terça-feira, 24 de maio de 2016

Dia Nacional de Combate ao Glaucoma: esperança para pacientes que precisam usar colírios diariamente







Um anel de silicone anel que libera a medicação no olho lentamente, ao longo de seis meses, pode ajudar a reduzir o risco de perda de visão entre pacientes com  glaucoma


Instituído pela Lei Nº 10.456/02, o Dia Nacional de Combate ao Glaucoma, dia 26 de maio, é uma data propícia às reflexões sobre esta doença, principalmente, em como ela afeta a qualidade de vida dos pacientes que são acometidos por este mal. Prevenir a cegueira ainda é um dos grandes desafios da Oftalmologia.

“No Brasil, ainda não existe a consciência da gravidade do glaucoma. É preciso apostar na promoção da visão, que consiste em repassar informações à população sobre os meios de evitar doenças ou a perda visual. O glaucoma faz parte de um grupo de doenças oculares que, gradualmente, ‘roubam a visão’, sem aviso prévio e, não raro, sem sintomas. A perda da visão é causada por dano no nervo óptico. Durante muito tempo, acreditou-se que a pressão intraocular (PIO) alta era a principal causa desse dano ao nervo óptico. Embora a pressão intraocular alta seja um fator de risco, atualmente, é sabido que outros fatores também devem ser levados em conta”, afirma o oftalmologista Virgílio Centurion (CRM-SP 13.454), diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.

O glaucoma é uma doença que apresenta desafios para o paciente e para o oftalmologista. Quando o glaucoma é tratado em seus estágios iniciais, a perda da visão pode ser prevenida.

“No entanto, os estudos mostram que mais da metade dos pacientes com glaucoma não aderem aos planos de tratamento prescritos devido a fatores que incluem dificuldades em aplicar colírios, falta de educação sobre a medicação e esquecimento. Muitos pacientes lutam diariamente para aderir ao tratamento do glaucoma, especialmente os que estão gerenciando outros problemas de saúde ao mesmo tempo. Mas, para cada dificuldade, há uma solução, que pode ser desenvolvida para cada paciente. Não tenha medo de perguntar ao oftalmologista tudo o que você precisa saber sobre o tratamento do glaucoma”, defende a especialista em glaucoma do IMO, a oftalmologista Márcia Lucia Marques (CRM-SP 110.583).

Um estudo, publicado no Archives of Ophthalmology – Impact of a Health Communication Intervention to Improve Glaucoma Treatment Adherence  destaca a ideia de que a adesão do paciente ao tratamento é realmente um grande desafio no caso do glaucoma. Nem mesmo quando recebem um telefonema diariamente, para lembrá-los da medicação, os pacientes com glaucoma se sentem motivados a participarem mais ativamente do tratamento. Um outro estudo, publicado no Journal of Glaucoma – Evaluating Eye Drop Instillation Technique in Glaucoma Patients revelou que 9 em cada 10 pacientes com glaucoma não são capazes de instilar o colírio corretamente,  o que pode ser uma importante causa da falta de adesão do paciente ao tratamento médico proposto.


Esperança para os pacientes com glaucoma

Diante de uma doença de manejo tão complexo, um novo dispositivo que libera lentamente a medicação diretamente na superfície ocular pode ser uma opção promissora para muitos pacientes com glaucoma que lutam com a administração diária de seus colírios.

“Uma nova pesquisa revela que um anel de silicone medicinal colocado sobre a superfície do olho reduziu a pressão intraocular  em pacientes com glaucoma em cerca de 20%, ao longo de seis meses. A primeira pesquisa publicada sobre esta tecnologia de administração contínua de drogas para glaucoma foi publicada on-line no Ophthalmology,   revista da Academia Americana de Oftalmologia”, diz a oftalmologista Márcia Lucia Marques.

Apesar da disponibilidade de terapias eficazes, o glaucoma continua a ser uma das principais causas de cegueira. Cerca de 3 milhões de pessoas nos Estados Unidos têm a condição. No Brasil, a doença atinge 2% dos brasileiros acima dos 40 anos (cerca de 1 milhão de pessoas).  Muitas vezes, a doença é caracterizada por pressão ocular interna elevada, chamada pressão intraocular. “Os colírios ministrados diariamente ou duas vezes por dia reduzem a pressão ocular interna para ajudar a prevenir danos no nervo óptico. Mas os estudos mostram que muitos pacientes não conseguem instilar o medicamento apropriadamente devido a fatores tais como o esquecimento ou limitações físicas, como a artrite. Alguns estudos mostram que metade dos pacientes param de usar os colírios prescritos para o glaucoma depois de um ano, deixando-os vulneráveis ​​à perda de  visão, diz a médica.

Diante desses desafios do manejo do glaucoma, os pesquisadores desenvolveram uma nova abordagem para instilação das drogas que tratam a doença. Uma tecnologia que envolve um anel de silicone fino que libera o medicamento para tratar a doença, lentamente, ao longo do tempo. Um oftalmologista encaixa o anel no olho do paciente. Não é necessária uma cirurgia. O anel foi concebido para ser substituído a cada seis meses. Isso elimina a necessidade dos pacientes com glaucoma instilarem regularmente no olho os medicamentos.

Oftalmologistas em 10 locais de todo os EUA testaram o anel em um ensaio clínico de fase 2 em pacientes com glaucoma ou hipertensão ocular. No estudo, 64 doentes receberam a inserção ocular tópica contendo a droga  bimatoprost para tratar o glaucoma. Eles também receberam lágrimas artificiais. O grupo controle de 66 pacientes usava uma inserção  semelhante, sem nenhuma droga, mas, duas vezes por dia,  utilizava 0,5% de  timolol, o marco regulatório para medicamentos de glaucoma. A pressão ocular no grupo do bimatoprost caiu de 3,2 a 6,4 mmHg, ao longo de seis meses, em comparação com 4,2 a 6,4 mmHg com o grupo do timolol. “No geral, a pressão ocular diminuiu cerca de 20%, a partir das medições iniciais, ao longo de seis meses, no grupo que usou  o anel bimatoprost”, afirma Márcia Marques.

Segundo os autores, o dispositivo era bem tolerado e seguro, com uma elevada taxa de retenção de 89% para ambos os grupos, em seis meses. O anel ficou desalojado em 15 pacientes, mas foi substituído, em todas as vezes, permitindo que a terapia pudesse ser contínua. Alguns doentes tiveram coceira e vermelhidão nos olhos, o que não é incomum para pacientes que usam medicação para glaucoma.

"Ao desenvolver tratamentos eficazes e fáceis para os pacientes, a esperança é que possamos reduzir a perda de visão  causada pelo glaucoma, e, possivelmente por outras doenças. O que é interessante é que este é apenas um dos vários métodos de instilação de medicamentos com liberação prolongada projetados para ajudar os pacientes que têm dificuldade para  instilar os colírios diariamente”, diz a oftalmologista do IMO.

Um estudo de fase 3 com um grupo maior de pacientes será iniciado ainda em 2016. Os autores notaram que o dispositivo também pode ser usado para medicamentos não-glaucomatosos, com potenciais aplicações para olho seco, alergias e inflamação. Além disso, a natureza não invasiva do dispositivo e a área de superfície relativamente grande torna esta tecnologia uma candidata potencial para a entrega de múltiplos medicamentos oculares de uma só vez, reduzindo ainda mais a carga da auto-administração em pacientes.



IMO, Instituto de Moléstias Oculares

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