quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Dessalinização, ficção ou realidade?



 “Vale a pena tirar o sal do mar para termos mais água?” 

 Assisti há algum tempo, já meio atrasado, a nova versão da ficção Mad Max, pois faz tempo que o filme saiu do cinema. Esta história marcou muito a minha adolescência. A violência é igualmente exagerada, o povo é mais macabro e a temática da água continua maravilhosa. Pois é, a falta de água pela falta de florestas é o centro desde o primeiro filme com o tão famoso Mel Gibson. Só tem areia e mais areia o filme inteiro.

 Por meio da arte cinematográfica também se aprende o que sofremos nestes últimos meses com uma das maiores crises hídricas das décadas no estado de São Paulo e em outros locais do país. Se não é pelo amor, é pela dor que muitos brasileiros e, principalmente paulistas, começaram a economizar água, tomando banho com um balde ao lado para depois jogar na descarga, ou ainda utilizando água da pouca chuva que cai para regar as plantas.

 O sistema de meritocracia tão utilizada no liberalismo imperou também nas contas de água e energia, com “choques” de multas para aqueles que gastavam a mais do que sua cota e “brioches” de descontos para aqueles que economizavam. Para mim este sistema “educacional” devia vir mesmo de uma consciência plural e sistemática que vi e aprendi com batalhadores professores e pais, e inclusive com filmes apocalípticos de pessoas brigando por água como se briga por petróleo hoje em dia.

 Temos no país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, cerca de 12% da água potável do mundo. E nas veias subterrâneas temos mais do que o ouro preto que é razão de guerras e invasões imperialistas, existe uma abundância da substância líquida que é a base para a vida no planeta. Alguns especialistas dizem que o Brasil não exporta grãos nem gado, mas sim água em forma de alimentos e carne. Entendeu? Não?  Isso mesmo, para exportarmos os alimentos e a carne precisamos de muita água para irrigar, alimentar, gerar energia, etc.
 Já ao contrário dos países que por questões geográficas tem em abundancia o líquido mais barato nos dias de hoje para gerar energia, muitas vezes não possuem a água  necessária para a sua população. E uma das suas soluções é tirar a água do mar e retirar o sal. Isso chama-se dessalinização. Óbvio que o processo é mais complicado: com a retirada também de micro-organismos, excesso de sais minerais e outras partículas sólidas desta água salobra.

 Para fazer este processo pode ser de duas maneiras, a osmose inversa e a destilação térmica. Lembrando das nossas professoras de ciência: a destilação térmica é fazer a água evaporar (transformar de estado líquido para estado gasoso) e depois pegar o vapor de água e condensar (transformar de estado gasoso para líquido) gerando um água “limpa”.  E o outro tem a ver com a osmose, que  é o deslocamento de um fluído através de uma membrana semipermeável, do meio menos concentrado para o meio mais concentrado, tentando equilibrar a quantidade líquida dos dois meios. A osmose reversa é passar do meio mais concentrado para o meio menos concentrado por meio de bombeamento num fluxo antinatural. Ou seja, a água “foge” do meio mais concentrado para o meio menos sal, deixando-a límpida. Tudo isso com muita energia para ir contra a corrente natural.

 Segundo o site do IDA (International Desalination Assossiation), em 2015, existiam cerca de 150 países que praticavam estes processos com mais de 18 mil plantas em operação. Cerca de 300 milhões de pessoas dependem destas “fabricas” de fazer água potável. Grande parte destas plantas realizam o seu processo por meio de geração de energia a base do outro líquido chamado petróleo. O processo acaba gastando muita energia, por isso economicamente é inviável em países com atual abundância de água “doce” ou com problemas financeiros.

 No Brasil, está tramitando uma medida para o desenvolvimento de incentivos para estimular a dessalinização de águas marinhas e de fontes salobras subterrâneas que pode fazer parte das diretrizes e objetivos da Lei Federal do Saneamento Básico. A medida está no projeto de lei (PLS 259/2015) aprovado pela Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) em maio de 2016. Ainda existem vários passos para tornar-se lei passando pela Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA); pela Câmara e pelo Senado.

 O caso mais famoso no Brasil é em Fernando de Noronha que 100% da água dessalinizada é consumida. Mas mesmo assim ainda falta água potável em algumas épocas para a população local e para os turistas. Isso sim é realidade e não ficção.

 Temos que começar a investir estudos, recursos e inteligência para continuarmos em total harmonia com este nosso planeta, de uma forma sistêmica, senão só sobrará areia e mais areia como naquele filme de ficção.




Marcus Nakagawa sócio-diretor da iSetor, professor da graduação e MBA da ESPM, idealizador e diretor da Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade e palestrante sobre sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de vida. 


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