Monge Hondaku explica os cinco pontos que devemos mudar para
colhermos frutos em nossa evolução espiritual
A busca por uma vida espiritualizada
parece ser uma necessidade do ser humano há milênios, principalmente quando a
vida parece estar sem sentido ou quando tudo parece estar dando errado. Nessa
mesma proporção também parece que o ser humano sempre busca o mais simples, o
mais fácil e porque não, o mais rápido, para resolver seus problemas, mesmo em
se tratando de evolução espiritual.
Nossos
aplicativos de mensagens que o digam, com tantas correntes, orações e barganhas
espirituais que recebemos constantemente de amigos e parentes.
Mesmo que você
afirme categoricamente que tudo é uma grande bobagem, sempre pensamos: “ahh..
não faz mal a ninguém, vai que é verdade!”. E lá vamos nós com toda a ilusão e
materialismo espiritual buscando o mágico.
O
que precisamos entender é que o caminho espiritual é árduo e necessita de
aquisição de conhecimento, prática e confiança para que então possamos
vislumbrar alguma realização. E isso toma tempo, muito tempo, além de foco e
disciplina.
E isso você só consegue quando
investiga seus propósitos e suas intenções, sempre lembrando que o caminho
espiritual é seu e não do outro.
Como
nem tudo são flores nesse caminho, no budismo temos uma visão de que temos que
sempre observar os obstáculos na nossa jornada e lidar com eles todos os dias,
em todos os momentos. A ideia é eliminá-los um a um para que nossa caminhada
seja cada vez mais tranquila, embora longa e sujeita a turbulências.
Confira
a seguir os cinco obstáculos que podem atrapalhar sua evolução espiritual:
Individualismo - O
primeiro e maior obstáculo de todos é a crença de que somos seres individualistas
e que nossas ações não afetam as pessoas, a natureza e outros seres ao nosso
redor. Essa crença leva ao desenvolvimento da soberba e da arrogância, nos
colocando em uma posição de falsa superioridade em relação aos outros seres,
desenvolvendo o que o Lama Chogyam Trungpa definiu como “materialismo
espiritual”. Quando entendemos que somos parte de uma mesma rede intrínseca de
seres e que nossas ações afetam todo o ecossistema no qual vivemos, começamos a
falar, pensar e agir de forma mais sábia e compassiva. Entenda definitivamente
que você não é uma ilha e nem é o dono ou dona do mundo.
Dúvida -
Aí vem a dúvida, o ceticismo para atrapalhar as coisas. Nada impede você de
testar os ensinamentos que aprende e verificar se eles são válidos ou não. Sou
partidário de que não precisamos de dogmas cegos e inatingíveis, mas sim de uma
boa dose de confiança prévia. Liberte-se de seu ceticismo e se dê uma chance.
Aguce sua curiosidade e busque um sentido nos ensinamentos que recebe na vida.
Acredite. Você vai se sentir muito mais aliviado como ser humano.
Raiva -
De uma maneira quase óbvia, a raiva e a má intenção aparecem como itens
importantes para nossa prática espiritual. No budismo, diz-se que existem três
venenos mentais agindo constantemente em nós e por isso ficamos presos aos
nossos sofrimentos. Junto com a ignorância e a ganância, a raiva se apresenta
como a terceira e implacável corrupção mental que nos paralisa de vivermos uma
vida plena. Prestar atenção na fala correta e no pensamento correto nos ajuda a
desenvolver o antídoto necessário para adicionarmos mais compaixão às nossas
atitudes, determinando uma cura sistemática para as nossas manifestações
egóicas. A raiva se desenvolve principalmente pela nossa frustração em não
sermos considerados únicos e superiores aos demais seres, querendo assim que
nossa opinião e atitude sempre prevaleçam. Agir de maneira compassiva nos leva
a uma nova dimensão de vida. Deixamos de agir com a mente maligna para inundar
nosso coração de bondade.
Presunção - A
presunção se apresenta como a quarta barreira a ser transposta. Nosso orgulho
faz com que achemos que estamos sempre certos e os outros errados e mais uma
vez nos colocamos como seres superiores e dotados de uma opinião imutável. Tal
modo de ver o mundo fecha as portas do conhecimento e da transformação. Mais
uma vez prestar atenção nos outros e se abrir a escutar o mundo é o melhor
caminho para tirar esse obstáculo da frente. A humildade de rever opiniões e
conceitos faz com que possamos desenvolver uma mente compassiva e sábia.
Lembre-se que um bom mestre é aquele que sabe aprender, para então poder
ensinar.
Ignorância -
Por fim, a ignorância no sentido de desconhecimento é um veneno mental que
freia nossa busca. A busca por um conhecimento sem um objetivo claro nos faz
perder tempo e nos iludir com resultados ilusórios que na verdade nunca virão.
Busque sempre conhecer as verdades doutrinárias dos caminhos a serem seguidos e
valha-se de informação sobre aqueles que você segue e deposita sua confiança.
Conhecer é o primeiro passo dessa busca, para então praticar.
Como vimos, para sermos pessoas
melhores, precisamos basicamente deixar de lado o egocentrismo e desenvolvermos
uma visão compassiva e sábia do mundo. Não importa a crença ou religião
escolhida, lembre-se de que são nossas atitudes que formam nosso caráter e faz
com que colhamos os frutos em nossas vidas. Apenas crer sem agir é inútil.
Mauricio Hondaku - um monge totalmente fora dos estereótipos. Executivo
da área de vendas e palestrante motivacional. Adora
rock'n'roll, tatuagens, bike de estrada e um bom papo com amigos. Segue a
filosofia budista há 32 anos e tornou-se Monge há seis. Pertence à Ordem
Shinshu Otani - Higashi Honganji. Apaixonado pela cultura oriental e artes
marciais desde a infância. Dá uma perspectiva moderna e simples aos
ensinamentos budistas, sem perder a tradição. Primeiro monge brasileiro
convidado a fazer uma série de artigos para a Revista Tricycle, principal
revista budista do mundo.
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