Já
aconteceu com você de ir assistir um filme que foi super bem recomendado e sair decepcionado? Ou
de assistir um filme sem grandes expectativas e terminar impressionado? Pois
bem, talvez não tenha percebido, mas você foi “vítima” da sua própria expectativa.
A
palavra, que vem do latim ex(s)pectativus,
pode ser compreendida também no sentido de esperar,
desejar, ter esperança e tem papel essencial na percepção da
qualidade de quase tudo o que consumimos. Produtos ou serviços são qualificados
não somente pelo o que nos entregam efetivamente, mas, em muito, pelo o que esperamos
que vamos receber. É uma
sutil, mas relevante distinção.
Veja
o exemplo aparentemente já compreendido pelo segmento de e-commerce. Quando
estimam a entrega de um produto em 3 dias e este chega em cinco
você provavelmente ficará chateado. Mas se agendam a chegada do mesmo produto
em 15 dias e entregam em 7, é provável que você até elogie a logística. Isto
porquê você foi direcionado a uma expectativa adequada – no caso, aos
interesses do fornecedor.
No
ambiente de gerenciamento de projetos o gerenciamento das expectativas é tão
relevante que, em sua 5ª edição, o Project
Management Book of Knowledge do PMI considerou a inclusão de mais
uma área de conhecimento: a de gerenciamento
das partes interessadas. Área focada em identificar, avaliar e monitorar
quem são os envolvidos - direta ou indiretamente - em um empreendimento e, tão
importante quanto, administrar
suas expectativas em relação ao projeto.
Perceba
que o verbo usado foi administrar
e não atender.
Isto porque não é mesmo esperado que a equipe de um projeto atenda as
expectativas de todos os envolvidos. Logicamente, é sensato considerar a
expectativa de algumas peças-chaves do projeto como, por exemplo, o sponsor. Afinal, é ele que
está investindo recursos em prol dos objetivos do empreendimento. Mas para
muitos outros envolvidos estas expectativas podem ser conflitantes ou que fujam
dos objetivos primários do projeto, não sendo mesmo cabível atendê-las.
Isto
faz parte dos desafios de um gerente de projetos: reconhecer e administrar as
expectativas com maturidade e diligência são habilidades complexas, mas
essenciais para o bom exercício da função.
No
entanto, reconheço não ser simples. Por isso, e para melhor orientar a este
desafio, proponho a seguinte sequência de ações para uma boa gestão do assunto:
1. Identique os envolvidos
- O líder da empreitada deve organizar um razoável exercício cerebral para
vislumbrar todos os atores (pessoas e empresas) que podem causar algum grau de
influência no projeto.
2. Qualifique as partes interessadas
– Com o uso de uma matriz de
poder (cujo modelos são facilmente encontrados na web) procure
qualificar os envolvidos conforme poder, impacto, interesse e influência
(alguns estarão na sua esfera de controle,
outros dentro da esfera de influência
e outros, ainda, totalmente fora desta). O objetivo aqui é exercitar a visão da
relevância de
cada ator previamente identificado.
3. Avalie os interesses –
Talvez a etapa mais complexa. O time de projetos deve avaliar quais são os
interesses destas partes no projeto, o que eles querem ou não querem que
aconteça com o desenvolvimento e resultados do projeto. A dificuldade reside no
fato em que alguns interesses são explícitos e (muitos) outros não.
4. Elabore um plano de administração de
cada expectativa – Chegando até aqui, é hora de pensar como
estas expectativas serão tratadas pela equipe de forma a manter o alinhamento
com os objetivos do projeto.
5. Revise o plano periodicamente
– Conforme a dimensão do tempo do projeto, tenha sensatez e disciplina na
revisão deste plano. As informações e expectativas mudam ao longo do projeto. E
assim, sua estratégia também.
É
factível que este processo esteja sujeito a falhas iniciais de percepções ou
avaliações. Mas seus equívocos de interpretação devem diminuir através de um
processo de melhoria contínua ao longo da vida do projeto.
O
que não é permitido a um bom profissional de projetos é a negligência neste
exercício de boa gestão das partes interessadas e, por consequente, de suas
expectativas visto serem previsíveis os possíveis impactos negativos ao projeto
quando nos surpreendemos com um ator esquecido
que, no decorrer do projeto, impede-nos de progredir com o progresso do
empreendimento trazendo desgastes e prejuízos.
Se
você trabalha com projetos há algum tempo, tenho certeza de que você já viu
este filme.
Arcon
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