Mãos ao alto! A bolsa
ou a vida!– ah, agora nem tem mais isso. É a frio mesmo, ou com aquele
linguajar de “mano”: perdeu. O mundo está virado. As pessoas estão loucas.
Loucas e inseguras, em todos os lugares. Nos centros urbanos. Nas cidades do
interior as explosões viraram rotina. O medo impera em todas as classes
sociais, e a morte pode vir por nada. Ou por tudo isso.
Mas não se preocupem. Os
seus problemas acabaram. O governo acaba de anunciar a criação de mais um
órgão, instituição, elefante branco, ralo, nome, título pomposo – você escolhe
como quer chamar o tal SUSP – Sistema Único de Segurança Pública, seja lá o que
isso queira dizer. Se acompanhar seu irmão da Saúde, o SUS, já viram em que
brejo estaremos.
Vai fechando a garganta
e agora piora porque a gente assiste ao crime, várias vezes, com vários
ângulos, gravados por câmeras - às vezes até da própria vítima - espalhadas
pelas cidades que ainda são burras. Câmeras, quem sabe um dia se por ventura
nos transformarmos em cidades inteligentes poderão servir para garantir
sobrevivência, não só registrar o que já está virando até certo sadismo.
Algumas tevês ainda editam ou cortam partes mais violentas, outras aumentam a
audiência mostrando tudo, ad nauseam, repetidamente, com apresentadores babando
em cima.
Teve bate-boca severo
por aí esses dias, com o caso da PM que, certeira, detonou o peito do ladrão na
porta da escola onde estava com a sua filha. Houve outros casos de
reação, mas esse foi emblemático, porque era uma mãe, policial, loura, véspera
de Dia das Mães, e ainda homenageada com flores pelo governador em ano de
eleição; tudo bem enganchado, como se fala na linguagem jornalística.
Quem em sã consciência
pode criticar? Há muito não via uma legítima defesa tão bem executada, exímia.
O problema é que isso está dando margem para a volta dos dinossauros, dos
trogloditas que ficam atirando insanidades de seus computadores, e acabam
apoiando e piorando essa terrível escalada da violência – o bang bang - em que
vivemos, ressalte-se que não é só no nosso país. Mas aqui temos mais ignorantes
de plantão ou, pior, nas ruas, como candidatos, se aproveitando da aflição
alheia.
Não há seriedade em
torno de soluções. A intervenção no Rio de Janeiro - e as alarmantes ocorrências
diárias contínuas com aumento de 86% de tiroteios, por exemplo - demonstrou
ainda que não há também respeito a qualquer farda, nem verde. Virou um pega
para capar. Uma caçada cruel. Bandidos X policiais X cidadãos, em todas as
ordens dos fatores.
O buraco, que não é só o
da bala, é mais embaixo. Não há políticas públicas ou sociais que analisem os
fatos, a expansão das organizações criminosas, as regras penais, socialização,
corrupção de autoridades. Pensam em criar verbas para segurança expandindo nada
mais nada menos do que os jogos de azar, loterias. Deve vir algum também dos
senhores das armas e suas empresas de calibres mortais.
Enquanto isso, as
pessoas por aí pensam em se armar para enfrentar o clima de Velho Oeste, os
arrastões nos saloons, defesa de seus bens e propriedades. Daqui a pouco algum
gênio da raça vai propor a distribuição de vistosas e brilhantes estrelas de
xerife.
Para se armar, tem de
saber o que é uma arma, como se usa, onde guardar, e ter a cabeça no lugar. Há
muitos anos, ainda no Jornal da Tarde, fiz um curso de tiro (e modestamente
creio que ainda atiro bem) para uma reportagem sobre o assunto. À época estava
frequente a morte de adolescentes que esqueciam a chave para entrar pé ante pé
em casa de madrugada, e de crianças, mortas pelos próprios pais e suas pistolas
guardadas debaixo do travesseiro. O coitadinho sentia medo no meio da noite, ia
pedir achego na caminha e tomava um tiro, ali na porta do quarto, confundido
com invasores. Vi muitos casos.
Temo uma nova onda de
armamento. Nunca tive problemas com armas, que meu pai usava e sempre me
ensinou o perigo delas. Mas gosto mesmo é de lembrar de minha mãe se defendendo
com boas panelas na mão, ou com tamancos de madeira que tirava rápido dos pés
quando alguém mexia com a gente.
Marli Gonçalves - jornalista – Apenas para lembrar: há profissões
que obrigam a jamais recuar diante do perigo ou de algum fato, mesmo não
estando em serviço. Médicos devem se apresentar. Jornalista é outra delas – o
dever de denunciar malfeitos é juramento (espero que os novos profissionais
saibam disso). Os policiais também o são 24 horas, fardados ou não. Não tem nem
conversa.
Brasil,
segurança seria progresso, 2018
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