As principais consultorias globais do mercado produzem,
periodicamente, relatórios nos quais profetizam o futuro. São técnicos,
analistas, acadêmicos e futuristas que se debruçam sobre os principais assuntos
em discussão no mundo, as pesquisas em curso nas universidades e as
necessidades da sociedade e, a partir dessas discussões, mapeiam as grandes
tendências globais em diversos mercados e segmentos, arriscando seus palpites
sobre o futuro no médio prazo. Dez anos, em média.
Em geral, esses relatórios acertam os seus
prognósticos, reforçando o “dilema de Tostines”, no qual “Tostines vende mais
porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais”?
No caso das previsões das consultorias, a correlação
existente entre causa e efeito é muito forte, uma vez que é difícil saber ao
certo o que é fato gerador e o que é consequência. Afinal, o futuro se
concretiza porque houve uma previsão acertada realizada por visionários ou ele
ocorreu por conta dos trabalhos de consultoria que recomendaram que se seguisse
aquilo que havia sido previsto e estava descrito nos trabalhos? Nunca saberemos
e pouco importa saber, mas é certo que escrever o futuro é sempre mais
interessante do que ficar à mercê dos acontecimentos.
Para os próximos anos, as principais consultorias do
mercado preveem, dentre diversas outras apostas, que:
·
A automação, a robótica e a inteligência
artificial serão intensificadas, permitindo interações simples e inteligentes,
resultando em valor em cada conexão executada e facilitando a interação de
clientes com marcas na mesma velocidade em que diminuirão a capacidade de
empregabilidade das pessoas. Prepare-se para trabalhar ao lado de sistemas,
robôs, chatbots e outros equipamentos mimetizados;
·
Novos padrões e regras serão desenhados
para funcionar em indústrias transformadas de acordo com as demandas da
economia digital. O que isso significará, não se sabe. As regras ainda serão
escritas;
·
As plataformas operacionais das empresas deverão
ser substituídas por ecossistemas robustos baseados em trabalho de equipes
muitas vezes contratadas e organizadas de acordo com as demandas. Será uma
grande transformação no emprego, pois o vínculo de trabalho temporário e por
competências se intensificará. Em outras palavras, prepare-se para trabalhar a
partir de projetos de curta duração;
·
As pessoas deverão ser capacitadas para
lidar com os ecossistemas na forma de parcerias. Não fará sentido a visão de
cliente e fornecedor. As transformações nas relações internas deverão ser
estendidas aos demais participantes externos. Ao ajudar as pessoas a alcançar
seus objetivos, todos se ajudarão, mutuamente, a definir um lugar mais nobre na
evolução da sociedade. A relação entre pessoas e os resultados, sejam
financeiros ou sociais, serão mais expressivos. Portanto, amplie sua conexão
com o mundo (literalmente), desenvolva um método de estudo continuado e
prepare-se para, mesmo sendo um técnico, conectar-se a pessoas e seus
ecossistemas;
Este panorama permite observar que tanto os
profissionais de hoje quanto as gerações que se formarão nos próximos anos e
que buscam empreender ou trabalhar no terceiro setor, no governo ou nas
corporações, deverão se preparar para desenvolver habilidades de adaptação e
aprendizado contínuos, inclusive a capacidade de pensar diferente. Os mais
vividos se lembrarão do profeta Raul Seixas, em Metamorfose Ambulante:
“Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante / Do que ter aquela velha opinião
formada sobre tudo”. Pois assim será o futuro, um lugar onde a mediocridade
significará fazer o básico, pensar o mínimo e estar fora do mercado, qualquer
que ele seja. Seja flexível e muito bom naquilo que se propuser a fazer.
Outro aspecto muito delicado será o crescimento da
população nas grandes cidades, fato que deverá aumentar a concorrência por
trabalho, ampliar o consumo de energia e água, complicar muito a mobilidade,
aumentar a falta de segurança e gerar mais crises sociais, principalmente pela
redução da classe média, afetada pela escalada da automação e pelo desemprego.
O trabalho estará em qualquer lugar do mundo. Prepare-se para trabalhar anywhere
e para concorrer com pessoas e máquinas de todas as partes do globo.
Estabelecer propósitos, desenvolver valores, manter-se
atualizado, preparar-se para novas formas de pensar e abrir-se para maneiras
não convencionais e flexíveis de desenvolvimento profissional serão o caminho
para a inclusão e a manutenção da capacidade de trabalho em um futuro (muito)
próximo.
Trabalhar em algo que faça a diferença talvez faça mais sentido que
desenvolver uma carreira.
Espero que este panorama não seja tão complicado como
aparenta e que eu possa, no futuro, cantar: “Eu vou desdizer aquilo tudo que
eu lhe disse antes / Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante”.
Edson Moraes é
sócio do Espaço Meio - https://espacomeio.com.br, Executive Coach desde 2014
e Consultor (Gestão & Governança) desde 2003. Foi Executivo do Bank of America
entre 1982 e 2003. Seguiu carreira na Área de Tecnologia da Informação, foi
Head do Escritório de Projetos e CIO por 4 anos. É Master em Project Management
pela George Washington University. Participou de programas de educação
executiva na área de TI ( Stanford University, Business School São Paulo
e Fundação Getúlio Vargas). Formado em Comunicação Social
– Jornalismo pela PUC/SP. É Conselheiro de Administração formado pelo IBGC,
Coach pelo Instituto EcoSocial e certificado pelo ICF. Articulista e palestrante
nas áreas de Governança, Tecnologia da Informação e Gestão de Projetos.
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