segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Pacientes com câncer colorretal metastático permanecem sem acesso à droga que prolonga a vida com qualidade



·            Conitec nega a inclusão no SUS do cetuximabe, medicamento que poderia beneficiar mais de 6 mil pacientes em tratamento na rede pública
·            Estudos indicam sobrevida mediana de 33 meses[1]
·            Doença é o terceiro câncer mais prevalente no mundo, sendo o segundo entre as mulheres


No final do mês de outubro de 2015, o Ministério da Saúde, por meio da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec), negou o pedido de inclusão na rede pública do medicamento cetuximabe para tratamento do câncer colorretal metastático. A droga é um anticorpo monoclonal utilizado em todo o mundo para bloquear o crescimento das células tumorais de maneira precisa, preservando os tecidos saudáveis. Diversos estudos já comprovaram o benefício desse tratamento em pacientes com câncer colorretal metastático com gene RAS selvagem. Um deles, o estudo Fire-3, mostrou que pelo menos metade dos pacientes pode sobreviver por mais de 33 meses1. Já o estudo Crystal, mostrou que o tratamento com cetuximabe manteve a qualidade de vida dos pacientes[2]
Hoje, o câncer colorretal é o terceiro mais incidente na população brasileira: o segundo entre as mulheres e o terceiro entre os homens. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), os números de novos casos no Brasil devem superar 32 mil e as mortes devem chegar a 15 mil por conta do diagnóstico tardio ou falta de tratamento adequado. Apesar de ser uma das neoplasias malignas mais passíveis de cura, chegando a 90% para pacientes no estágio inicial[3], grande parte é diagnosticada em estágio avançado, por se tratar de uma doença silenciosa e sem incentivo à prevenção.
“Nossos pacientes precisam ter acesso a terapias inovadoras. Não podemos aceitar mais uma recusa à incorporação de um medicamento que pode dar ao paciente mais tempo e qualidade de vida”, reivindica Leoni Margarida Simm, presidente da Associação Brasileira de Portadores de Câncer (AMUCC). “Sabemos que mais de 12 mil pacientes com câncer colorretal em estágio metastático estão em tratamento pelo SUS. Metade deles poderia se beneficiar deste medicamento garantindo uma qualidade de vida e uma possível cura, o que hoje não corresponde à realidade. Os quimioterápicos agem somente de forma paliativa, o que impacta diretamente a qualidade de vida do paciente e de seus familiares”.
A terapia alvo com cetuximabe é indicada para o câncer colorretal metastático sem mutação do gene RAS nas células tumorais. A partir de um teste de biomarcadores genéticos, o médico identifica os pacientes que melhor respondem à terapia. As estimativas apontam que 47% dos pacientes dos pacientes metastáticos são elegíveis à droga[4]. O cetuximabe foi aprovado pela Anvisa em 2009, e é reembolsado pelos planos de saúde e utilizado em alguns centros públicos de referência no tratamento do câncer.
“É urgente que se discuta uma política pública para enfrentamento do câncer colorretal, já que se trata do terceiro mais incidente no mundo. Precisamos de campanhas de conscientização, de incentivo a uma alimentação mais saudável, rica em fibras, de rastreamento da doença e também de acesso aos tratamentos mais adequados”, argumenta Leoni.
Saiba mais sobre a doença
Os sintomas do câncer colorretal só aparecem quando o tumor já está mais desenvolvido. Sangramento nas fezes, alteração do hábito intestinal (diarreia e constipação alternados), necessidade frequente de ir ao banheiro, com sensação de evacuação incompleta, dor ou desconforto abdominal ou anal, fraqueza, anemia, sensação de gases ou distensão e perda de peso sem causa aparente são sinais de alerta.
Alimentação e hábitos de vida saudáveis ajudam na prevenção da doença. Dieta rica em fibras, frutas e vegetais frescos parecem ter efeito protetor sobre a doença enquanto que o consumo de gordura animal e de álcool são fatores de risco reconhecidos. A obesidade, o sedentarismo e o tabagismo, também estão ligados ao aparecimento do câncer de intestino. Pessoas com antecedentes familiares de pólipos benignos, câncer do intestino, retocolite ulcerativa, câncer de mama, ovário ou útero devem procurar um médico.
A prevenção é realizada com a pesquisa de sangue oculto nas fezes e a colonoscopia, exame que ajuda no diagnóstico e em alguns casos permite a remoção de pólipos, precursores do câncer do intestino.
Sobre a AMUCC
A Associação Brasileira de Portadores de Câncer (AMUCC), fundada em 2000, é uma organização da sociedade civil (OSCIP) constituída por voluntários, sobreviventes do câncer, cuidadores e simpatizantes da causa. Tem por missão de contribuir com o controle do câncer, diminuir o impacto da doença e empoderar o portador de câncer como indivíduo e ativista da causa.
A AMUCC dedica-se ao advocacy do câncer, desfazer mitos e estigmas sobre o câncer; garantir o acesso do paciente ao SUS (detecção precoce, diagnóstico e tratamento e cuidados paliativos) por meio de um sistema com porta de entrada definida, transparente e público; garantir tempestividade (no tempo certo) ao diagnóstico e tratamento; que os direitos dos portadores de câncer sejam cumpridos; o acesso a novas tecnologias (exames, medicamentos e procedimentos), com vistas à maior sobrevida livre de doença, qualidade de vida e, consequentemente, redução de custos para o Sistema; garantir ao paciente o acesso à informação.



[1] Heinemann V, Von weikersthal LF, Decker T, et al. FOLFIRI plus cetuximab versus FOLFIRI plus bevacizumab as first-line treatment for patients with metastatic colorectal cancer (FIRE-3): a randomised, open-label, phase 3 trial. Lancet Oncol. 2014;15(10):1065-75.
[2] Yamaguchi K, Ando M, Ooki A, et al. Quality of life analysis in patients with RAS wild-type metastatic colorectal cancer treated with first-line FOLFIRI + cetuximab in the CRYSTAL study. ECC 2015 (Abstract 2120).
[3] Ko C, Citrin D. Radiotherapy for the management of locally advanced squamous cell carcinoma of the head and neck. Oral Dis. 2009 Mar;15(2):121-32
[4] Sorich MJ, Wiese MD, Rowland A, et al. Extended RAS mutations and anti-EGFR monoclonal antibody survival benefit in metastatic colorectal cancer: a meta-analysis of randomized, controlled trials. Ann Oncol. 2015 Jan;26(1):13-21

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