Depois de abolir o glúten, carboidratos e a
lactose, restringir a ingestão dessa proteína é a nova moda
Certamente
você já ouviu falar de dietas famosas que proíbem terminantemente certos
alimentos em prol da saúde ou da boa forma como, por exemplo, as dietas sem
glúten, sem carboidratos e sem lactose. Devido todo burburinho que esses
métodos geralmente provocam, é comum que muitas pessoas se sintam influenciadas
a mudar totalmente sua alimentação, acreditando que estão sendo de fato
prejudicadas pelo cardápio convencional. Nessa mesma linha, a dieta da vez é a
“dieta sem lectina” – uma proteína potencialmente prejudicial ao organismo e
que está presente em inúmeros alimentos que consumimos diariamente.
Nada de grãos
A
premissa é simples: excluir do cardápio grãos, cereais, leguminosas, além de certos
tipos de legumes e sementes. Porém, convenhamos: imaginar uma refeição sem
qualquer um desses itens é bem difícil, não é mesmo? Então, por que essa nova
dieta está ganhando fama? De acordo com seus adeptos, a simples exclusão de
alimentos como o feijão, a lentilha, a ervilha e até mesmo a berinjela seria
capaz de acabar com o inchaço, ajudar no controle da dieta e inibir processos
inflamatórios no corpo. Isso porque tais ingredientes possuem alta concentração
da famigerada lectina, substância que, na natureza, serve parar defender a
planta de agressões externas, porém, quando ingerida pelos seres humanos, causa
diversos malefícios.
Na
prática, seus seguidores podem consumir apenas frutas da estação, vegetais
folhosos de coloração verde escura e alimentos ricos em gorduras boas, de
origem vegetal, como por exemplo, o óleo de coco e o abacate. Até mesmo certos
tipos de proteínas (carnes e laticínios) são proibidos com a justificativa de
que nosso organismo não está suficientemente adaptado para digeri-los de forma
eficaz. Muitos dos conceitos da dieta podem, inclusive, coincidir com o que
outros cardápios restritivos preconizam, como a dieta paleolítica e a dieta do
tipo sanguíneo. Saiba mais:
Consumo atrapalha o hormônio da saciedade
Uma
coisa é fato: a tal substância não é bem tolerada no organismo, pois as enzimas
presentes no trato gastrointestinal não conseguem digeri-la totalmente,
provocando desconfortos como excesso de gases, dores na região do abdômen e
“estufamento”. Segundo o nutricionista William Reis, a ingestão de lectina
pode, até mesmo, aumentar o apetite de pessoas mais sensíveis à substância.
“Basicamente, essa proteína é conhecida como um anti-nutriente, capaz de
irritar as paredes do trato intestinal e impedir a absorção de outros elementos
essenciais para o organismo. O intestino pode, inclusive, ter seu poder de
filtragem de toxinas prejudicado, propiciando reações alérgicas, inflamações,
disfunções metabólicas e, até mesmo, maior resistência ao hormônio leptina, um
regulador do apetite, essencial para a sensação de saciedade”.
Por
si só, tal argumento já parece suficiente para sair excluindo tais itens da
dieta, porém, conforme explica o consultor da Nature
Center, é preciso ponderar – as lectinas só desenvolvem esse tipo de reação
no organismo se os grãos e cereais (onde estão em maior quantidade) forem
consumidos in natura. “O consumo de lectinas é praticamente inevitável, pois
elas estão presentes direta e indiretamente em grande parte dos alimentos que
consumimos, mas é importante ressaltar que nós não costumamos ingerir
leguminosas e grãos totalmente crus, pois, mesmo no preparo de saladas, esses
alimentos são imersos em água antes de serem levados ao prato. Só o ato de
colocá-los de molho por um tempo, já diminui bruscamente os efeitos da proteína
no organismo”.
Prós x Contras da Dieta
Vantagens
- Maior consumo de fibras e vitaminas: Por ser uma dieta que restringe o consumo de grãos, leguminosas e todos os tipos de cereais, a ingestão de frutas e verduras deve ser elevada para compensar a falta desses itens. Assim, quando bem orientada, essa prática fornece um aporte maior de antioxidantes, minerais, fibras e vitaminas presentes nos alimentos;
- Controle do peso: Produtos com açúcar também são evitados durante a dieta, o que garante menor pico de produção do hormônio insulina no sangue e evita acúmulo de gordura. Consequentemente, esse menor consumo de açúcar também ajuda o indivíduo a controlar o peso;
- Mais saciedade: Não só pelo alto consumo de fibras, mas pela redução do consumo de carboidratos de alto índice glicêmico e melhora da sensibilidade ao hormônio da saciedade;
Desvantagens
- Poucos carboidratos: A baixa diversidade de carboidratos permitidos na dieta pode fazer com que falte energia para o organismo e haja uma diminuição da massa muscular. Por isso, é importante sempre diversificar o cardápio e buscar o equilíbrio dos alimentos ingeridos, para minimizar carências nutricionais;
- Pouca variedade: A ingestão de alimentos como o arroz, a batata, pães e raízes, por exemplo, fazem parte da rotina alimentar do brasileiro e estão presentes em boa parte das receitas tradicionais. Por isso, pode ser difícil, num primeiro momento, evitar o consumo desses itens e se adaptar ao novo cardápio;
- Maior risco nutricional: Por restringir o consumo de diversos alimentos, indivíduos que seguem essa dieta devem redobrar os cuidados em relação às carências nutricionais. Mesmo com uma dieta bem orientada, em alguns casos é preciso, até mesmo, seguir uma suplementação multivitamínica (sob orientação médica), para compensar o aporte insuficiente de nutrientes.
Sem arroz e feijão?
Já
pensou na sua alimentação diária sem arroz e feijão? Pois essa é uma das
“normas” da controversa dieta, que além de restringir o consumo desses
alimentos tão tradicionais na mesa do brasileiro, também bane a ingestão de
açúcar, trigo, laticínios, tomate, berinjela, melão, batata, pimentão e
sementes em geral Porém, será que essas mudanças realmente valem a pena?
Embora
muitas pessoas acreditem que a famosa dupla “arroz e feijão” deva ser excluída
do cardápio sempre que se busca emagrecer, a verdade é que esses grãos têm um
papel primordial no metabolismo. “Por conta do seu alto teor de fibras, a
ingestão desse prato pode ajudar a regular o transito intestinal, auxiliando na
dieta. Os benefícios são ainda maiores se os cereais forem integrais, pois
também haverá um controle maior da glicemia”. – explica Reis
Além
disso, por se complementarem nutricionalmente, são tidos como uma refeição
ideal quando o assunto é nutrição. “O arroz, um cereal, é rico no aminoácido
metiona, fibras e vitaminas do complexo B. Já o feijão, uma leguminosa, também
possui em sua composição os mesmos elementos, além de minerais como o cobre,
magnésio, zinco, fósforo, cálcio e possuir em grande quantidade o aminoácido
lisina. Basicamente, o que um não tem em elevada porcentagem o outro tem, por
isso, muitas pessoas associam o prato a um “casamento perfeito.” – explica
Reis. Por essa razão, um dos principais alertas em relação à dieta sem lectinas
é seu maior risco para uma deficiência nutricional, em virtude da exclusão
severa de alimentos altamente nutritivos como o trivial arroz e feijão.
Funciona como alternativa para emagrecer?
Ainda
que algumas pessoas se interessem por esse tipo de regime devido aos seus efeitos
na balança, o especialista da Nature
Center alerta que dietas restritivas podem dar uma falsa sensação de
emagrecimento “A exclusão dos carboidratos não causa apenas a queda brusca de
energia como também a perda de tecido muscular e não especificamente de
gordura, como é a intenção de muitos. Reduzir massa magra é pouco saudável,
pois, sem ela o metabolismo diminui e o corpo passa a gastar cada vez menos
calorias para se manter ativo. Por isso, é preciso cautela antes de seguir
dietas da moda. Existem meios muito mais eficazes e seguros para atingir esse
objetivo.” Para o profissional, regimes que delimitam a ingestão energética
podem ajudar na perda rápida de peso como muitas pessoas desejam, mas essa não
é a forma correta de alcançar esses objetivos, principalmente, quando o
paciente deseja evitar o efeito sanfona.
Medidas para reduzir as lectinas
Ainda
assim, é possível alcançar os benefícios da dieta sem ter que adotar um
cardápio tão restritivo. Para tal, o profissional aponta algumas técnicas
simples que podem surtir efeitos positivos na eliminação da substância.
Basicamente, esses métodos eliminam quase que por completo a ação da proteína e
podem ajudar a diminuir os incômodos. Fique por dentro:
- Imersão: Recomenda-se deixar as leguminosas “de molho”, ou seja, colocá-las em uma bacia com água da noite para o dia a fim de diminuir a concentração de lectina e, ao mesmo tempo, ajudar na higienização do alimento. Na maioria das vezes os anti-nutrientes se encontram na casca dos alimentos e são solúveis em água. Portanto, quando submetidos ao “banho”, por no máximo 12 horas, os elementos se desprendem dos demais nutrientes e podem ser descartados juntamente com a água;
- Cozimento: Ferver grãos, cereais e algumas leguminosas também pode ser uma boa opção no processo de eliminação das lectinas. Isso porque o calor elevado degrada os anti-nutrientes, inibindo sua ação no organismo.
O
nutricionista William Reis ressalta apenas que é importante sempre se atentar
às técnicas que serão utilizadas para que os alimentos não percam também, seu
valor nutricional “Métodos como o cozimento são eficazes na eliminação de
substâncias indesejáveis, porém, vitaminas e minerais essências ao organismo
também se desprendem durante esse processo. Por isso, é importante adotar
técnicas menos agressivas como, por exemplo, o cozimento a vapor ou no próprio
microondas, que preservam mais a integridade dos nutrientes e também ajudam
eliminar as lectinas”.
Cardápio equilibrado é sempre a melhor saída
Por
fim, o especialista alerta que é preciso desconfiar de cardápios que excluem
quase que completamente grupos de alimentos. “Diferente de métodos que
incentivam a diminuição do consumo de alimentos industrializados que, de fato,
não favorecem a saúde, esse tipo de dieta exclui alimentos amplamente
conhecidos por seu alto valor nutricional; ou seja, tiram do prato vitaminas,
minerais e vários outros nutrientes essenciais para o bom funcionamento do
organismo. O mais recomendado é que, diante de qualquer suspeita de
intolerância a um determinado alimento, sempre se busque orientação médica.
Dessa forma, é possível investigar a verdadeira causa de um possível
desconforto sem correr o risco de desenvolver problemas ainda mais graves no
futuro em virtude uma carência nutricional.”– finaliza o especialista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário