A pessoa com
deficiência intelectual (DI) enfrenta desafios complexos. Problemas na
compreensão cognitiva e nas relações sociais (características de grande parte
de indivíduos com DI) acabam por dificultar, por exemplo, a inserção no mercado
de trabalho, cujas cotas destinadas à pessoa com deficiência são “disputadas”
por todos.
Segundo o médico José Salomão Schwartzman há apontamentos e
alguns entraves referentes à inclusão profissional, por meio da política de
cotas, em que as empresas, com o mínimo de 100 empregados, são obrigadas a
preencher uma determinada porcentagem de vagas com empregados com algum tipo de
deficiência. Mas, essa política é falha no que diz respeito à integração das
pessoas e, muitas vezes, a convivência com pessoas que têm limitações especiais
pode gerar conflitos e criar barreiras no ambiente de trabalho.
Também há pesquisas que alertam que, para os
deficientes intelectuais alcançarem melhor desempenho profissional, é preciso
criar um ambiente no qual consigam se concentrar para desempenhar suas funções
e interagir com os colegas. O preparo da equipe que irá recebê-lo também é
imprescindível. Além disso, os empregadores precisam ter em mente que as
tarefas delegadas aos funcionários com deficiência devem estar de acordo com
suas capacidades, o que significa que seu tempo de produção deva ser
respeitado.
Em termos de mundo, segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS), cerca de 5% da população tem alguma deficiência
intelectual, o que confirma a importância das políticas de inclusão.
Segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), hoje há 45,6 milhões de pessoas que declaram
ter algum tipo de deficiência no Brasil, o que corresponde a 23,9% da população
brasileira, sendo que destes, 18,8% possuem deficiência visual, 7% deficiência
motora, 5,1% deficiência auditiva e 1,4% mental ou intelectual. No Estado de
São Paulo são 22,6% e no município 24,5%. “Uma população significativa se
pensarmos em números absolutos”, ressalta o secretário municipal
da pessoa com deficiência, Cid Torquato.
“O ideal seria que a inclusão de deficientes
fosse natural. Mas já se sabe que isso não acontece. Com relação a pessoas com
deficiência intelectual, as leis e políticas públicas não contemplam as
especificidades desse público, bem diferentes das relacionadas às deficiências
físicas e sensoriais (visão e auditiva). Mesmo a Lei
Brasileira de Inclusão - LBI (Lei nº 13.146/15), uma conquista concretizada
em 2016, depois de quinze anos de tramitação, não traz temas específicos para
essa questão”, destaca Torquato.
Algumas Organizações Não
Governamentais (ONGs), como a Adere (Associação para Desenvolvimento, Educação
e Recuperação do Excepcional), atuam para mudar essa realidade, preparando
essas pessoas ao mercado de trabalho, assim como a empresa e as famílias dos
beneficiados, fortalecendo suas habilidades para que possam conviver melhor em sociedade. No
entanto, o apoio para suas ações é ainda muito inferior as suas necessidades.
“A população ainda não reconhece essa causa como importante ao desenvolvimento
humano do País. Programas sociais são insuficientes para favorecer esse
trabalho, que acaba limitado por falta de mais recursos e outros benefícios
essenciais”, explica Soeni Sandreschi, coordenadora institucional da Adere.
Longevidade
Os avanços da medicina favorecem a longevidade de
pessoas sem e com deficiência, inclusive a intelectual que, até algumas décadas
atrás, faleciam precocemente.
Por essa razão, atualmente está se formando um
contingente de indivíduos órfãos, cuja autonomia, em muitos casos, é restrita,
sem condições de manter suas necessidades básicas e uma vida digna.
“Por isso, a questão é urgente e precisa ser
trabalhada para que a sociedade perceba o problema que a sua omissão pode
causar ao presente e ao futuro, gerando mais gastos aos cofres públicos e,
especialmente, constituindo-se como uma sociedade não igualitária nem solidária
por não acolher todos os cidadãos, sem restrição, de
maneira justa”, finaliza Soeni Sandreschi.
Sobre a Adere
A Associação para
Desenvolvimento, Educação e Recuperação do Excepcional é uma instituição sem
fins lucrativos que nasceu da iniciativa de um grupo de pais de pessoas com
deficiência intelectual, preocupados com o futuro de seus filhos que começavam
a sair da infância. Criado em 1972, o projeto proporciona um atendimento
global, o que inclui desenvolver hábitos e atitudes para a inserção no mercado
trabalho. Por meio das diversas manifestações da Arte, traduzidas em oficinas
de artesanato, dança, teatro, música, além do trabalho com o corpo e a mente,
por meio de atividades físicas, exercícios e lutas marciais, com acompanhamento
de uma equipe multidisciplinar, os atendidos descobrem suas habilidades em um
ambiente seguro e criativo, que, ao mesmo tempo, incentiva a autonomia. Uma
parte dos beneficiados é capacitada para o mercado de trabalho e contratada por
empresas parceiras da instituição. Outra parte desenvolve autoconhecimento,
autoestima e sensação de pertencimento para que se sinta acolhida e capaz de
conquistar seu espaço na família e sociedade. As peças artesanais e os
acessórios para casa e escritório, realizados nas oficinas, assim como os
pratos e doces feitos pelo projeto Adere Gourmet, têm o valor de venda
destinado ao trabalho da instituição, que também conta com doações de empresas
e pessoas físicas. Saiba mais, acessando o site: www.adere.org.br
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