto de delicadezas. Em paralelo à violência da guerra, está o conflito cotidiano que envolve pessoas comuns e o mercado imobiliário, por exemplo. Num mundo caótico, apenas as relações humanas sinceras salvam.






Oscar D'Ambrosio - mestre em Artes Visuais e doutor em Educação, Arte e História da Cultura, é Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.


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