Eu bem
poderia escrever, sei lá, sobre rock n`roll. Ou sobre a possibilidade de
enfrentarmos um grande e grave racionamento de água e energia. Ou sobre os
constantes atentados na Europa ou mesmo sobre a bomba maldita voando sobre o
Japão. Mas não dá. Sinto muito. Tem mesmo de escrever sobre o buraco cheio de
lama em que estamos atolados por causa dessa gente, que agora, ainda por cima,
deu de querer censurar as coisas. Tem de reclamar, alertar a todos que estamos
vivendo momento perigoso, sombrio.
Que pobreza! Não merecíamos isso. Um país bonito por natureza,
cheio de possibilidades, ficando para trás, cada vez mais trás, lá na
lanterninha.
Sabe aqueles noticiários sobre inspeções surpresa que a polícia
costuma fazer nas celas das prisões em busca de celulares, armas e drogas?
Reviram os colchões pelo avesso, procuram túneis de fuga. Pois foi essa a exata
imagem que veio à minha cabeça quando soube que mais um - mais um, dois, três,
quatro, cinco, mil... - Ministro, desta vez o multimilionário Blairo Maggi,
estava com todas as casas por onde passa sendo minuciosamente revistadas.
Repara que não está sobrando um, e isso não pode ser normal. Não é
normal. Não podemos considerar normal, e acabar nos acostumando, o que aparenta
claramente já estar acontecendo. Tudo quanto é presidente, ex-presidente,
ministro, ex-ministro, mais os lacaios todos, os asseclas... Pior: os do
passado, do presente, e os de um futuro que talvez até fosse possível, se é que
deu tempo de pensarmos em alguém novo e capaz.
Ou, me diga, você ainda se choca com as cabeludas verdades,
mentiras, mentidos e desmentidos todo santo dia? Confessa: com cada vez mais
enrolados arrolados, já centenas de nomes, de empresas, pululam delatores, se
perde boa parte da história. Resta esperar o capítulo do dia, que trará? Já nem
sabemos mais exatamente sobre o que eles estão falando.
O país virou uma enorme Casa de Detenção. E passo a temer (não
tenho nada que o verbo também seja nome do homem) que nessa toada poderá
ocorrer rebelião.
E o linguajar? São detalhes que talvez você nem preste atenção,
mas por conta até da profissão a gente aqui leva em conta, pega o detalhe.
Primeiro, não parece que ninguém queira comunicar nada. Ou estão
querendo falar só mesmo com a meia dúzia que poderia vir a comandar essa
rebelião ainda possível? Querem falar apenas a essa classe média que anda por
aí batendo cabeça em grupelhos, e que estão parindo uns monstrinhos muito dos
esquisitos? Que até de censura gostam. Que se alimentam de ódio? Que não
entendem nada além do mundinho besta no qual se isolam, e vêm palpitar e nos
tirar o direito de decidir.
Como disse, talvez você não tenha reparado, mas, por exemplo, a
última nota da presidência falava em realismo
fantástico, entre outras expressões pomposas num momento tão
importante para quem diz que tem como se defender. Fala logo, não enrola! E o
outro, o preso dos 51 milhões, que pede liberdade porque está com medo de ser
estuprado? Isso o povo entende direitinho. Fico imaginando os comentários a
respeito.
Momento esquizofrênico.
Marli Gonçalves - jornalista – Comunicar é arte que se faz, mas só
com sinceridade; senão precisa falar, falar, falar, para ninguém entender nada
mas ficar achando que entendeu
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