Nos
últimos meses, um forte e acalorado debate envolvendo o projeto Escola Sem
Partido vem ganhando destaque no meio educacional brasileiro. Apoiadores e
críticos estão apresentando seus pontos, sobre o polêmico assunto, em diversas
discussões que, pouco a pouco, perderam seu foco. E se perdeu devido a forma
que a questão é tratada atualmente, que considera toda a problematização com
uma visão política, e não científica, como deveria ser. Então, a conversa se
transforma em um impasse, em que dois polos defendem suas posições. Mas qual
seria esse o cerne da questão, que é exatamente o que importa para desenvolver
uma discussão saudável?
O
primeiro passo é entender do que se trata o projeto Escola Sem Partido, firmado
na figura do advogado Miguel Nagib. A proposta defende uma educação neutra, sem
a interferência da posição política do professor, da instituição e muito menos
do governo. Essa linha de pensamento já gera um espanto, pois não existe uma
escola sem partido, a proposta e o projeto são utópicos. Ao entrar em sala de
aula, o docente carrega consigo uma carga de conteúdo que, forçosamente, levará
o juízo de valor do educador e sua forma de ver o mundo, podendo ocorrer um
exagero por parte daquele que está lecionando, mas que é inevitável deixar do
lado de fora da escola. Existe uma politização, ainda mais quando um grupo de
pessoas se reúne. E esse fator deve ser levado em consideração no debate em
questão.
O
histórico da educação brasileira levou a reação que estamos vendo nos últimos
anos, em que uma parte da camada social brasileira não quer que a visão de
mundo da esquerda seja apresentada aos seus filhos, e deseja que eles aprendam
a partir de uma perspectiva liberal. E este é um assunto que não entra nas
conversas sobre a Escola Sem Partido. Este é um ponto chave para se tratar. É
tarefa do governo fazer isso, ou não? Qual o papel da escola no século XXI?
Somente ensinar as habilidades e competências de escrita, oralidade,
matemática, ou também cabe à escola trazer esses debates sobre política,
sociologia, filosofia e religião?
Essas
questões demandam um debate, um grupo de estudo, mais afinado, que leve em
consideração a realidade das salas de aula, que reproduzem a própria formação
do professor. Apenas colocar cartazes com os deveres do profissional é
preocupante, e acaba por trazer uma imagem de policiamento e desconfiança sobre
os professores, causando um ambiente de desrespeito e de indisciplina em sala
de aula. O que acentua a importância de uma visão cientifica, e não só
política, na discussão que aborda a educação brasileira.
O
que não se pode dizer é que a escola é neutra, quando na verdade ela não é.
Porque os professores têm sim um posicionamento, possuem uma opinião política e
social. A missão do professor ela tem que estar clara na relação com seu
coordenador, seu diretor, e na própria missão da escola.
Cabe
ao governo dar autonomia para as escolas se posicionarem de acordo com o seu
nicho comunitário ou sua ideologia. Seria uma ideia saudável para todos.
Deixando claro, para os pais, responsáveis e alunos, qual a linha de pensamento
da escola, seja liberal, direita, esquerda, cristã, e assim possibilitar que se
crie uma equipe que tenha harmonia com a devida visão. O Brasil precisa ficar
mais maduro para esse debate. Respeitando as outras opiniões e buscando uma
solução com bases cientificas, e não apenas pelos interesses políticos dos
envolvidos.
Rabino Samy Pinto - formado em Ciências Econômicas, se especializou em educação em
Israel, na Universidade Bar-llan, mas foi no Brasil que concluiu seu mestrado e
doutorado em Letras e Filosofia, pela Universidade de São
Paulo (USP). O Rav. Samy Pinto ainda é diplomado Rabino pelo Rabinato chefe de
Israel, em Jerusalém, e hoje é o responsável pela sinagoga Ohel Yaacov, situada
no Jardins também conhecida como sinagoga da Abolição.
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