quarta-feira, 17 de junho de 2015

Crianças relatam aumento da exploração e gravidez na adolescência durante epidemia do Ebola em Serra Leoa





Organizações humanitárias pedem que governo e doadores internacionais ouçam as vozes das crianças 

 
De acordo com o relatório Children's Ebola Recovery Assessment (Avaliação da Recuperação Infantil ao Ebola) lançado hoje (17/06) pelas organizações humanitárias Plan International, Save the Children e Visão Mundial, com apoio do UNICEF, crianças em toda a Serra Leoa relatam que a exploração e a violência contra meninas aumentou durante a epidemia de Ebola no último ano, resultando no aumento de casos de gravidez na adolescência. Mais de 1100 meninas e meninos de nove distritos, com idade entre 7 e 18 anos, foram ouvidos para saber do impacto do Ebola em suas vidas. Em Serra Leoa, mais de 3500 pessoas morreram durante a epidemia.

As crianças relataram suas experiências pessoais e preocupações sobre os efeitos devastadores da epidemia do Ebola. O estudo foi realizado para que as crianças possam contribuir com seus comentários, colaborando com recomendações ao governo à estratégia nacional de recuperação do Ebola em Serra Leoa. As escolas do País ficaram nove meses fechadas, fator diretamente ligado ao aumento no trabalho infantil e na exploração, a exposição à violência no lar, na comunidade e a gravidez na adolescência.

A maioria das 617 meninas entrevistadas disse acreditar que as incidências mais elevadas de gravidez na adolescência em suas comunidades, são resultado da falta de um ambiente seguro como a sala de aula, expondo-as ao risco de exploração sexual e outros tipos de agressão. Somente em 14 de abril as salas de aula foram reabertas em Serra Leoa, depois de um longo período fechadas para prevenir a propagação do Ebola, atrasando o ensino de 1,7 milhões de crianças.

Algumas crianças (10 por cento dos participantes na discussão de grupo focal) relataram que as meninas mais vulneráveis em suas comunidades, especialmente aquelas que perderam parentes para Ebola, estão sendo forçadas a se prostituir para cobrir suas necessidades básicas diárias, incluindo alimentação. As crianças viram isso como um dos vários fatores que contribuíram ao aumento de gravidez na adolescência.

O medo de agressão sexual também foi comum entre as crianças entrevistadas. Um grande número falou de pelo menos um caso de estupro contra uma menina em suas comunidades, incluindo ataques em casas em quarentena, fato relatado principalmente por meninas com idades entre 15 e 18 anos. As meninas mais jovens também têm suas preocupações sobre estupro. Os meninos estão bastante conscientes do risco enfrentado por suas irmãs e amigos. "Alguns de nossos amigos são estuprados quando vão longe para pegar água, alguns são afogados nos rios", disse um jovem rapaz de Kailahun.

As crianças também se demonstraram preocupadas com os danos causados pela violência do estupro, incluindo problemas psicológicos, gravidez, doenças sexualmente transmissíveis, lesões corporais ou morte, discriminação e estigma. "Este relatório confirma o impacto do Ebola na vida das crianças e como elas precisam de mais tempo para se recuperar. O impacto sobre elas têm sido enorme", disse Casely Coleman, diretor nacional da Plan International em Serra Leoa.

As crianças que participaram da avaliação sugeriram medidas para prevenir a gravidez na adolescência, e também recomendaram ações para não surgirem novos casos de Ebola. Entre elas está a reconstrução de serviços de saúde e espaços para alimentação, dinheiro e a solução para a falta de meios de sustento agravados pela crise Ebola. Muitas famílias perderam seu trabalho durante a crise e podem não ter mais recursos para mandar seus filhos para a escola.

As três organizações humanitárias pedem que governo e doadores internacionais ouçam as vozes das crianças, e suas preocupações para que Serra Leoa volte à normalidade. "As crianças compartilharam, histórias de oportunidades perdidas, a exploração e abuso", disse Isaac Ooko, diretor da Save the Children em Serra Leoa. "Para esta estratégia de recuperação ser bem sucedida, as necessidades das crianças devem ser consideradas. Isto significa assegurar que todas elas tenham acesso à educação e ajuda para se recuperar de um ano de ensino perdido".

Quase metade da população de Serra Leoa tem menos de 18 anos. "Neste relatório, as crianças afirmam claramente que a educação, o acesso aos cuidados de saúde e um ambiente seguro para crescer são suas prioridades. Nós os ouvimos e agora temos que agir", disse Leslie Scott, diretor nacional da Visão Mundial Serra Leoa

Os participantes do relatório recomendam ao Governo da Serra Leoa:

1. Adotar medidas eficazes para acabar com o Ebola rapidamente para uma plena fase de recuperação.

2. Garantir que a educação seja acessível para todas as crianças, incluindo os subsídios de taxas escolares e bolsas de estudo para aqueles que perderam parentes, especialmente os órfãos.

3. Fortalecer o sistema de saúde, fornecendo pessoal qualificado suplementar, especialmente para clínicas rurais que foram abandonadas pelo medo do Ebola.

4. Parar o trabalho infantil e exploração e, assim, reduzir a gravidez na adolescência - sensibilizando os pais e fornecendo meios de subsistência para as famílias pobres, a fim de proteger as meninas da prostituição.

Sobre a Plan
A Plan International é uma organização não-governamental de origem inglesa ativa há 76 anos e presente em 70 países. No Brasil desde 1997, a Plan possui, hoje, mais de 20 projetos que atendem, aproximadamente, 75 mil crianças e adolescentes. Sem qualquer vinculação política ou religiosa e sem fins lucrativos, está voltada para a defesa dos direitos da infância, conforme expressos na Convenção dos Direitos da Criança, da Organização das Nações Unidas. Assim sendo, a organização trabalha em prol da proteção e contra a violência e abusos de todo tipo, contra a pobreza, a desigualdade e a degradação do meio ambiente e por uma boa alimentação, saúde e educação. A Plan parte do princípio de que assegurar o direito de crianças e adolescentes é um dever e não uma escolha. Para isso, capacita as comunidades a fazer valer esses direitos. Mais informações sobre a Plan Brasil em www.plan.org.br.



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