Em suas primeiras palavras diante o parlamento brasileiro, a Presidente
da República, Dilma Rousseff, mais uma vez invoca a necessidade de uma reforma
previdenciária e que tal ocorrência há de ser construída no presente ano de
2016, usando, mais uma vez, a justificativa conhecida do ajuste fiscal e
estabilidade econômica, aliás, termos mais do que presentes dos últimos anos.
Sem sombra de dúvidas, essa reforma há muito se espera, aliás, tem sido
alvo de projetos governamentais nos estágios eleitorais, porém, de forma
completa, justa, igualitária e responsável, ela nunca saiu do papel.
Tivemos sim meras mini-reformas ou mudanças pontuais, com regras
confusas e negativamente inovadoras, criando novos pressupostos de jubilação,
sem uma técnica mais acurada.
No entanto, o recente discurso presidencial chama destacada atenção por
sua ousada perspectiva no tocante a reforma, já que em alto e bom som, apregoa
a necessidade de uma regra única tanto para homens quanto para mulheres, uma
idade mínima a todos, regras paritárias aos rurais, bem como as aposentadorias
dos servidores públicos.
Se vê então, ao contrário dos anos anteriores, que o discurso mudou, já
não mais anunciando a necessidade de restrições a bem das contas
previdenciárias, mas sim, mudar, para termos equilíbrio e justiça.
Evidente que o esforço deve ser geral, amplo e bem discutido na
sociedade para esse importante intento, contudo, há de se ressaltar que
biologicamente há diferenças entre trabalhadores homens e mulheres, diferenças
entre obreiros do campo e da cidade, divergências jurídicas entre celetistas e
os estatutários.
Assim, não seria essa a igualdade a ser observada, pois, no trato
previdenciário, existem diversas diferenças entre os sujeitos participantes,
bem como dos regimes previdenciários desses relacionados.
O discurso poderia ser sim de um compromisso amplo acerca de melhorias
na Previdência Social, o aprimoramento de sua estrutura, ampliação de sua
política de divulgação, novos concursos, novas agências, mais clareza de seus
produtos, qualificar a perícia médica, capacitar seus servidores, dialogar com
a sociedade seus rumos vindouros, enfim, planejar um novo sistema
previdenciário a base, sobretudo, da participação efetiva de seus envolvidos.
Esse o único modelo pensando na carta constitucional de 1988, que
projetou um sistema aberto, acessível e que abriga seus participantes de forma
efetiva e qualitativa, não podendo ser mais uma vez, massa de manobra para uma
não comprovada oscilação econômica.
De igual modo, a pretensa igualdade etária em determinados benefícios,
seja a homens e a mulheres, que tecnicamente deve ser bem explorado para que
notórias injustiças não ocorram.
Ademais, sabido que temos um país grandiosíssimo e continental, com
divergências culturais, econômicas e climáticas em toda a sua extensão, de modo
que uma regra única sem regionalização da discussão pode produzir nefastas
injustiças sociais.
Também, igualar o regime previdenciário dos servidores públicos com as
demais regras do regime geral, o que é extremamente incompatível por diversos
aspectos técnicos que prolongariam o vertente e modesto pensamento.
Enfim, a justiça de um modelo previdenciário está muito além de uma
discussão meramente de reforma da legislação, mas sim, dar relevo a todo o seu
contexto na sociedade através do diálogo institucional com seus destinatários,
que justificam a sua razão de existir.
Sérgio Henrique Salvador - Especialista em Direito Previdenciário pela EPD/SP e em Direito
Processual Civil pela PUC/SP. Ex-Presidente da Comissão de Assuntos
Previdenciários da 23ª Subseção da OAB/MG.
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