Na madrugada desta quarta-feira, 30 de novembro, o
parlamento brasileiro suicidou-se moralmente num acesso de fúria contra tudo e
contra todos. Do alto de suas gravatas, deputados federais urravam ódio nos
microfones. Eles odiavam seus colegas probos, indignavam-se, numa indignação
despida de dignidade, ante bons exemplos. E aplaudiam comparsas. Condutas
íntegras faziam explodir sentimentos primitivos. Nada, porém, trazia mais
espuma à boca e sangue aos olhos do que a atividade de policiais, promotores e
magistrados. Tais funções, um dia, poderiam apontar crimes e sinalizar o rugoso
caminho da cadeia.
Que país é esse - pensava o Parlamento suicida - onde não
mais se pode roubar em paz? Como obter mandato para servir ao povo em nobre
atividade sem tomar dinheiro desse mesmo povo? Que mal atacou nossa gente,
outrora dócil e tolerante, para levá-la às praças clamar contra meus negócios?
De onde saiu essa corruptofobia? Tudo isso pensava e contra tudo isso
vociferava o Parlamento enquanto o elevador da arrogância ascendia ao topo das
torres gêmeas. E, dali, a queda livre
até o solo.
Não se diga que o finado ainda emite
sinais vitais. Com efeito, coração bate, pulmões respiram, aparelho digestivo
digere. Mas está morto. Morto como um peso morto. É um traste, esse suicida
moral. Nós assistimos tudo! Como não atestar, então, seu óbito? O Antagonista resume assim, no rescaldo da madrugada:
· crime de responsabilidade
para juízes e procuradores,
· prisão por desrespeito às
prerrogativas dos advogados,
· criminosos não terão de
devolver a fortuna acumulada com propinas,
· tempo de prescrição
continuará com réu foragido,
· partidos não poderão ser
punidos pelo roubo.
Estas medidas,
que favorecem a Frente Parlamentar da Corrupção, ou Orcrim, no relato de O
Antagonista, foram aprovadas pelos partidos com estas proporções:
· PCdoB 100% pró-ORCRIM.
· PT: 98% pró-ORCRIM.
· PRB: 95% pró-ORCRIM.
· PDT: 87,5% pró-ORCRIM.
· PR: 83% pró-ORCRIM.
· PMDB: 82% pró-ORCRIM.
· PP: 81% pró-ORCRIM.
· DEM: 71% pró-ORCRIM.
· PSD: 61% pró-ORCRIM.
· PSB: 57% pró-ORCRIM.
· PSDB: 24% pró-ORCRIM.
Domingo, dia 4 de dezembro,
estaremos nas avenidas e praças do Brasil como testemunhas do que aconteceu e
protagonistas dos princípios e valores que em algum momento, ali adiante,
haverão de prevalecer. Há que cumprir o dever moral da persistência! Covardes e
inúteis seremos se jogarmos a tolha ante cadáveres morais.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
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