Se a
felicidade depende do equilíbrio entre quem somos e quem queremos ser, então a
meditação mindfulness pode ser o agente transformador. Abaixo vão as 12 razões
para fazer com que esta forma especial e simples de meditação faça parte dos
hábitos da sua vida.
1.
Felicidade
Alguém
poderia imaginar que o ato de estar focado no presente tenha algo a ver com a
felicidade (a promessa de um estado futuro)? De fato, a prática do foco
no momento presente permite desenvolver uma qualidade chamada de equanimidade
(constância, igualdade de temperamento em qualquer circunstância). Ao longo do
tempo, a atitude de equanimidade que surge em situações potencialmente
estressantes ou difíceis conduz à percepção de felicidade. Muitas pessoas que
se tornam mindful referem melhora global do humor, redução do estresse e
elevação da qualidade de vida. Como a psicóloga e PhD em Neurociências Sarah
Roberts exemplifica, “é sublime poder sentir a água correr pelas costas durante
o banho da manhã; é gratificante poder ouvir o filho descrever o seu dia sem
ficar olhando para ele e pensando na lista de coisas a fazer. O exercício do
foco no momento presente nos protege de passar o tempo todo no passado,
ruminado sobre o futuro, inventando situações hipotéticas provocadoras de
ansiedade.”
E como
exatamente a meditação mindfulness conduz à felicidade? Uma teoria moderna que
explica essa ligação vem da discrepância do self, a diferença ou a
distância entre o nosso eu real e nossa imagem ideal do eu. Esse
modelo sugere que todos nós estamos motivados a reduzir a diferença entre o que
somos e o que desejamos ser, aliviando o desconforto psicológico provocado
quando essa diferença é muito grande. A atenção plena da meditação mindfulness
promove essa redução; e, em seu rastro, nos faz ficar felizes.
2. Sem
estresse
A intervenção
mindfulness efetivamente promove uma redução do stress negativo; faz com que a
pessoa se avalie melhor e corrija o seu ímpeto emocional. A estrutura responsável
pelas reações emocionais de stress é denominada de amígdala cerebral; um estudo
publicado por autores da Universidade de Massachusetts em 2010 demonstra que a
meditação mindfulness reduz a hiper-reatividade da amígdala cerebral em
indivíduos estressados. A prática do mindfulness faz com que as reações de
estresse sejam substituídas pela equanimidade.
3.
Envelhecendo melhor
A meditação
mindfulness parece exercer ação direta sobre os telômeros. Essas estruturas
formam uma espécie de capa na extremidade dos cromossomos e o seu desgaste
acelera o processo de envelhecimento. Estudo realizado pela equipe da
Universidade da Califórnia em São Francisco em 2015 mostrou que a meditação
mindfulness reduz o estresse negativo, aumenta a capacidade dos telômeros e
ameniza o envelhecimento.
4.
Relações sociais
De acordo com
Daniel Siegel, professor da Universidade da Califórnia em Los Angeles, quando
podemos estabelecer uma distinção entre a reação emocional imediata e a
interpretação desses estados emocionais e corporais – a equanimidade –, podemos
quebrar os ciclos de reatividade automática e estabelecer relacionamentos
sociais mais produtivos. Um estudo publicado no Journal of Marital and
Family Therapy em 2007 mostrou que a meditação mindfulness é capaz de
estabelecer relacionamentos românticos de mais qualidade justamente por reduzir
as reações negativas e facilitar o entendimento do ponto de vista do outro.
5.
Consciência ecológica
Robert Shawn
disse que “a grande ameaça ao planeta é achar que alguém que não seja você vai
salvá-lo”. Carley Hauck, escrevendo no site mindful.org, salienta que
quando trazemos a atenção ao momento presente e ver as coisas como elas
realmente são, conseguimos enxergar mais claramente os desdobramentos de longo
prazo e o impacto sobre o estado ecológico do nosso planeta. Ser mindful
é ser consciente do que está à nossa volta.
6. Memória
eficaz
De modo
geral, quem está bem, em plena posse de suas funções cognitivas e emocionais,
lembra melhor. A atitude mindfulness age em benefício da memória. Também é
preciso relembrar que o estresse e as reações intempestivas elevam a taxa
sanguínea de cortisol, um hormônio produzido pela glândula adrenal a serviço do
medo, da raiva e do estresse. Estudo publicado em 2013 examinou os níveis de
cortisol em 30 estudantes de medicina antes e depois de um treinamento de
quatro dias em meditação mindfulness; a taxa de cortisol sofreu redução
imediata. Sabe-se que os elevados índices de cortisol fazem mal à parte do
cérebro chamada de hipocampo, onde são guardados os extensos arquivos de toda
nossa memória. Com esse dano, passamos a esquecer nomes, datas e objetos que
deveriam ficar armazenados. A meditação mindfulness é considerada uma blindagem
à memória.
7. Sono
reparador
Há uma
relação direta entre meditação e sono, na medida em que em ambas as situações
há uma redução do ritmo cerebral alfa/beta para um ritmo delta, mais
lento. Quem apreende a ser mindful, automaticamente desenvolve
melhor capacidade para adormecer. Não se trata somente do sono reparador da
noite; um breve período de sono durante o dia, igualmente reparador, faz com
que a pessoa recupere sua energia. Essa forma de meditação também ajuda a
recuperar a capacidade de adormecer em pessoas que sofrem de insônia. Em um
estudo publicado no conceituado semanário JAMA, os pesquisadores examinaram 49
adultos de meia-idade com problemas para dormir. Metade deles completou um
programa de meditação mindfulness; a outra metade completou uma aula sobre
maneiras de melhorar seus hábitos de sono. Ambos os grupos se reuniram se seis
vezes, uma vez por semana, durante duas horas. Em comparação com as pessoas do
grupo educacional sobre o sono, as pessoas do grupo mindfulness corrigiram rapidamente
seu problema de insônia, relatando menos fadiga e melhores escores de depressão
no final dos seis sessões.
8. Melhor
imunidade contra doenças
Hoje em dia
há centenas de estudos que comprovam a conexão entre mindfulness e o sistema
imune. Anteriormente já se sabia que pessoas com elevados níveis de estresse e
de cortisol circulantes apresentavam linhas reduzidas de defesa imunológica. A
meditação mindfulness é uma maneira efetiva, rápida e com grande
custo-benefício para corrigir isso. Um estudo publicado na Psychosomatic
Medicine há alguns anos comparou um grupo de meditadores com outro de
não-meditadores. Ambos receberam uma vacina contra a gripe; mais tarde, quando
os anticorpos foram mensurados, verificou-se que o grupo de meditadores estava
muito mais protegido contra a gripe do que os não-meditadores. A mesma regra
vale para pessoas adoecidas. Um estudo de pesquisadores da Universidade de
Chicago concentrou-se em mulheres acometidas de câncer de mama. Parte delas
matriculou-se em um curso em meditação mindfulness e outra parte seguiu com o
tratamento convencional. Todas as mulheres apresentaram, no início, baixo
índice de células imunológicas do tipo NKCA e
IFN-gama; aquelas que que se aprofundaram na meditação mindfulness
apresentaram retorno dessas células imunológicas aos níveis normais. A
conclusão dos estudos modernos – em confirmação a o que os sábios antigos do
mundo oriental já preconizavam – é que a atenção voltada ao presente de forma
desprovida de julgamento é forte aliada para manter ou reequilibrar o organismo
para defender-se de micro-organismos ou de doenças.
9. Mais atenção e concentração
O desenvolvimento da atenção e da concentração são ferramentas poderosas
da meditação mindfulness. Quem diz ser fácil ficar no presente durante 2
minutos nunca de fato experimentou meditar. A atenção da mente no batimento do
coração, umas das pérolas do mindfulness, requer o engajamento alguns milhões
de neurônios do cérebro para estabelecer um campo em torno do tempo presente em
modo real. A técnica de mindfulness é capaz de tornar a passagem do tempo mais
real. Pesquisadores da Universidade de Kent comprovaram este aspecto, mostrando
que a percepção do tempo através do mindfulness faz com quem a meditação da
atenção plena possa ser usada para o tratamento de manifestações psicológicas
associadas a distorções do tempo, como os distúrbios de memória, das emoções e
a dependência de drogas.
10. Melhor controle do peso
A digestão envolve uma complexa série de sinais hormonais entre o
intestino e o sistema nervoso, com uma demora de cerca de 20 minutos para que o
cérebro registre a saciedade. De acordo com a Harvard Medical Publications,
quando comemos de forma muito rápida, a saciedade ocorre após a ingestão
excessiva de alimento. Da mesma forma, quando comemos estando distraídos
podemos paralisar a digestão. E se não estamos digerindo bem, podemos estar
perdendo o valor nutritivo do alimento consumido. A forma de se alimentar
adequadamente é prestando atenção no organismo – nos sinais verdadeiros de apetite
e não pela tentação de comer através de ciladas visuais. A modificação
alcançada pela meditação mindfulness – a equanimidade – permite esse
reequilíbrio. A pessoa mindful respeita seus limites, melhora sua
digestão e reequilibra seu peso.
11. A vida pela vida
A melhora dos sintomas de depressão e ansiedade foi um dos grandes
ganhos da meditação mindfulness. Quando Jon Kabat-Zinn iniciou seu programa de
Redução do Estresse Baseada em Mindfulness, seu principal objetivo era a
redução da dor em pacientes com certos tipos de reumatismo. Hoje, já há estudos
que comparam a terapia baseada em mindfulness com a terapia
cognitivo-comportamental e até mesmo o tratamento com medicações para o
tratamento da depressão e da ansiedade. Os resultados são semelhantes. E há uma
vantagem – a recuperação da depressão via mindfulness deixa um legado, um
reequilíbrio, na forma de outra forma de viver, uma vida baseada no aqui e
agora, sem ruminações do passado nem previsões irrealistas do futuro que não
vão se concretizar. É a vida pela vida.
12. Sacadas criativas
No indivíduo dotado de equanimidade, as horas do dia cursam sem
pensamentos negativos; como resultado, ele se sente dotado de mais energia.
Além disso, a baixa produção de cortisol impede a fadiga, a redução da memória
e a fragilização do sistema imune de defesa interna. A meditação mindfulness é
acompanhada de maior disponibilidade da energia e age como uma barreira contra
a fadiga. E um de seus grandes efeitos é o surgimento de "Ahás!"
criativos. Um estudo publicado na Public Library of Science (PLoS One)
conclui que pessoas habituadas à meditação mindfulness libertam-se do
engessamento cognitivo, se tornam emocionalmente mais leves e mais criativas.
A meditação mindfulness, por breve que seja, cerca de 10 minutos – nos
mais afortunados duas vezes por dia, o que ocupa menos de 2% das horas do dia –
trará de volta o controle dos pensamentos e, no caminho dela, o mapa da
felicidade.
Martin Portner - Neurologista, Mestre em Neurociência pela Universidade
de Oxford e especialista em Mindfulness. Há mais de 30 anos divide suas
habilidades entre atendimentos clínicos e palestras, treinamentos e workshops sobre sabedoria, criatividade e mindfulness.
www.martinportner.com.br
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