sexta-feira, 5 de maio de 2017

A IMPORTÂNCIA DA AMIZADE E DO AMOR PARA SUPERAR O PROBLEMA DA SOLIDÃO



Uma cena muito comum nos dias de hoje é a de casais em restaurantes que, mesmo juntos, estão separados por celulares, redes sociais e diversos aplicativos, e assim acabam por perder momentos para aproveitar um ao outro. Esse cenário pode representar mais do que duas pessoas acompanhando as tendências tecnológicas, mas pode carregar consigo, muitas vezes, um sentimento de solidão que passa despercebido para quem olha de fora.

Se sentir só, mesmo na companhia de outros, mostra que a solidão é mais que um estado físico, pode ser também psicológico. “Quando se está em contato constante com as pessoas, não é raro ouvir cônjuges a reclamar do seu parceiro por estarem na mesma cama, mas não receberem a devida atenção porque ele está com o smartphone sempre em mãos” constata o Rabino Samy Pinto das experiências que teve nos aconselhamentos que oferece na sinagoga. 

O tema solidão é cada vez mais presente na sociedade atual em função de vários fatores. Entender alguns pontos sobre esse assunto é de grande importância para saber se esse comportamento é benéfico ou não.

“Com o advento da tecnologia, o homem tem sido cada vez mais empurrado para a solidão. O impacto das tecnologias tem colocado em risco não só a socialização, mas a afetividade”, afirma Samy.

As pesquisas recentes no Brasil revelam que 18% dos brasileiros entram em pânico se não estiverem com seu smartphone. Chega a 40% os que estão consultando os seus celulares a cada 10 minutos, isso cria um grau de dependência tão grande que vai se deixando de lado o ser social, que foi uma grande característica desde o momento do surgimento da história da humanidade.

O ser humano foi abandonado por ele mesmo em função desses equipamentos. Nos EUA, 62% das crianças com até 12 anos reclamam de seus pais que não prestam atenção nelas porque estão nas redes sociais. Essa é uma lamentável constatação, mostrando que, na verdade, as crianças estão carentes e começam a sentir, dentro de sua própria casa, o sabor da solidão.

No pensamento judaico, quando Deus criou o homem, logo no início da criação, o fez sem a mulher, mas logo teria dito que não era bom que ele permanecesse só. Esse é um ensinamento bíblico eterno que demonstra que, desde a sua formação, o ser humano não foi feito para ficar sozinho. Nesse caso, o que foi dito nos momentos iniciais da humanidade e que é registrado no Gênesis também vale para os dias de hoje: não é bom que o homem esteja só.

Isso nos define como um ser social, que necessita da companhia para viver. Aristóteles já dizia que “quem encontra prazer na solidão, ou é fera selvagem ou é Deus”. De fato, no pensamento judaico, Deus é único, e isso o torna apto para se sentir bem na solidão, mas não o homem.

“Quando se olha o quadro geral, percebemos existem duas vertentes importantes para se combater a solidão: a amizade e o matrimônio”, afirma o Rabino.

Ainda no Gênesis, Deus prepara a mulher para ser a outra metade do homem, afim de sanar a solidão que existia. No pensamento judaico, o ser humano necessita desse complemento. Um bom casamento desempenha papel essencial no combate da solidão.

A amizade é outro ponto importante na vida do ser humano. Desde os primórdios, quando a criança é enviada para a escola, há uma esperança dos pais de que ela faça muitos amigos e que a vida dela comece a ficar mais desafiadora e prazerosa. Essa busca por companhia acompanhará o homem em todo o seu crescimento, ele precisa estar inserido nesse ciclo social. Francis Bacon vai dizer que “não há solidão mais triste que a do homem sem amizade. A falta de amigos faz com que o mundo pareça um deserto. Nada é fértil, tudo é sofrido”.

Em certo ponto, a busca pela amizade e a tentativa de irromper a solidão trará ao homem um grande desafio em sua formação ética e moral, pois, até que ponto ele colocará os seus valores em questão para ser aceito em um grupo social? Nesse momento, a solidão pode ser uma aliada, mostrando que ela não é de todo ruim. “Para definir o que é prioridade na sua vida, o que é essencial e o que é secundário, enfim, uma série de questões que vão afetar a rotina da vida pessoal, deve ser decidida em um momento de solidão.  Olhar para essas questões com a influência de um grupo social pode nem sempre estar em harmonia com as próprias crenças da pessoa, o que pode fazer o indivíduo perder a sua personalidade e seus valores”, completa.

Ter a capacidade de refletir sobre os aspectos positivos e negativos de ficar sozinho é essencial para a geração atual. Não se deixar consumir pelos avanços tecnológicos e saber aproveitar os momentos pessoalmente, e não só virtualmente. Semear afeto e companhia é o caminho para resolver esse problema chamado solidão.





Rabino Samy Pinto - formado em Ciências Econômicas, se especializou em educação em Israel, na Universidade Bar-llan, mas foi no Brasil que concluiu seu mestrado e doutorado em Letras e Filosofia, pela Universidade de São Paulo (USP). O Rav. Samy Pinto ainda é diplomado Rabino pelo Rabinato chefe de Israel, em Jerusalém, e hoje é o responsável pela sinagoga Ohel Yaacov, situada no Jardins também conhecida como sinagoga da Abolição.



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