Para compreendê-lo, é
inevitável cotejar o Oriente e o Ocidente. Seus povos, suas crenças, seus
costumes.
A linguagem está acima do
homem e o modo de alcançá-la é a poesia. A poesia oriental encurta o mundo
e seu significado. Isso porque não complica os acontecimentos. Pelo contrário,
busca eliminar as preocupações e, assim, reduzir o espaço de nossa inserção no
mundo material. Este importa um universo real, bem menor do que o
artificialismo ocidental.
Os orientais, inclusive boa
parte dos chineses comandados - paradoxalmente - por um partido único e
comunista, são antípodas das teses materialistas do poder. Optam pela
compreensão do espírito, da alma, de Deus, da vida divorciada da constante preocupação
patrimonial. Por isso, não raro busca-se o confinamento, o isolamento das
coisas materiais. A integração se dá com a natureza. Daí poemas compostos de
alguns ligeiros versos, como, apenas, exemplificativamente: "A lua/
Ilumina o carvão da noite/ Aclara nossos sonhos”.
De nossa parte, tornamos os
fatos mais complexos e emotivos. Valorizamos a histeria nas novelas vistas por
todos. Ensinam-nos a gritar, o que nunca se justifica, a qualquer título. No
Brasil, o "american way of life" nos dominou, com o agravante de que
estamos muito distantes das possibilidades econômicas da América saxônica.
Nossos dramas são
aumentados. É certo que a questão econômica, ao embrutecer os necessitados,
gera um problema comum, o mesmo de Ocidentais e Orientais. Este
tiveram embates muito sérios, em razão da economia.
Mas o Zen visita o campo das
emoções do Oriente, o modo como reagimos aos fatos da vida. Meditação,
reflexão, oração, compaixão, não estão em nossa ordem do dia, salvo em opções
de grupos muito raros.
O que nos move é o confronto
histérico, repita-se. Este é um momento particularmente degradante do
equilíbrio emocional do povo brasileiro. Sua opção por um padrão de vida
impossível foi um grande móvel da violência. Violência que começa com as
palavras agressivas, em torno de temas muitas vezes sem nenhum relevo,
miseráveis. Talvez sejamos os campeões em homicídios e suicídios por motivos
torpes e fúteis. A torpeza e a futilidade vêm do exemplo dado pelos ocupantes
dos pontos altos do poder. O amor é contaminado pelo ciúme; o crescimento
talentoso pela inveja. A deturpação de um poder encarregado apenas de
aplicar a lei, por quem, comprovadamente, praticou os crimes pelos quais foi
acusado, é algo muito deletério em termos populares. E acabamos de viver o
lamentável episódio. Não há mais porque respeitar-se o único Poder ainda
salvo, em parte - o Judiciário.
O Zen, como dito, tem a ver
com a poesia, mas também com a música, a literatura como um todo, o som, o
sentido e o significado. Em sua cultura, diz-se que mesmo o que não tem sentido
tem o significado de não ter sentido. A vacuidade e o silêncio precisam ser
assimilados pelo homem ocidental, ao lado da integração harmônica à natureza,
se quisermos sobreviver e dialogar entre as pessoas e os países com o mundo.
Do contrário, Davos tem sua
importância, mas será incapaz de nos redimir.
Amadeu Garrido de
Paula - Advogado, sócio do
Escritório Garrido de Paula Advogados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário