quarta-feira, 29 de março de 2017

Deficiência intelectual – um desafio dentre as deficiências



A pessoa com deficiência intelectual (DI) enfrenta desafios complexos. Problemas na compreensão cognitiva e nas relações sociais (características de grande parte de indivíduos com DI) acabam por dificultar, por exemplo, a inserção no mercado de trabalho, cujas cotas destinadas à pessoa com deficiência são “disputadas” por todos. 

Segundo o médico José Salomão Schwartzman há apontamentos e alguns entraves referentes à inclusão profissional, por meio da política de cotas, em que as empresas, com o mínimo de 100 empregados, são obrigadas a preencher uma determinada porcentagem de vagas com empregados com algum tipo de deficiência. Mas, essa política é falha no que diz respeito à integração das pessoas e, muitas vezes, a convivência com pessoas que têm limitações especiais pode gerar conflitos e criar barreiras no ambiente de trabalho.

Também há pesquisas que alertam que, para os deficientes intelectuais alcançarem melhor desempenho profissional, é preciso criar um ambiente no qual consigam se concentrar para desempenhar suas funções e interagir com os colegas. O preparo da equipe que irá recebê-lo também é imprescindível. Além disso, os empregadores precisam ter em mente que as tarefas delegadas aos funcionários com deficiência devem estar de acordo com suas capacidades, o que significa que seu tempo de produção deva ser respeitado.
Em termos de mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 5% da população tem alguma deficiência intelectual, o que confirma a importância das políticas de inclusão.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), hoje há 45,6 milhões de pessoas que declaram ter algum tipo de deficiência no Brasil, o que corresponde a 23,9% da população brasileira, sendo que destes, 18,8% possuem deficiência visual, 7% deficiência motora, 5,1% deficiência auditiva e 1,4% mental ou intelectual. No Estado de São Paulo são 22,6% e no município 24,5%.  “Uma população significativa se pensarmos em números absolutos”, ressalta o secretário municipal da pessoa com deficiência, Cid Torquato.
“O ideal seria que a inclusão de deficientes fosse natural. Mas já se sabe que isso não acontece. Com relação a pessoas com deficiência intelectual, as leis e políticas públicas não contemplam as especificidades desse público, bem diferentes das relacionadas às deficiências físicas e sensoriais (visão e auditiva). Mesmo a Lei Brasileira de Inclusão - LBI (Lei nº 13.146/15), uma conquista concretizada em 2016, depois de quinze anos de tramitação, não traz temas específicos para essa questão”, destaca Torquato.
Algumas Organizações Não Governamentais (ONGs), como a Adere (Associação para Desenvolvimento, Educação e Recuperação do Excepcional), atuam para mudar essa realidade, preparando essas pessoas ao mercado de trabalho, assim como a empresa e as famílias dos beneficiados, fortalecendo suas habilidades para que possam conviver melhor em sociedade. No entanto, o apoio para suas ações é ainda muito inferior as suas necessidades. “A população ainda não reconhece essa causa como importante ao desenvolvimento humano do País. Programas sociais são insuficientes para favorecer esse trabalho, que acaba limitado por falta de mais recursos e outros benefícios essenciais”, explica Soeni Sandreschi, coordenadora institucional da Adere.


Longevidade
Os avanços da medicina favorecem a longevidade de pessoas sem e com deficiência, inclusive a intelectual que, até algumas décadas atrás, faleciam precocemente.
Por essa razão, atualmente está se formando um contingente de indivíduos órfãos, cuja autonomia, em muitos casos, é restrita, sem condições de manter suas necessidades básicas e uma vida digna.
“Por isso, a questão é urgente e precisa ser trabalhada para que a sociedade perceba o problema que a sua omissão pode causar ao presente e ao futuro, gerando mais gastos aos cofres públicos e, especialmente, constituindo-se como uma sociedade não igualitária nem solidária por não acolher todos os cidadãos, sem restrição, de maneira justa”, finaliza Soeni Sandreschi.



Sobre a Adere
A Associação para Desenvolvimento, Educação e Recuperação do Excepcional é uma instituição sem fins lucrativos que nasceu da iniciativa de um grupo de pais de pessoas com deficiência intelectual, preocupados com o futuro de seus filhos que começavam a sair da infância. Criado em 1972, o projeto proporciona um atendimento global, o que inclui desenvolver hábitos e atitudes para a inserção no mercado trabalho. Por meio das diversas manifestações da Arte, traduzidas em oficinas de artesanato, dança, teatro, música, além do trabalho com o corpo e a mente, por meio de atividades físicas, exercícios e lutas marciais, com acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, os atendidos descobrem suas habilidades em um ambiente seguro e criativo, que, ao mesmo tempo, incentiva a autonomia. Uma parte dos beneficiados é capacitada para o mercado de trabalho e contratada por empresas parceiras da instituição. Outra parte desenvolve autoconhecimento, autoestima e sensação de pertencimento para que se sinta acolhida e capaz de conquistar seu espaço na família e sociedade. As peças artesanais e os acessórios para casa e escritório, realizados nas oficinas, assim como os pratos e doces feitos pelo projeto Adere Gourmet, têm o valor de venda destinado ao trabalho da instituição, que também conta com doações de empresas e pessoas físicas. Saiba mais, acessando o site: www.adere.org.br




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