Projeto do IB
Unesp Botucatu, em parceria com universidades norte americanas, avaliará os
efeitos do ftalato, composto químico utilizado na fabricação de plásticos e
cosméticos
Um projeto
coordenado pelo Prof. Dr. Wellerson Rodrigo Scarano, do Departamento de
Morfologia do Instituto de Biociências (IB) da Unesp, câmpus Rubião Júnior –
Botucatu, acaba de ser aprovado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo) através da modalidade Sprint – São Paulo Researchers in
International Collaboration. Ele terá o apoio financeiro pelo período de dois
anos.
Intitulada “A collaborative study between Brazilian and US
scientists: the effects of environmental chemical exposures on reproduction”
[Um estudo colaborativo entre cientistas brasileiros e norte-americanos: os
efeitos das exposições a substâncias químicas ambientais na reprodução – em
português], a proposta busca estudar o impacto da mistura dos seis subtipos de
ftalatos mais incidentes na população humana, por meio de experimentos com
animais de laboratório. Desta maneira poderá ser avaliada a repercussão dessa
exposição sobre a reprodução.
Efeitos dos ftalatos
Ftalatos são compostos químicos com atividade
antiandrogênica, isto é, capazes de bloquear ou inibir o andrógeno, hormônio de
desenvolvimento masculino. Alguns estudos tem demonstrado seu potencial
cancerígeno em diferentes órgãos (dependendo da dose e período de exposição).
São bastante utilizados na indústria em geral. Seja
para dar maior “maciez” a produtos plásticos, como embalagens e brinquedos.
Como também permitir mais brilho, fixação de cor, durabilidade e cremosidade a
cosméticos como esmaltes, perfumes, xampus, entre outros. Neste contexto,
estudos científicos apontam que o contato em excesso a esta substância pode
afetar diretamente a saúde do ser humano.
Os ftalatos estão classificados pela Agência
Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) como “possivelmente
carcinogênicos” para humanos (grupo 2B), ou seja, possuem características que
estimulariam o processo de formação do câncer. Na Europa, o uso dos ftalatos é
proibido em cosméticos, além de serem considerados como tóxicos para o sistema
reprodutivo.
“Já no Brasil, desde 2009, são limitadas as
concentrações de ftalatos e seus derivados (não mais que 1% em peso de
ftalato), em copos e garrafas plásticas descartáveis, seguindo resolução da
Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Ainda estão em andamento
dois projetos de lei que tratam da proibição do uso de ftalatos em aparatos
médicos (Projeto de Lei 3221/12) e em produtos infantis (Projeto de Lei
3222/12)”, contextualiza Scarano.
Ainda segundo o docente do IB, existem uma série de
evidências científicas que demonstra que os ftalatos, e outros agentes
químicos, alteram variáveis reprodutivas importantes em machos e fêmeas, incluindo
a redução de fertilidade, malformação de órgãos reprodutores e aumento da
susceptibilidade a doenças como o câncer de mama, ovário e próstata.
“Muitos desses dados são experimentais e alguns
estudos em humanos têm demonstrado a influência dessas substâncias no
desenvolvimento de órgãos reprodutores, sendo que o principal período crítico
seria o período gestacional, onde os embriões/fetos estariam mais susceptíveis
a ação desses agentes químicos ambientais, pois eles mimetizam a ação de
hormônios e isso altera o desenvolvimento desses órgãos”, esclarece.
Parceria Brasil-EUA
Além do Prof. Scarano e outros pesquisadores do IB
Unesp, também integram o projeto profissionais da Universidade Estadual de
Londrina, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Universidade de Harvard e
da Universidade de Illinois (EUA). Esta última, com a participação da Dra. Jodi
Anne Flaws, importante nome, em nível mundial, na área de toxicologia
reprodutiva feminina.
“A Dra. Flaws é a responsável pelo estudo que
mapeou a quantidade e a proporção de ftalatos em mulheres grávidas em Illinois,
e a parceria surgiu pela possibilidade de agregar estudos em toxicologia
reprodutiva. Ela deverá estudar aspectos moleculares envolvidos com a
reprodução feminina (ovários)” explica Scarano.
“Enquanto a equipe brasileira, coordenada por mim,
deverá se debruçar sobre aspectos epigenéticos envolvidos com o desenvolvimento
e susceptibilidade ao câncer na próstata, bem como, aspectos reprodutivos
masculinos envolvidos com a fertilidade em machos”, complementa o docente, que
há 10 anos trabalha nesta mesma linha de pesquisa. Nessa fase, a pesquisa ainda
contará com a colaboração do Dr. Bernardo Lemos, da Escola de Saúde Pública da
Universidade de Harvard.
Sobre o Sprint
O Programa SPRINT é uma estratégia que consiste no
anúncio simultâneo de oportunidades de colaboração internacional com diversos
parceiros da FAPESP. Além de promover o engajamento de pesquisadores vinculados
a instituições de ensino superior e pesquisa no Estado de São Paulo com
pesquisadores parceiros no exterior, o SPRINT tem por objetivo contribuir para
o planejamento mais conveniente para as submissões de propostas de mobilidade
(seed funding).
Como resultado espera-se o avanço qualitativo nos
projetos de pesquisa em andamento e também que os pesquisadores parceiros
trabalhem cooperativamente visando a elaboração de projetos de pesquisa
conjuntos de médio e longo prazo.
Lista dos 6 subtipos de ftalado mais encontrados na
população humana:
19% DEHP (Bis(2-ethylhexyl) phthalate)
36% DEP (Diethylphthalate)
15% DBP (Di-n-butilphthalate)
10% DiBP (DiisobutylPhthalate)
10% DiNP (Diisononylphthalate)
8% BBzP (Butylbenzylphthalate)
Prof. Dr. Wellerson Rodrigo Scarano, do
Departamento de Morfologia do Instituto de Biociências (IB) da Unesp Botucatu
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