quinta-feira, 24 de setembro de 2015

FecomercioSP: Inflação pode ter rebaixado nível social de 1,2 milhão de famílias nos últimos 12 meses





Estimativas da Entidade apontam para um regresso de 90 mil famílias da classe B (renda até R$ 14.500,00) para a C; mais de 230 mil famílias teriam passado da classe C para a D; e quase 920 mil da D para a E 

 Impulsionadas pela expansão dos programas sociais, por maior acesso ao crédito e pelo crescimento real da renda, as classes populares alavancaram seu padrão de consumo e contribuíram para o expressivo crescimento do setor de comércio e serviços. Porém, o aumento da inflação e os juros altos, somados à dificuldade para conseguir novos empréstimos e ao aumento do desemprego colocaram em risco essa ascensão social das famílias brasileiras, sobretudo as de menor renda. Segundo uma simulação realizada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), mais de 1,2 milhão de famílias brasileiras teriam regredido socialmente nos últimos 12 meses.

O Custo de Vida por Classe Social (CVCS), calculado mensalmente pela FecomercioSP, mostra que as camadas mais pobres são exatamente as que estão sofrendo mais com a alta dos preços, concentrada em bens essenciais, como alimentos, transporte público e energia elétrica, cujo peso é maior no orçamento dessas famílias. No período de 12 meses - que compreende julho de 2014 a julho de 2015 -  o custo de vida médio do paulistano subiu 9,63%. As camadas mais pobres, ou a chamada "base da pirâmide", foram as mais afetadas, com elevação acima da média: a alta foi de 11,16% para as famílias de classe E; 11,26% para as famílias de classe D; 9,87% para a classe C; 8,82% para a classe B; e 8,73% para a classe A.

A Federação, por meio de simulações com base no padrão de consumo e no nível de renda familiar em todo o País, considerando a segmentação por classes sociais extraída da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) de 2008/2009 do IBGE, estimou que mais de 350 mil famílias teriam saído da classe D (renda mensal de até R$ 1.740,00) para a classe E (renda até R$ 1.160,00), e quase 20 mil da classe C (até R$ 8.700,00) para a classe D, justamente pelo fato de que o custo de vida das classes mais baixas subiu acima da média da capital paulista.

Ao considerar a queda em torno de 2,5% do rendimento médio real apontado na Pesquisa Mensal do Emprego do IBGE, a estimativa é de que 90 mil famílias teriam retrocedido da classe B (renda até R$ 14.500,00) para a C; mais de 230 mil famílias teriam passado da C para a D; e quase 920 mil da D para a E.

Segundo a Entidade, além da inflação e da queda do rendimento médio, demais fatores contribuem para o risco à ascensão social de milhões de famílias, como a redução significativa das linhas de crédito para a população de renda mais baixa, já excessivamente endividada; o aumento do desemprego e o recuo do aumento real dos salários, principalmente do salário mínimo. 

Problema estrutural
A Federação acredita que a dificuldade fiscal no País se caracteriza por fatores estruturais, e não conjunturais, e que não há mais espaço para o avanço da carga tributária, haja vista que o Brasil apresenta uma das mais altas tributações do Planeta. O ajuste deve ser integralmente feito sob a forma de redução do Estado, que hoje representa 40% do PIB.

Para a FecomercioSP, quando se aumentam os tributos de empresas, a tendência é de que os preços dos produtos se elevem e os níveis de investimentos e emprego decaiam. Caso isso ocorra, as famílias terão menos dinheiro disponível para consumo e poupança.

De acordo com os dados de PNAD e POF do IBGE, a Federação observou que, analisando as classes de forma agregada, apenas as famílias com renda superior a R$ 8.740,00 são capazes de consumir menos do que ganham e podem, portanto, poupar. São apenas 5,5 milhões, enquanto a maioria (56 milhões de famílias) tende a gastar mais do que ganha e, por isso, depende do crédito gerado pela poupança da minoria.

De acordo com a Entidade, o total da poupança das famílias, além de já ser relativamente baixo, vem diminuindo e tende a desaparecer se o governo avançar sobre os 5,5 milhões de famílias (cerca de 15 milhões de pessoas). Caso isso ocorra, ficará ainda mais escasso o crédito que até agora foi utilizado para respaldar a classe média e as camadas de menor renda.

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