Que o mundo está passando por uma gigantesca
revolução tecnológica ninguém duvida. Robô sapiens, Internet
das Coisas, inteligência artificial, comunicação na palma da mão, redução de
intermediação humana em várias atividades (bancária, compras, atendimento,
fluxo de documentos etc.) são alguns exemplos do arsenal de mudanças em
andamento. Todos os dias lemos que livrarias estão fechando porque os
compradores preferem o oceano de ofertas via internet; que as mais sofisticadas
operações bancárias são feitas por computador e por celular; que os aplicativos
de smartphone estão acabando com tarefas comerciais e burocráticas antes feitas
presencialmente e com material físico.
O mundo da burocracia está diminuindo (menos no
Brasil). Coisas como ir a um cartório para fazer ou retirar um documento, ir ao
laboratório para buscar resultados, gastar tempo para fazer coisas simples que
tomam tempo e custam dinheiro são exemplos de atividades que vão sumir. Além
dessas, há atividades altamente sofisticadas que estão sendo paulatinamente
assumidas pelas tecnologias e vão eliminar milhares de tarefas e de trabalho
humano. A ansiedade é saber para onde irão os empregos eliminados em face das
novas aplicações tecnológicas.
Já foi publicado que, nos Estados Unidos, 47% dos
empregos estão ameaçados de extinção por substituição tecnológica. As pessoas
estão assustadas e gritando: “Os robôs irão roubar nossos empregos!” No curto
prazo, a explosão de novas tecnologias irá, sim, gerar um deslocamento nos
empregos. Mas, no longo prazo, deve acontecer uma mudança nos padrões e formas
de trabalho, e milhões de empregos de outro tipo serão criados. A revolução
tecnológica irá aumentar a produtividade por hora de trabalho e diminuirá
custos.
Quando os custos diminuem, os preços também caem e,
por consequência, milhões de consumidores de menor renda passam a ter poder de
comprar; logo, melhoram sua qualidade de vida, fazendo que surjam novas formas
de emprego. A alta tecnologia resulta de um mercado livre e competitivo e reduz
não apenas o custo dos produtos de consumo, mas também os bens de capital – sobretudo
as novas máquinas de tecnologia moderna –, que também passam a ser produzidos a
custos menores.
Quando ocorre essa sequência de eventos econômicos
– avanço da tecnologia, aumento da produtividade do trabalho, barateamento dos
bens e serviços, barateamento dos bens de capital, aumento do consumo –, outro
fenômeno explode: uma maior parte da renda das pessoas (consumidores) fica
liberada para outras compras. E novas demandas surgem, outros bens e serviços
têm de ser ofertados, outros empreendimentos são criados e outros tipos de
empregos são gerados.
Um computador pessoal que hoje é comprado por US$ 500 custava quatro vezes mais há poucos
anos. Os milhões de computadores vendidos no mundo decorrem da diminuição de seu
preço nos últimos anos, e o número de empregados trabalhando em toda a cadeia de
produção, venda e assistência técnica aumentou vertiginosamente. Em toda a
história da humanidade, quando revoluções tecnológicas ocorreram – como a
máquina a vapor, o motor a combustão e a eletricidade –, o resultado foi uma
abundante criação de empregos. Empregos antigos se tornam obsoletos e são
eliminados, e trabalhadores são liberados para os novos empregos.
Em 1970, o Brasil tinha 46% da população vivendo na
zona rural. Ou seja, para duas pessoas terem alimento, uma tinha de estar na
lavoura, produzindo para ela própria e para mais uma. Em uma sociedade na qual
metade da população tem de estar no campo produzindo comida, a pobreza será a
norma corrente, e não haverá espaço para produzir educação, saúde, lazer,
turismo e uma penca de bens industriais e serviços pessoais a fim de melhorar o
padrão médio de bem-estar.
A possibilidade de a humanidade viver melhor veio
com a introdução da tecnologia na agricultura e na pecuária, pelo fim da
necessidade de tantas pessoas terem de trabalhar na produção de alimentos. A
liberação das pessoas da zona rural propiciou a expansão da indústria, depois
do comércio e dos serviços, e elevou o padrão de vida. Mas a tecnologia
assusta. Quando a eletricidade sepultou velas e lampiões e os automóveis
enterraram as carroças e as charretes, não faltou quem prenunciasse o fim dos
tempos. O desemprego tem outras causas, entre elas a explosão demográfica. O
mundo tinha 1 bilhão de habitantes em 1830; em 100 anos dobrou, e atualmente somos
7,4 bilhões; seremos 9,4 bilhões daqui a 30 anos. A revolução tecnológica será
a salvação, não a condenação.
José Pio Martins - economista, é reitor da
Universidade Positivo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário