Especialista explica como o estado emocional pode interferir
na saúde bucal
A ansiedade é um distúrbio que afeta
aproximadamente uma em cada seis pessoas nos dias de hoje, de acordo com o National
Institute of Mental Health (Estados Unidos). Entre os problemas mais comuns
está a fobia social – em que a pessoa se mostra insegura, teme por seu
desempenho e se preocupa com o que os outros poderão pensar dela. Seja em maior
ou menor intensidade, a ansiedade muitas vezes leva a pessoa a roer unhas e,
muito provavelmente, aumenta as chances de sofrer de bruxismo, que é o ranger e
apertar dos dentes – principalmente durante o sono.
De acordo com Astrid Arap, diretora
do Departamento de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial da Associação
Paulista de Cirurgiões-Dentistas (APCD), além de tratar a ansiedade, é importante
que a pessoa busque ajuda de um cirurgião-dentista para cuidar do bruxismo,
porque, dependendo da frequência e da intensidade da dor, essa parafunção pode
resultar em sérios problemas de mastigação, enxaqueca, insônia e até mesmo
fratura dental. “Além da dor, existem outros sinais de bruxismo, como o tipo de
desgaste do esmalte dental, excesso de sensibilidade nos dentes, estalos da
articulação temporomandibular (ATM) etc. O cirurgião-dentista deverá avaliar,
também, se o paciente tem hábito de roer unhas, morder tampas de canetas,
mascar chicletes, porque essas parafunções podem estar relacionadas a um
comportamento ansioso”.
Estudo israelense, realizado na Universidade
de Tel Aviv, revelou que o bruxismo é uma das consequências que impactam a
vida de pessoas normalmente ansiosas. Os pesquisadores avaliaram 75 homens e
mulheres na faixa etária dos 30 anos. Quarenta deles tinham algum nível de
fobia social e os outros trinta e cinco não tinham nada. Todos passaram por
exames psiquiátricos e odontológicos – buscando identificar hábitos como roer
unhas, mascar chicletes, estalar a mandíbula etc. Sintomas de bruxismo durante
o dia foram identificados em 42,5% das pessoas no primeiro grupo, contra 3% no
segundo. De acordo com o coordenador, Ephraim Winocur, a interação com o
grupo parece desencadear bruxismo em pessoas com fobia social. Sendo assim, na
medida em que se trata o distúrbio de ansiedade, também se restabelece o sono e
um maior controle sobre o bruxismo.
De acordo com a especialista da APCD, é
fundamental identificar sintomas, causas e tratar as disfunções
temporomandibulares (DTM), já que provocam um nível de dor que costuma
repercutir por toda a cabeça, maxilar, pescoço, ouvidos e até mesmo na coluna
cervical. “Trata-se de uma queixa muito comum entre pessoas na faixa dos 30 aos
50 anos, principalmente mulheres. Mas também tem aumentado o número de casos de
bruxismo entre crianças e adolescentes. Por comprometer muito a qualidade de
vida dos indivíduos, é importante, desde a primeira consulta, tentar
identificar a raiz do problema”.
Segundo Astrid, diversos são os tratamentos
voltados para o bruxismo e seus efeitos. O uso de placa miorrelaxante durante o
sono, associado à fisioterapia, constitui o tratamento de eleição para o
paciente com bruxismo sintomático. Já a toxina botulínica é uma das terapias
mais atuais para tratar essa parafunção. Pode ser aplicada nos pacientes que
não se adaptam ao uso da placa ou associada a ela. Apesar de ser um método mais
invasivo do que o uso da placa, a toxina é usada para diminuir a contração
muscular e seu efeito é reversível. "A toxina botulínica é um complexo
proteico purificado, obtido a partir de determinada bactéria que bloqueia a
liberação da acetilcolina e faz com que os músculos não recebam estímulos para
contrair. Apesar de seu uso ser relativamente novo entre os
cirurgiões-dentistas, vem ganhando cada vez mais adeptos na medida em que seus
benefícios se tornam mais conhecidos”.
A especialista diz ainda que o uso
odontológico da toxina botulínica geralmente é bem tolerado e as reações
sistêmicas – embora possam ocorrer – são raras. Entretanto, seu uso é
contraindicado para pacientes com hipersensibilidade a qualquer componente do
medicamento, portadores de miastenia grave (fraqueza dos músculos voluntários)
ou de doenças do neurônio motor. Gestantes e lactantes também não têm
indicação, assim como pacientes que façam uso de medicamentos potencializadores
do bloqueio muscular.
Dra. Astrid Arap - diretora do Departamento de DTM e
Dor Orofacial da Associação Paulista de
Cirurgiões-Dentistas (APCD) – www.apcd.org.br
Fontes:
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