O
índice de depressão está aumentando gradativamente ao longo dos anos. Segundo dados do 2º Levantamento Nacional de Álcool e
Drogas, realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foram
encontrados sintomas indicativos de depressão em 21% dos jovens entre 14 e 25
anos. Entre as mulheres o número aumenta para 28%. Ainda se considerarmos dados
mundiais, a OMS (Organização Mundial de Saúde) estima que 350 milhões já
sofreram ou sofrem com a doença.
Com
o aumento dos casos, os pais se preocupam e muitas vezes se questionam sobre
como identificar, agir, tratar e prevenir a depressão. Como psicóloga, acredito
que para achar as repostas, antes de tudo, precisamos aprender a diferença
entre tristeza e depressão, tendo consciência que a primeira é um sentimento e
a segunda é uma doença.
A
tristeza é algo que pode atingir a todos em qualquer momento da vida. Suas
características são: choro; desânimo; angústia, e até mesmo alguns sintomas
físicos como aperto no peito e coração acelerado. Na maioria dos casos ela é
passageira, principalmente em contato com experiências positivas. Em minhas
consultas, sempre alerto os pais de que qualquer tristeza que dure mais de duas
semanas precisa de atenção redobrada.
Reconhecida
e descrita pelo Código Internacional de Doenças (CID- 10), a depressão pode
surgir em qualquer idade, sem precisar necessariamente de motivo e causa
intenso sofrimento. Ela pode estar relacionada à tristeza. Seus sintomas mais
agressivos costumam ser o desânimo, falta de energia e de interesse até mesmo
por atividades consideradas prazerosas. A depressão também pode causar
rebaixamento da autoestima, humor deprimido, insônia ou perda da qualidade do
sono ou apetite, além da diminuição da
autoconfiança, entre outros.
É fundamental que a qualquer sinal da doença ou até mesmo de
uma tristeza persistente, os pais busquem auxilio de um especialista, pois a
depressão tem sintomas que às vezes são confundidos com comportamento
característico de adolescentes, o que dificulta a identificação. As
escolas e os professores também devem estar atentos aos sinais. É
comum, em algumas situações, que o adolescente mantenha uma postura
superficialmente estável na presença dos familiares e um comportamento mais
instável na escola. Caso isso aconteça, a instituição de ensino deve
comunicar os responsáveis, pois essa atitude é fundamental para ajudar o jovem
em questão.
Outro ponto que acho importante esclarecer é que não existem
culpados. A depressão é uma doença causada por fatores externos, ou seja, situações
e experiências de vida, fatores biológicos, como alterações hormonais,
genéticas ou alteração na produção de neurotransmissores, que são responsáveis
pela comunicação neural com nosso sistema límbico, responsável por nossa
resposta emocional.
Ou
seja: o que para um pode gerar um trauma irreparável, para outro pode ser
vivenciado com menos impacto, causando menos danos emocionais. Não existem
regras neste sentido.
Os
pais e os demais familiares podem concentrar sua energia no processo de
recuperação e não em buscar culpados. Penso que a participação dos pais é
fundamental no processo, pois terão que ser pacientes e confiar no trabalho
feito. Há casos em que o paciente tenha que tomar alguns medicamentos. Nesta
situação a supervisão da família é extremamente necessária no controle do livre
acesso do adolescente ao remédio, não apenas para evitar tentativas de
suicídio, mas também assegurar que ele tome a dosagem correta.
Infelizmente
temos muitas notícias recentes de suicídio entre os jovens e adolescentes.
Geralmente ele está ligado a fortes sentimentos de angústia e grave sofrimento
psíquico. Mas se trata de uma decisão individual, tomada por quem o pratica.
Portanto, a culpa dessa fatalidade não pode ser terceirizada.
Às
vezes é possível antever que o jovem está pensando em tirar a própria vida, mas
os sinais podem ser sutis. Falta de ânimo discrepante ao habitual, distribuição
de objetos pessoais e frequência em que falam sobre a morte são algumas das
características que podem ser observadas. Ao notar qualquer sinal
indicador de depressão, sofrimento, ou até mesmo do próprio suicídio, é de
extrema importância que a família evite que o adolescente fique sozinho e
busque tratamento psicológico e psiquiátrico.
Outro
agravante que tem despertado preocupação entre os especialistas e gera
controvérsias, é que, ao longo dos anos observa-se que, quando o tema suicídio
se torna frequente na mídia, os atos e/ou tentativas aumentam de forma
considerável. Essa observação é pertinente com a realidade que vivemos, onde a
depressão é o mal do século, por meio do mundo virtual, que muitas vezes isola
o individuo, além dos mais recentes e mais comentados como o jogo da Baleia
Azul, atividade via redes sociais, que propõe desafios depreciativos
aos adolescentes, como bater fotos assistindo a filmes de terror,
automutilar-se, ficar doente e, na etapa final, cometer suicídio, e a série 13º
Reasons Why, que relata o suicídio de uma adolescente com depressão.
Esse
conjunto de situações e fatos promove a discussão do tema entre profissionais
da área e familiares preocupados. Esse debate é muito importante para que
os responsáveis possam acompanhar os jovens, principalmente no que diz respeito
ao conteúdo que eles têm acesso para orientá-los de forma adequada. A privacidade
dos jovens é uma via de mão dupla – ela é importante em alguns aspectos, mas
perder o controle do que acontece em suas vidas não pode ser justificado com
respeito à privacidade. O ‘não’, faz parte de uma educação saudável e evita que
o adolescente perca o equilíbrio emocional de forma desastrosa em situações de
frustração.
Por
fim, é importante que pais e/ou responsáveis sejam sempre compreensíveis,
demonstrem confiança, encorajem a prática de atividades de lazer ou esportivas
e a vida social. É importante também evitar cobranças e frases como “é apenas
uma fase”, “se esforce e você ficará bem” ou “existem pessoas com problemas
maiores que os seus”. Abra espaço para conversas onde ambos possam expressar
suas opiniões, isso fortalece o relacionamento, encoraja e mostra ao jovem que
ele está amparado e que sua doença tem cura.
Juliana
Bento - psicóloga da Clinica Fares
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